REVOLTA DE CANUDOS NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1893-1897) (Leitura da noite)

25/05/2015 at 19:41 (*Liberdade e Diversidade)

canudos(O PRELÚDIO REPUBLICANO, ASTÚCIAS DA ORDEM E ILUSÕES DO PROGRESSO)

carlos fredericoCarlos Frederico Corrêa da Costa*

As autoridades republicanas foram alertadas sobre a existência do povoado de Canudos, no sertão da Bahia, no ano de 1893, pois até então ele nem sequer constava dos mapas oficiais.

Os dirigentes do Rio de Janeiro receberam a queixa das autoridades baianas, relativas a um núcleo de “fanáticos religiosos”, comandados “por um indivíduo Antônio Vicente Mendes Maciel (Antônio Conselheiro), que pregando doutrinas subversivas fazia grande mal à religião e ao Estado, distraindo o povo e arrastando-o após si, procurando convencer de que era o Espírito Santo, insurgindo-se contra as autoridades construídas, às quais não obedecia e manda desobedecer”.

Inicialmente foi enviada uma força policial para submeter os rebeldes, a qual foi destroçada antes de chegar ao povoado. Em seguida foram enviados dois destacamentos do exército, igualmente batidos pelos amotinados. Por fim foi enviada do próprio Rio de Janeiro uma expedição militar fortemente armada, com artilharia pesada e equipamentos modernos, comandada pelo auxiliar direto do marechal Floriano Peixoto (Presidente da República), o general Moreira César, positivista obstinado, notório pelo entusiasmo sanguinário com que suprimia grupos rebeldes. Para espanto geral, não só a expedição foi totalmente desbaratada, como o general Moreira César foi abatido pelo fogo inimigo.

Pânico geral! A única maneira de justificar a catástrofe foi atribuir aos revoltosos a imagem de conspiradores monarquistas, decididos a derrubar o novo regime, organizados e fortemente armados a partir do exterior por líderes expatriados do regime imperial. Aniquilá-los por completo era, portanto, uma questão de vida ou morte para a jovem República.

Nesse espírito foi armada a quarta expedição, composta de duas divisões completas do exército, que partiram do Rio de Janeiro com o mais concentrado poder destrutivo reunido desde a Guerra do Paraguai. Depois de inúmeras refregas, em que correram sérios riscos de ser destruídas antes de chegar ao arraial rebelde, as tropas afinal conseguiram cercá-lo, submetendo-o ao mais intenso assédio, sob fogo cerrado de armas de repetição e artilharia. Como quem fosse feito prisioneiro pelos soldados era imediatamente degolado, os sobreviventes resistiram até o fim.

Na incapacidade de impor uma vitória militar, os oficiais decidiram verter barris de querosene sobre os casebres de pau e palha, queimando vivos os moradores remanescentes e os últimos combatentes, reduzindo a cidade de Canudos a cinzas. O assalto final se deu com as tropas investindo contra uma única trincheira, onde dois homens e uma criança lutaram até a morte.

O êxito desta 4ª expedição se deveu muito ao Marechal Carlos Machado Bitencourt, que como Ministro da Guerra se dirigiu pessoalmente a área de combate e verificou que o maior problema para vencer os rebeldes era a falta de munição de boca e de guerra, e organizando esta logística mudou o resultado da guerra. Pelos seus feitos como oficial de logística. O Marechal Bitencourt tornou-se o Patrono do Serviço de Intendência do exército brasileiro.

Dessa última expedição participou como correspondente de guerra do jornal O Estado de São Paulo o jovem escritor positivista Euclides da Cunha, capitão formado engenheiro na Escola Militar da Praia Vermelha no Rio de Janeiro. Na formação militar da época, todos os oficiais eram também doutores e assinavam “Doutor Fulano de Tal- Tenente, Capitão, etc.

No próximo artigo, na narrativa de Euclides da Cunha, que escreveu em 1902 o livro Os sertões, conheceremos mais este episódio que é uma das peças centrais para entender as tensões que assinalam a cultura brasileira no século XX.

Referência Bibliográfica

COSTA, Carlos Frederico Corrêa da (pela transcrição e adaptação) de: SEVCENKO, Nicolau. Introdução. O prelúdio republicano…  In: NOVAIS, Fernando A. (org.), História da vida privada no Brasil 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 16-18.

*Carlos Frederico Corrêa da Costa é doutor em História Social pela USP-SP, historiador de empresas, famílias e biografias. Professor aposentado da Graduação, Pós-Graduação e Pesquisador do Departamento de História, campus de Aquidauana/UFMS.

E-mail: cfccosta@terra.com.br

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