Marcha pela liberdade reúne um milhão e meio de pessoas em Paris

11/01/2015 at 15:59 (*Liberdade e Diversidade)

marcha 1Multidão toma conta das ruas de Paris 

Vários líderes mundiais compareceram à manifestação, liderada por François Hollande

11/01/2015

Jornal do Brasil

Cerca de um milhão e meio de pessoas participaram da marcha pela liberdade, e contra o terror, na capital francesa, neste domingo (11). Líderes de vários países europeus e de outras partes do mundo participaram do ato nas ruas de Paris, após a convocação feita pelo presidente francês, François Hollande.

Familiares das vítimas dos atentados terroristas contra a revista satírica Charlie Hebdo e a um supermercado judaico, nos quais morreram 16 pessoas, lideraram a marcha. O lema “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”) predominou nos cartazes exibidos pelos manifestantes.

Outro adesivo bastante presente no ato dizia: “Todos unidos: ateus, cristãos, judeus e muçulmanos contra o fanatismo”. Bandeiras de países como Argélia, Palestina e Turquia também marcaram presença. O lápis, representando o apoio à equipe do “Charlie Hebdo”, é um dos principais símbolos da marcha.

marcha 2O lápis, representando o apoio à equipe do “Charlie Hebdo”, é um dos principais símbolos da marcha

Também não faltaram cartazes pedindo a paz no mundo.

marcha 3Faixa estendida durante a marcha lembrou a música de John Lennon “Imagine”

Os manifestantes tiveram que esperar para começar a caminhada, pois o presidente francês, François Hollande, e os dirigentes mundiais que foram a Paris participar do evento, que saíram de ônibus do palácio presidencial, chegaram um pouco atrasados.

Cerca de 2,2 mil policiais e soldados patrulhavam as ruas de Paris para proteger os manifestantes de eventuais ataques, com atiradores de elite da polícia sobre os telhados e detetives à paisana misturando-se com a multidão. Esgotos da cidade foram revistados antes do evento e estações de trem em todo o percurso ficaram fechadas

A marcha, que estava marcada para começar às 12h (horário de Brasília) foi feita em silêncio, numa demonstração de solidariedade e também do profundo choque diante do pior ataque islâmico em uma cidade europeia em nove anos.

Entre os líderes presentes no evento estavam a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, os primeiros-ministros de Reino Unido (David Cameron), Itália (Matteo Renzi), Espanha (Mariano Rajoy) e Israel (Benjamin Netanyahu), o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e muitos outros.

marcha 4Chanceler alemã, Angela Merkel, foi uma das líderes mundiais presentes à marcha

Até mesmo o ex-presidente francês Nikolas Sarkozy, rival de Hollande, se juntou às personalidades políticas com sua mulher, Carla Bruni. “Os nossos valores são mais fortes do que as ameaças deles. Estamos aqui para dizer que não vamos parar, não vamos ficar imobilizados pelo terror e pelo medo. De Paris deve partir uma mensagem de dor e proximidade, mas também de retomada e futuro”, declarou Renzi, acrescentando que é preciso afirmar valores maiores que o horror.

Após a caminhada, o presidente francês François Hollande fez questão de abraçar e conversar com os familiares das vítimas dos ataques. Os chefes de Estado e de Governo cercaram o presidente francês para fazer um minuto de silêncio, e depois Hollande se aproximou do grupo de parentes das vítimas dos jihadistas mortos pelas forças de ordem. Ele conversou e abraçou os presentes em uma cena que comoveu a multidão.

“Vai ser uma manifestação sem precedentes, que será escrito nos livros de história”, disse o primeiro-ministro Manuel Valls antes do início da marcha. “É preciso mostrar o poder e a dignidade do povo francês, que vai clamar seu amor pela liberdade e pela tolerância”, acrescentou.

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Mergulhadores encontram caixa-preta de avião da AirAsia

11/01/2015 at 15:27 (*Liberdade e Diversidade)

airasia-caixa preta

Mergulhadores encontraram caixa-preta do Airbus da AirAsia que desapareceu em dezembro no Mar de Java (Airbus/Direitos Reservados)

11/01/2015

Jacarta e Bangkok

Da Agência Brasil* Edição: Talita Cavalcante

Mergulhadores encontraram hoje (11) a caixa-preta do Airbus da AirAsia que desapareceu em dezembro no Mar de Java com 162 pessoas a bordo. O anúncio foi feito pelo Ministério dos Transportes da Indonésia.

O equipamento está preso em destroços do avião e não pôde ser recuperado. Hoje mais cedo, uma equipe de resgate localizou sinais da caixa-preta a aproximadamente 30 metros de profundidade e cerca de 4 quilômetros de onde a aeronave caiu. O equipamento registra as conversas e dados do voo.

As equipes de busca procuram também o a parte principal do avião onde acreditam estarem presos diversos corpos de passageiros. Até agora 48 foram resgatados. O avião ia de Surabaia, na Indonésia, para Cingapura no dia 28 de dezembro e caiu 40 minutos depois no Mar de Java. Ontem (10) a cauda do avião foi retirada do mar.

*Com informações da Agência Lusa

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Líderes mundiais e multidão marcham em Paris contra o terror

11/01/2015 at 12:40 (*Liberdade e Diversidade)

parismanifestacaoreuters06parismanifestacaoap02Milhares de pessoas ocupam a Praça da República em Paris para a Marcha pela Unidade

Foto: Reuters

Dezenas de milhares de pessoas, entre elas líderes de todo o mundo, marcham nas ruas de Paris em uma manifestação em defesa da liberdade de expressão e contra o terrorismo. Lideram a manifestação os familiares das vítimas dos atentados terroristas desta semana contra a revista “Charlie Hebdo” e do supermercado kosher, nos quais morreram 16 pessoas junto da policial municipal assassinada também na quinta-feira.

11/01/2015

Terra

Veja cronologia dos 3 dias que deixaram Paris em colapso

O lema “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”) domina os cartazes exibidos pelos manifestantes que estão no percurso entre a praça da República e a praça da Nação, no leste da capital.

Um enorme dispositivo de segurança zela pela proteção dos presentes e dos quase 50 chefes de Estado e de governo que se reuniram em Paris para rejeitar a intolerância dos terroristas e defender os “valores republicanos”.

Dezenas de líderes mundiais, inclusive estadistas muçulmanos, estão em Paris neste domingo para se juntar a centenas de milhares de cidadãos franceses em uma marcha em homenagem às vítimas de ataques de militantes islâmicos ocorridos há poucos dias.

manfestação paris - video

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Pessoas se reúnem na praça da República para marcha em Paris

Os manifestantes tiveram que esperar para começar a caminhada, pois o presidente francês, François Hollande, e os dirigentes mundiais que foram a Paris participar do evento, que saíram de ônibus do palácio presidencial, chegaram um pouco atrasados.

Cerca de 2,2 mil policiais e soldados patrulhavam ruas de Paris para proteger os manifestantes de eventuais ataques, com atiradores de elite da polícia sobre os telhados e detetives à paisana misturando-se com a multidão. Esgotos da cidade foram revistados antes do evento e estações de trem em todo o percurso deverão ser fechadas

A marcha, que estava marcada para começar às 12h (horário de Brasília) é feita em silêncio, é uma demonstração de solidariedade e também reflete o profundo choque sentido na França e em todo o mundo diante do pior ataque islâmico em uma cidade europeia em nove anos.

A chanceler alemã, Angela Merkel, os primeiros-ministros David Cameron (Grã-Bretanha), Matteo Renzi (Itália) e Benjamin Netanyahu (Israel), estão entre os presente.

A presidente Dilma Rousseff solicitou ao embaixador do Brasil, José Bustani, que a represente no evento.

“Vai ser uma manifestação sem precedentes, que será escrito nos livros de história”, disse o primeiro-ministro Manuel Valls. “É preciso mostrar o poder e a dignidade do povo francês, que vai clamar seu amor pela liberdade e pela tolerância”, disse ele.

Cidadãos também mostravam sentimento de coragem. “Eu estou aqui para mostrar aos terroristas que ainda não ganharam. Pelo contrário, para aproximar pessoas de todas as religiões”, disse Zakaria Moumni, um franco-marroquino de 34 anos que estava coberto pela bandeira francesa.

Loris Peres, 12 anos, com sua mãe e irmão, disse: “Para mim, isso é como mostrar o respeito aos seus entes queridos, como se fossem da família… Nós fizemos uma lição sobre isso na escola.”

Durante a madrugada, o edifício do jornal alemão Hamburger Morgenpost foi alvo de um incêndio criminoso e dois suspeitos foram presos. Como muitos outros jornais alemães, o Hamburger Morgenpost publicou charges do jornal francês Charlie Hebdo depois do ataque mortal na quarta-feira em Paris.

Enquanto isso, fontes turcas e francesas disseram que uma mulher procurada pela polícia francesa como suspeita dos ataques teria deixado a França vários dias antes dos assassinatos. Acredita-se que ela esteja na Síria.

A polícia francesa começou em uma busca intensiva para capturar Hayat Boumeddiene, de 26 anos, parceira de um dos atacantes, descrevendo-a como “armada e perigosa”.

(Com informações das agências Efe e Reuters)

Franceses e líderes mundiais participam de ato em Paris

parismanifestacaoap02Milhares de pessoas se reúnem na Praça da República em Paris, para participar da manifestação em homenagem às vítimas dos ataques terroristas à capital francesa

Foto: AP

Atentados, assassinatos, sequestros e perseguições em Paris

A sede da revista Charlie Hebdo, em Paris, foi alvo de um ataque que matou 12 pessoas no dia 7 deste mês. De acordo com testemunhas, dois homens encapuzados invadiram a redação armados de fuzis e, enquanto atiravam nas pessoas que trabalhavam no local, gritaram “vamos vingar o profeta” e Allah akbar (Alá é grande). O semanário já havia sofrido diversas ameaças por publicar charges e caricaturas da figura religiosa de Maomé.

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Je suis Laurent: sobrevivente da revista descreve atentado

O atentado causou comoção no mundo todo. Manifestações foram organizadas com cartazes escritos “je suis Charlie” (Sou Charlie) e mãos empunhando lápis, o material de trabalho dos quatro cartunistas mortos no episódio.

Cidades da França entraram em alerta máximo para ataque terrorista e 88 mil homens das forças de segurança iniciaram uma caçada aos envolvidos no atentado. Nove pessoas foram presas no dia seguinte. Os irmãos nascidos em Paris e de pais argelinos Cherif Kuachi, 32 anos, e Said Kuachi, de 34, foram identificados como os autores dos disparos. O primeiro já havia sido condenado, em 2008, por ter atuado num grupo que enviava jihadistas ao Iraque.

Nesta sexta-feira (9), a polícia fechou o cerco após os dois irmãos, que estavam foragidos, roubarem um carro e invadirem uma fábrica na cidade de Dammartin-en-Goële, ao norte de Paris, onde mantiveram um refém. Ao mesmo tempo, no leste de Paris, o casal Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly matou três pessoas em um mercado judaico e fez outras dez reféns. Coulibaly, que conheceria um dos irmãos Kuachi, foi identificado pela polícia como o autor dos disparos que mataram uma policial na periferia de Paris no dia anterior.

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Testemunha francesa relata encontro com suspeito de ataques

Após horas de negociações, ambos os lugares foram invadidos pela polícia. Em Dammartin-en-Goële, os irmãos foram mortos e o refém liberado. No mercado, um sequestrador foi morto, assim como um refém, e a outra terrorista permanece foragida.

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Veja momento em que polícia invade mercado em Paris

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Eu não sou Charlie, je ne suis pas Charlie

11/01/2015 at 10:45 (*Liberdade e Diversidade)

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Leonardo BoffLeonardo Boff

Há muita confusão acerca do atentado terrorista em Paris, matando vários cartunistas. Quase só se ouve um lado e não se buscam as raízes mais profundas deste fato condenável, mas que exige uma interpretação que englobe seus vários aspectos ocultados pela mídia internacional e pela comoção legítima em face de um ato criminoso.

Mas ele é uma resposta a algo que ofendia milhares de fiéis muçulmanos. Evidentemente não se responde com o assassinato. Mas também não se devem criar as condições psicológicas e políticas que levem a alguns radicais a lançarem mão de meios reprováveis sob todos os aspectos. Publico aqui um texto de um padre que é teólogo e historiador e conhece bem a situação da França atual. Ele nos fornece dados que muitos talvez não os conheçam. Suas reflexões nos ajudam a ver a complexidade deste anti-fenômeno com suas aplicações também à situação no Brasil: Leonardo Boff.

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Nos envios anteriores este artigo saiu sem o nome do autor, por distração minha. Vinha num e-mail quatremains@uol.com.br e era atribuido ao Pe. Antonio Piber. Posteriormente coloquei o nome do Pe. Antonio Piber. Por fim vim a saber que o verdadeiro autor é o jornalista Rafo Saldanha. Encontra-se no seu blog:

emtomdemimi.blogspot.com.br/2015/01 je-ne-suis-pas-charlie.html

Aqui vai o texto original sem os acréscimos feitos pelo Pe. Antonio Piber.  Havia duas charges do Charlie Hebdo que não puderam aparecer neste meu texto. Mas podem ser vistas no referido blog. Peço a compreensão de todos: Leonardo Boff

El Rafo Saldanha

Autor: Rafo Saldanha (jornalista)

Eu condeno os atentados em Paris, condeno todos os atentados e toda a violência, apesar de muitas vezes xingar e esbravejar no meio de discussões, sou da paz e me esforço para ter auto controle sobre minhas emoções…

Lembro da frase de John Donne: “A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”. Não acho que nenhum dos cartunistas “mereceu” levar um tiro, ninguém o merece, acredito na mudança, na evolução, na conversão. Em momento nenhum, eu quis que os cartunistas da Charlie Hebdo morressem. Mas eu queria que eles evoluíssem, que mudassem… Ainda estou constrangido pelos atentados à verdade, à boa imprensa, à honestidade, que a revista Veja, a Globo e outros veículos da imprensa brasileira promoveram nesta última eleição.

A Charlie Hebdo é uma revista importante na França, fundada em 1970, é mais ou menos o que foi o Pasquim. Isso lá na França. 90% do mundo (eu inclusive) só foi conhecer a Charlie Hebdo em 2006, e já de forma bastante negativa: a revista republicou as charges do jornal dinamarquês Jyllands-Posten (identificado como “Liberal-Conservador”, ou seja, a direita europeia). E porque fez isso? Oficialmente, em nome da “Liberdade de Expressão”, mas tem mais…

O editor da revista na época era Philippe Val. O mesmo que escreveu um texto em 2000 chamando os palestinos (sim! O povo todo) de “não-civilizados” (o que gerou críticas da colega de revista Mona Chollet (críticas que foram resolvidas com a demissão sumária dela). Ele ficou no comando até 2009, quando foi substituído por Stéphane Charbonnier, conhecido só como Charb. Foi sob o comando dele que a revista intensificou suas charges relacionadas ao Islã, ainda mais após o atentado que a revista sofreu em 2011…

A França tem 6,2 milhões de muçulmanos. São, na maioria, imigrantes das ex-colônias francesas. Esses muçulmanos não estão inseridos igualmente na sociedade francesa. A grande maioria é pobre, legada à condição de “cidadão de segunda classe”, vítimas de preconceitos e exclusões. Após os atentados do World Trade Center, a situação piorou.

Alguns chamam os cartunistas mortos de “heróis” ou de os “gigantes do humor politicamente incorreto”, outros muitos os chamam de “mártires da liberdade de expressão”. Vou colocar na conta do momento, da emoção. As charges polêmicas do Charlie Hebdo, como os comentários políticos de colunistas da Veja, são de péssimo gosto, mas isso não está em questão. O fato é que elas são perigosas, criminosas até, por dois motivos.

O primeiro é a intolerância. Na religião muçulmana, há um princípio que diz que o Profeta Maomé não pode ser retratado, de forma alguma. Esse é um preceito central da crença Islâmica, e desrespeitar isso desrespeita todos os muçulmanos. Fazendo um paralelo, é como se um pastor evangélico chutasse a imagem de Nossa Senhora para atacar os católicos…
Qual é o objetivo disso? O próprio Charb falou: “É preciso que o Islã esteja tão banalizado quanto o catolicismo”. “É preciso” por quê? Para que?

Note que ele não está falando em atacar alguns indivíduos radicais, alguns pontos específicos da doutrina islâmica, ou o fanatismo religioso. O alvo é o Islã, por si só. Há décadas os culturalistas já falavam da tentativa de impor os valores ocidentais ao mundo todo. Atacar a cultura alheia sempre é um ato imperialista. Na época das primeiras publicações, diversas associações islâmicas se sentiram ofendidas e decidiram processar a revista. Os tribunais franceses, famosos há mais de um século pela xenofobia e intolerância (ver Caso Dreyfus), como o STF no Brasil, que foi parcial nas decisões nas últimas eleições e no julgar com dois pesos e duas medidas caos de corrupção de políticos do PSDB ou do PT, deram ganho de causa para a revista.

Foi como um incentivo. E a Charlie Hebdo abraçou esse incentivo e intensificou as charges e textos contra o Islã e contra o cristianismo, se tem dúvidas, procure no Google e veja as publicações que eles fazem, não tenho coragem de publicá-las aqui…

Mas existe outro problema, ainda mais grave. A maneira como o jornal retratava os muçulmanos era sempre ofensiva. Os adeptos do Islã sempre estavam caracterizados por suas roupas típicas e sempre portando armas ou fazendo alusões à violência, com trocadilhos infames com “matar” e “explodir”…).

Alguns argumentam que o alvo era somente “os indivíduos radicais”, mas a partir do momento que somente esses indivíduos são mostrados, cria-se uma generalização. Nem sempre existe um signo claro que indique que aquele muçulmano é um desviante, já que na maioria dos casos é só o desviante que aparece. É como se fizéssemos no Brasil uma charge de um negro assaltante e disséssemos que ela não critica/estereotipa os negros, somente aqueles negros que assaltam…

E aí colocamos esse tipo de mensagem na sociedade francesa, com seus 10% de muçulmanos já marginalizados. O poeta satírico francês Jean de Santeul cunhou a frase: “Castigat ridendo mores” (costumes são corrigidos rindo-se deles). A piada tem esse poder. Mas piada são sempre preconceituosas, ela transmite e alimenta o preconceito. Se ela sempre retrata o árabe como terrorista, as pessoas começam a acreditar que todo árabe é terrorista. Se esse árabe terrorista dos quadrinhos se veste exatamente da mesma forma que seu vizinho muçulmano, a relação de identificação-projeção é criada mesmo que inconscientemente.

Os quadrinhos, capas e textos da Charlie Hebdo promoviam a Islamofobia. Como toda população marginalizada, os muçulmanos franceses são alvo de ataques de grupos de extrema-direita. Esses ataques matam pessoas. Falar que “Com uma caneta eu não degolo ninguém”, como disse Charb, é hipócrita. Com uma caneta se prega o ódio que mata pessoas…

Uma das defesas comuns ao estilo do Charlie Hebdo é dizer que eles também criticavam católicos e judeus…
Se as outras religiões não reagiram à ofensa, isso é um problema delas. Ninguém é obrigado a ser ofendido calado.

“Mas isso é motivo para matarem os caras!?”. Não. Claro que não. Ninguém em sã consciência apoia os atentados. Os três atiradores representam o que há de pior na humanidade: gente incapaz de dialogar. Mas é fato que o atentado poderia ter sido evitado. Bastava que a justiça tivesse punido a Charlie Hebdo no primeiro excesso, assim como deveria/deve punir a Veja por suas mentiras. Traçasse uma linha dizendo: “Desse ponto vocês não devem passar”.

“Mas isso é censura”, alguém argumentará. E eu direi, sim, é censura. Um dos significados da palavra “Censura” é repreender. A censura já existe. Quando se decide que você não pode sair simplesmente inventando histórias caluniosas sobre outra pessoa, isso é censura. Quando se diz que determinados discursos fomentam o ódio e por isso devem ser evitados, como o racismo ou a homofobia, isso é censura. Ou mesmo situações mais banais: quando dizem que você não pode usar determinado personagem porque ele é propriedade de outra pessoa, isso também é censura. Nem toda censura é ruim…

Deixo claro que não estou defendendo a censura prévia, sempre burra. Não estou dizendo que deveria ter uma lista de palavras/situações que deveriam ser banidas do humor. Estou dizendo que cada caso deveria ser julgado. Excessos devem ser punidos. Não é “Não fale”. É “Fale, mas aguente as consequências”. E é melhor que as consequências venham na forma de processos judiciais do que de balas de fuzis ou bombas.

Voltando à França, hoje temos um país de luto. Porém, alguns urubus são mais espertos do que outros, e já começamos a ver no que o atentado vai dar. Em discurso, Marine Le Pen declarou: “a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de vida. Foi a eles que a guerra foi declarada”. Essa fala mostra exatamente as raízes da islamofobia. Para os setores nacionalistas franceses (de direita, centro ou esquerda), é inadmissível que 10% da população do país não tenha interesse em seguir “o modo de vida francês”. Essa colônia, que não se mistura, que não abandona sua identidade, é extremamente incômoda. Contra isso, todo tipo de medida é tomada. Desde leis que proíbem imigrantes de expressar sua religião até… charges ridicularizando o estilo de vida dos muçulmanos! Muitos chargistas do mundo todo desenharam armas feitas com canetas para homenagear as vítimas. De longe, a homenagem parece válida. Quando chegam as notícias de que locais de culto islâmico na França foram atacados, um deles com granadas!, nessa madrugada, a coisa perde um pouco a beleza. É a resposta ao discurso de Le Pen, que pedia para a França declarar “guerra ao fundamentalismo” (mas que nos ouvidos dos xenófobos ecoa como “guerra aos muçulmanos”, e ela sabe disso).

Por isso tudo, apesar de lamentar e repudiar o ato bárbaro do atentado, eu não sou Charlie. Je ne suis pas Charlie.

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A história do peão que virou patrão em MS

11/01/2015 at 09:47 (*Liberdade e Diversidade)

De saca em saca...produtorJuntando sacos de arroz,milho e soja que recebia como parte do salário, por quase duas décadas, Antenor Carissimi virou fazendeiro de sucesso, Esta história começou em Antonio Prado, cidade do Rio grande do Sul, e o desfecho dela a 1.259 dali, num dos municípios que mais crescem economicamente em Mato Grosso do Sul, Sidrolândia. Carissimi, ou Caríssimo como o chamam desde o início conta o segredo do triunfo: “sorte, proteção de Deus e, jamais, jamais, gastar mais do que ganhar”. Ver matéria completa de Celso Bejarano na edição de hoje (11/01) do jornal Correio do Estado.

http://www.correiodoestado.com.br

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*Comentário do blog: Belíssima matéria de Celso Bejarano. Mas, pelo tamanho da máscara que se vê na foto e que é utilizada pelo Sr. Caríssimo, dá pra imaginar a quantidade de herbicidas e/ou inseticidas que ele deve utilizar na lavoura de soja em sua propriedade para combater pragas. Uma pena…

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