Facebook como difusor das notícias (Leitura do almoço)

28/05/2015 at 13:07 (*Liberdade e Diversidade)

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gersonGerson Luiz Mello Martins*

28/05/2015

O Facebook fechou parceria com alguns dos principais jornais no mundo, como o New York Times, para fazer a difusão das notícias. Esse acordo é decorrente de pesquisas que indicam que a maioria das pessoas, hoje, lê notícias por meio das redes sociais, principalmente o Facebook. O acordo recebeu críticas de um lado, e de outro uma concordância como um modelo de negócios para que o jornalismo na internet, o ciberjornalismo, tenha lucratividade. O Facebook como principal plataforma de rede social agrega e contabiliza milhões de pessoas e, consequentemente, garante receita publicitária. Não aparecerão todas as notícias: se fará uma seleção que, de comum acordo entre as partes e com base na análise da audiência, será publicado na rede social, como a postagem de um amigo, e o que é pior, sem necessariamente um link para a fonte original da notícia.

Os críticos afirmam, e com razão, que a fórmula retira dos cibermeios sua capacidade de atração, de interesse para a leitura das notícias. Por mais que as pessoas, em número expressivo, leiam notícias por meio de redes sociais, essa leitura é superficial e não explora as potencialidades do cibermeio. Do lado dos jornais, esse formato é uma maneira de garantir uma receita “fixa”, sem a instabilidade do acesso direto ao cibermeio. As instituições, empresas e agências de publicidade em geral ainda não colocam a internet como mídia principal de inversão publicitária, mesmo que os números da audiência indiquem um crescimento geométrico do acesso à internet.

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Este foi o assunto que dominou cientistas do jornalismo, empresários e jornalistas nos últimos dias. Grandes jornais no mundo praticamente colocam nas mãos do Facebook o poder de acesso à sua produção. Os números da audiência que apontam o Facebook como principal difusor, como canal de acesso às notícias, colocam um ponto a mais no complicado processo para descobrir qual o modelo de negócios, em jornalismo, rentável na internet.

É notório, de outro lado, que o Facebook, apesar de números expressivos de audiência, tem um declínio nos últimos anos. Também é fato que muitas pessoas, aos poucos, colocam o Facebook como segunda, terceira, e até quarta opção de informação cotidiana. Isso acontece porque a profusão de informações veiculadas, a maioria sem relevância, literalmente “ensurdecem” ou “cegam” o consumidor de informações. A chamada “time line” (linha do tempo) da plataforma propaga muita informação sem interesse, publicitária e, principalmente, falsa.

Assim, não será o Facebook uma plataforma temporária? Não estará ele a perder o interesse das pessoas? O ritmo de desenvolvimento do Facebook, mesmo com atualizações praticamente toda a semana, não consegue alcançar as novas possibilidades da internet. Existem inúmeras outras plataformas de redes sociais com recursos mais intuitivos e completos, mas ainda pouco difundidas. O que mantém a plataforma é sua base de usuários, que aos poucos sofre um decréscimo. É o que acontece com o WhatsApp. Há outras semelhantes e com mais possibilidades, contudo, o WhatsApp é o mais usado porque a maioria usa e fica mais fácil encontrar as pessoas ali.

Se o Facebook está com os dias contados, o investimento jornalístico das empresas que aderiram ao acordo também. De qualquer forma, é uma nova maneira, ensandecida, para obter lucro com jornalismo na internet antes que o modelo em papel, impresso, desapareça. Segundo o jornal espanhol El País, em outubro do ano passado, David Carr, reconhecido analista de comunicação e ex-colunista do New York Times, falou sobre sua sensação diante no Facebook. “Para os meios é como um cachorro que vem correndo até você no parque. Num instante, não se sabe se quer te morder ou brincar contigo”.

*Jornalista e pesquisador do Ciberjor e PPGCOM-UFMS

Email: gerson.martins@ufms.br

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