Marin, o algoz de Herzog (Leitura de fim de noite)

29/05/2015 at 23:57 (*Liberdade e Diversidade) (, , , , , )

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jose maria marin

Por Randolfe Rodrigues em 29/05/2015 na edição 852

Copa de Ouro da Concacaf, 10 de fevereiro de 1998. A maioria da população, no Brasil e nos Estados Unidos, sequer via TV quando a Seleção Brasileira perdeu por 1 a 0 para a equipe norte-americana em um campo improvisado de Los Angeles, na Califórnia. Foi a única derrota do Brasil em 18 jogos. Isso até a goleada de quarta-feira, 27 de maio de 2015, dia em que a Justiça dos Estados Unidos desmascarou uma das maiores quadrilhas do mundo, a Gang da FIFA, chefiada dentre outros por um dos vice-presidentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o notório José Maria Marin, também vice-presidente da FIFA.

Tomamos uma goleada, porque convivemos há décadas – inertes, omissos – com essa quadrilha verde-amarela. Eles mandam e desmandam em nossas federações estaduais e na confederação nacional. Organizam todos os grandes campeonatos nacionais e internacionais de que participamos e acompanhamos pela TV. Foram os gestores sem controle dos bastidores ainda mal contados e mal contabilizados da Copa do Mundo que aconteceu no Brasil em 2014. E, para decepção da torcida brasileira, acabaram sendo flagrados e presos não pela Polícia Federal brasileira, mas pelos agentes do FBI e da Justiça dos Estados Unidos.

Uma das acusações que pesa sobre o quadrilheiro José Maria Marin é a de receber propina na venda dos direitos de transmissão da Copa do Brasil. Não a Copa do Mundo, mas a nossa doméstica Copa do Brasil, uma competição nacional, realizada em solo brasileiro, disputada por 86 equipes brasileiras, televisionada para todo o país e retransmitida para o território norte-americano.

A prisão de sete altos executivos da FIFA, incluindo José Maria Marin, nos remete à vergonha dos 7 a 1 que sofremos na Copa do Mundo. Nosso consolo é que, agora, a prisão dos que roubam a alegria e a inocência do futebol faz a alegria dessa paciente e maltratada torcida brasileira. Marin é um fiapo da ditadura militar brasileira. É produto da pior fase de nossa história, foi um gestor público afinado com torturadores e com a ala dura do regime que torturou e assassinou toda uma geração.

Comparsas no crime

José Maria Marin resume, como ninguém, os caminhos cruzados que fazem do futebol e da política um campo aberto onde se confundem os oportunistas, os canalhas e os corruptos. No campo do futebol, como na política, Marin sempre jogou na direita. Foi ponta-direita medíocre de times do interior paulista, no início da década de 1950, atuando por times como o São Bento e o Jabaquara. Chegou a enganar num time grande, o São Paulo, onde disputou apenas dois jogos oficiais e fez um único gol.

Esperto, Marin decidiu trocar de campo para enganar na política. Elegeu-se vereador na capital paulista por uma sigla ideologicamente adequada ao ex-ponta-direita: o PRP, fundado pelo líder integralista Plínio Salgado, guru da extrema-direita brasileira que se inspirava no III Reich de Adolf Hitler.  Quando veio o golpe de 1964, Marin trocou de camiseta, sem mudar de time: filiou-se à Arena, o partido da ditadura militar. Em 9 de outubro de 1975, no auge da violência do governo do general Emílio Garrastazu Médici, o deputado estadual da Arena José Maria Marin subiu à tribuna para denunciar a existência de comunistas na TV Cultura de São Paulo.

Duas semanas depois, o jornalista Vladimir Herzog, chefe de jornalismo da TV, foi encaminhado à sede do DOI-CODI, na sinistra Rua Tutóia, o endereço mais sangrento da rede de tortura e barbárie da ditadura. Herzog chegou lá na manhã do dia 25 de outubro, 15 dias após o discurso furioso de Marin. No início da tarde daquele dia, Herzog estava morto.

Esta criminosa conexão foi revelada em 2012 pelo jornalista Juca Kfouri, ao afirmar que Marin é “fartamente” responsável pela prisão que resultou no assassinato de Herzog. Marin é um fóssil da ditadura, uma carcaça do entulho autoritário legado ao país por 21 anos de regime arbitrário. É uma pena que Marin tinha passado impune por tudo isso, imune às investigações da Comissão Nacional da Verdade, ignorado pela polícia e fora de alcance da Justiça brasileira. É uma vergonha para todos nós que, depois dos anos de chumbo e de sua gestão corrupta nas federações e na CBF, Marin só tenha sido preso por ação de órgãos investigativos e policiais dos Estados Unidos, e não do Brasil. Escapou da Polícia Federal, mas não conseguiu escapulir do FBI. A torcida sempre aplaude um gol de placa. Assim, palmas para o FBI.

Mas, não nos enganemos: Marin nunca andou só. Como cabe a todo quadrilheiro, ele tinha comparsas no crime. Foi ungido presidente na CBF por Ricardo Teixeira, seu antecessor, e sagrou o seu sucessor, o atual mandatário, Marco Polo del Nero. Ambos agora sob investigação pelo FBI e pela Justiça dos Estados Unidos. Ainda veremos outros gols de placa.

Patrimônio cultural

Conseguiremos nós, brasileiros, dar conta da quadrilha instalada em nossos clubes e estádios? Temos duas oportunidades de faxina, nesse momento. A primeira missão é investigar esse esquema nacional e internacional em todas as frentes, inclusive a parlamentar. O senador Romário acaba de aprovar em tempo recorde no Senado Federal, com 54 assinaturas, uma CPI para investigar Marin e seus comparsas.

A corrupção no futebol é um moto contínuo, que não afeta uma única competição nacional ou internacional. É preciso desmascarar os corruptos, punir os envolvidos e garantir o ressarcimento dos valores pagos como propina para os cofres das entidades. Mas, isso só não basta. É fundamental uma segunda medida: aproveitar esse momento ímpar da história para reformar a estrutura decadente do futebol brasileiro. A Medida Provisória 671, que tramita no Congresso, é um gol de placa de um governo que anda meio ruim das pernas.

É preciso garantir, como prevê o texto original da MP, que órgãos como a CBF funcionem de maneira democrática, com participação efetiva dos jogadores, com direito a voz e a voto nas assembleias, e estabelecendo limite à reeleição dos dirigentes. Isso evitaria a apropriação da CBF e federações por clãs e gangues que se perpetuam e se acumpliciam. Tanto quanto de clubes e entidades, é necessário transparência na gestão de recursos, com a divulgação de balanços financeiros e o fim dos sigilos contratuais por onde se infiltra a corrupção.

Muito mais do que um negócio, o futebol é um patrimônio cultural do povo brasileiro. Quem administra o esporte não deve atuar como empresário de um negócio oculto. Ele deve ter a consciência de um gestor de patrimônio público, um bem valioso e caro às emoções de milhões de brasileiros. No campo sagrado e vitorioso do futebol, não existe espaço para gente da laia de José Maria Marin.

*Randolfe Rodrigues é senador pelo PSOL do Amapá

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O Sistema político brasileiro está se esvaindo (Leitura matutina)

02/03/2015 at 11:20 (*Liberdade e Diversidade) (, , , , , , )

Camara dos Deputados

02/03/2015

landesLandes Pereira* / Jornal O Estado

No processo de planejamento estratégico constroem-se modelos econométricos que representam os fenômenos que compõem o objeto de estudo, de tal forma que se possa lhes prever a evolução. Depois do diagnóstico, chega-se ao prognóstico e ao planejamento (elaboração abstrata do que deve ser feito). A produção dos programas, planos e projetos é a materialização desse trabalho. Quando se mexe em uma das variáveis, todas as demais se alteram e são ajustadas permanentemente.

Por isso, nos países democráticos, o processo é periodicamente explicado e discutido com a população. Nos países ditatoriais ou autocráticos, os tecnocratas definem tudo nos gabinetes e os governantes decretam sua execução. Ocorre crise econômica quando o modelo se esgota e não é encontrado um novo para substituí-lo. A oferta fica abaixo da demanda, os salários caem e o desemprego aumenta, os especuladores se locupletam, os setores produtivos são pressionados pelos juros e tributos e os políticos sugam os cofres públicos em troca de apoio parlamentar. Mudanças políticas, então, acontecem.

Em 2002, a conjuntura internacional era favorável ao Brasil e a população estava satisfeita com a política neoliberal implantada. Porém, as “esquerdas” queriam mais, e conseguiram atrair o PMDB para a tomada do poder. Como o projeto de reformas contidas no “Programa Democrático e Popular” do PT desagradava ao mercado, Lula, pressionado pelos aliados, trocou a proposta petista pela “Carta aos Brasileiros”, prometendo continuidade às diretrizes do Consenso de Washington.

Eleito, Lula anunciou que o tripé macroeconômico do Governo FHC permaneceria. Como garantia para o mercado, Antônio Palloci foi nomeado ministro da Fazenda, Joaquim Levy (indicado pelos banqueiros) virou diretor do Tesouro e Henrique Meirelles (do Banco de Boston) presidente do BC.

landes

A militância petista assimilou a proposta porque a lógica do “novo” modelo era a de que banqueiros e empresários ganhariam muito e sempre, mas os assalariados e excluídos do mercado também ganhariam alguma coisa.

A partir de 2008, com as adversidades internacionais crescentes, o aparelho produtivo interno iniciou um espiralado desgaste operacional, enquanto o sistema partidário se deteriorava em enorme lamaçal de corrupção. O processo saiu de controle devido a necessidade de se manter o poder pela reeleição da presidente da República. Os marqueteiros da coligação PT-PMDB convenceram os eleitores que o modelo político estava sobre controle, necessitando de pequenos ajustes, mas que nenhuma medida que prejudicasse trabalhadores, aposentados e pessoas de baixa renda seria adotada.

A candidata acalmou os empresários afirmando que os banqueiros não continuariam mandando na política nacional e prometeu ao povo que a educação e a saúde seriam as prioridades. As promessas foram esquecidas. Joaquim Levy é nomeado ministro da Fazenda e Katia Abreu se torna ministra da Agricultura. O restante do ministério foi cooptado na base do fisiologismo para manter a maioria parlamentar, mas sem participação efetiva nas decisões.

As contas públicas não fecharam, a conjuntura internacional é desfavorável. Veio o “pacote econômico”, o aumento dos juros, da energia elétrica e dos combustíveis, a desvalorização do real, o arrocho tributário, a aceleração da inflação, a recessão econômica e o descontentamento generalizado. O sistema está desgastado e os políticos tentam acalmar a população prometendo mudanças, enquanto trabalham para que tudo permaneça como está.

*Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política

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Promessas de campanha e realidade governamental (Leitura matutina)

26/01/2015 at 10:24 (*Liberdade e Diversidade) (, , , , , , )

20141109071338603259ulandes pereiraLandes Pereira*

O neoliberalismo é uma triste realidade brasileira desde os anos 1990, mas agora a presidente está ansiosa para agradar o mercado financeiro. As consequências serão desastrosas do ponto de vista do interesse público, mas como não tem eleição em 2015, dá-lhe “chumbo grosso” no lombo do povo, sabendo que em 2018 essas “maldades” terão caído no esquecimento.

Um grupo de amigos reuniu-se sob a sombra de frondosas árvores de uma praça da cidade para analisar a conjuntura nacional, sem qualquer compromisso. A pauta incluía as novas regras para pagamentos de seguro-desemprego, abono salarial, pensão por morte, auxílio-doença, seguro-defeso, aumento da taxa Selic, aumento dos combustíveis e da energia elétrica, corrupção, aumento salarial dos políticos e do Judiciário, restrição aos repasses do programa de empréstimos estudantis, veto da correção da tabela do IR e suas consequências no cotidiano dos cidadãos.

Um bem instrumentalizado militante governista, pressionado pelos companheiros de conversa que cobravam as promessas de campanha da presidente (não vai haver tarifaço, não terá aumento de juros, não haverá mudanças nos direitos trabalhistas, a educação será prioridade), desabafou: “Reconheço que está difícil ser brasileiro na atual conjuntura e que nos próximos dois anos vamos ter que apertar o cinto, mas em 2018 a prosperidade terá voltado”.

O valente dilmista ainda tentou justificar dizendo que o objetivo do governo é economizar R$ 18 bilhões para os cofres públicos, em 2015. Entretanto, calou-se frente à lembrança das “bondades” do governo, via BNDES e Banco do Brasil, para empresários amigos, incluindo as empreiteiras da Petrobras. Ficou acabrunhado quando perguntaram sobre ao aumento dos juros da CEF para os financiamentos da casa própria. Alegou que está difícil sim, mas que a oposição faria a mesma coisa, talvez pior, se estivesse no poder.

landes 2Essa conversa aconteceu no sábado anterior ao “pacotaço de maldades” anunciado na segunda-feira, antes do apagão nacional de energia elétrica e antes que Joaquim Levy (Fazenda), em Davos, admitisse que haverá recessão no país. Sem considerar que a inflação continua alta e que o desemprego é uma realidade cruel, o arrocho econômico veio na forma de aumento da arrecadação, sem diminuição das despesas de custeio.

As quatro medidas que constituem o núcleo do ajustamento econômico da gestão Dilma 2.0 são as seguintes: aumento da alíquota do PIS/COFINS sobre produtos importados de 9,25% para 11,75%; cobrança do IPI não só das fábricas, mas também das empresas distribuidoras dos produtos cosméticos; retorno da cobrança da Cide (contribuição para regular os preços dos combustíveis) de R$ 0,22 por litro de gasolina e R$ 0,15 por litro de diesel; aumento do IOF no crédito pessoa física de 1,5% para 3,0% ao ano. O senador José Serra (PSDB) elogiou as medidas.

Não está descartado outro “pacotinho” para os próximos dias, dependendo das repercussões da reunião de Davos e da economia sul-americana. É aguardar com coragem, porque o brasileiro é um forte.

Por outro lado, os ministros são religiosos e apelam para a Divindade Maior nos momentos em que não têm explicações plausíveis e aceitáveis. O ministro de Minas e Energia, explicando os apagões, afirmou que Deus é Brasileiro e por isso não faltará energia; o ministro da Saúde, em São Paulo, frente ao caos do sistema disse que é preciso ter fé porque o Brasil é a pátria do Evangelho; o ministro da Pesca, que é bispo da IURD, inicia o expediente fazendo orações. Aleluia!

*Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política

**Artigo publicado hoje no jornal “O Estado MS”

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Sobre o novo ministério de Dilma (Leitura de início de ano)

31/12/2014 at 12:23 (*Liberdade e Diversidade) (, , , , , , )

Dilma 3Dilma ao anunciar hoje (31) o ministério completo

hermano-de-melo-esta3Hermano Melo*

31 de Dezembro de 2014

Mesmo sem ter anunciado por completo seu novo ministério, a presidenta Dilma Rousseff enfrenta intenso bombardeio, tanto por setores de esquerda quanto por aqueles situados à direita do espectro político nacional.

Em artigo publicado no Estadão (24/12), por exemplo, a jornalista Julia Dualibi se refere ao novo ministério de Dilma no qual a “mediocridade é a regra”. Diz ela: “Na segunda leva de indicados, a presidente prezou mais os laços políticos do que as habilidades técnicas ao escolher um ‘animador’, o filho de um senador e derrotados na eleição de 2014 para serem ministros em seu novo mandato”.

E conclui: “A regra na montagem de seu ministério no segundo mandato tem sido a da mediocridade, com o objetivo de domar os partidos da base e evitar problemas no Congresso”.

Mas o depoimento mais contundente em relação ao anúncio de nomes do ministério feito até agora, pela presidente Dilma, foi o do deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ). Em artigo publicado na revista Carta Capital (27/12), intitulado “Novo ministério: Extra, resta uma ilusão?”, mesmo deixando claro que não se arrepende de ter apoiado e votado em Dilma para evitar a vitória do Aécio, ele se julga “no direito de fazer a crítica devida”.

Utilizando-se de alegoria (politólogo marciano recém-chegado à Terra – na verdade, a um boteco da Lapa, no Rio de Janeiro, como pesquisador), tenta entender a situação política brasileira após o anúncio dos nomes do novo ministério Dilma. Pergunta o marciano: “Será que o sistema eleitoral desses terráqueos dá aos que perderam a prerrogativa de escolher os ministros da presidenta?”.

Depois, o marciano abre o jornal e a manchete o confunde ainda mais: o novo ministro da Fazenda será um ex-diretor do Bradesco. “Um banqueiro comunista? Isto é possível?” E o que dizer da ministra da Agricultura, que “resulta ser a mais conhecida (e simbólica) representante do latifúndio, inimiga dos índios, dos pequenos produtores, dos ambientalistas, dos sem-terra… O ET ficaria confuso, já que soube que os sem-terra tinham apoiado a candidata eleita. Não foi?, perguntaria”.

Evidente que ninguém esperaria que a escolha dos nomes para compor o ministério Dilma neste segundo mandato presidencial agradasse a “gregos – esquerda, e troianos – direita”. Mas, como diria alguém situado no campo da esquerda democrática, “não precisava exagerar, né?”. Exemplo:

Não dá pra aceitar uma ministra da agricultura como Kátia Abreu!

Além disso, como entender a presença de Aldo Rebelo (PCdoB) na pasta de Ciência e Tecnologia, de Gilberto Kassab (PSD-SP) no ministério das Cidades, de Jaques Wagner (PT) na Defesa? Tudo bem que, diante do resultado das urnas e do matiz ideológico que está pintando no novo Congresso, façam-se algumas concessões à direita. Mas, se a presidente Dilma pensa que dessa forma irá governar com mais tranquilidade, pode tirar “o cavalinho da chuva”. Eles (os conservadores) vão exigir mais e mais…

É preciso, portanto, idealizar, e pôr em prática, um novo projeto de esquerda brasileira que venha aprofundar os ganhos sociais obtidos até agora pelos governos do PT e Cia, e que, ao mesmo tempo, abra novas perspectivas de desenvolvimento econômico para toda a nação brasileira em futuro próximo. E sem medo de ser feliz!

*Jornalista e escritor

**Artigo publicado hoje (31/12/2014) no jornal Correio do Estado.

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Fim de ano nebuloso no Brasil

12/12/2014 at 11:50 (*Liberdade e Diversidade) (, , , , , , , , , , , , )

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maria do rosario

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Hermano Melo*

12 de Dezembro de 2014

Três episódios recentes de cunho econômico e político indicam um final de ano tenso e de certa forma nebuloso no Brasil. O primeiro diz respeito à aparição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot na abertura da Conferência Internacional de Combate à Corrupção (9/12), em Brasília-DF, para fazer duras críticas à gestão da Petrobras e sugerir substituição de toda a diretoria daquela importante estatal brasileira.

Disse ele: “Diante de um cenário tão desastroso na gestão da companhia, o que a sociedade brasileira espera é a mais completa e profunda apuração dos ilícitos perpetrados, com a punição de todos os envolvidos”. E completou: “o Brasil vive um momento de turbulência e está “convulsionado por escândalo em sua maior empresa”. Na mesma ocasião, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, confirmou: “há fortes indícios de corrupção na Petrobras”.

O segundo foi o entrevero que aconteceu na Câmara dos Deputados (9/12), em Brasília, entre os deputados federais Jair Bolsonaro (PP/RJ) e Maria do Rosário (PT/RS). Na ocasião, ele revidou à suposta agressão da deputada e ex-ministra de Direitos Humanos, que o teria chamado de “estuprador”, com a frase: “só não lhe estupro porque você não merece”. Agora circula na Câmara petição pedindo a cassação do mandato de Bolsonaro que conta com mais de 28 mil assinaturas (a meta é 30 mil) e que será entregue à Comissão de Ética da Câmara.

O terceiro aconteceu quando a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou à Presidente Dilma Rousseff, em 10/12, o relatório final de suas atividades. Ao receber o relatório que por 31 meses fez resgate histórico das violações de direitos humanos cometidos durante a ditadura militar, a presidente Dilma Rousseff se emocionou ao falar daqueles que ainda sofrem com a perda de parentes e amigos, agradeceu aos familiares daqueles que morreram, mas ao mesmo tempo disse que “a verdade não significa revanchismo, não deve ser motivo para ódio ou acerto de contas, a verdade liberta todos nós do que ficou por dizer”.

Mas, perguntarão alguns: O que o escândalo da Petrobras e a denúncia do procurador da República têm a ver com a agressão de Bolsonaro à deputada Maria do Rosário na Câmara Federal e a entrega do relatório final da Comissão da Verdade à presidente Dilma? É bem provável que tudo!

Primeiro, porque o escândalo da Petrobras, na medida em que se aprofundam as investigações, vem de longa data e provavelmente tem a ver com sucessivas más gestões e o enorme crescimento daquela empresa estatal tanto no sentido econômico quanto estratégico para o Brasil ao longo dos últimos anos.

Depois, é fato notório que os partidos situados à direita do espectro político nacional – e o deputado Bolsonaro talvez seja o representante-mor desse grupo – veem no episódio da Petrobras chance para desestabilizar, ou mesmo, quem sabe, articular o impeachment da presidente Dilma no próximo ano.

Nesse sentido, é bom lembrar que o golpe militar de 64 aconteceu em virtude de dois argumentos utilizados pelas forças reacionárias do País: a ameaça comunista – hoje inexistente – e a “praga da corrupção”, que, devido à propaganda diuturna, se enraizou na mente de parcela significativa da população brasileira que aceitou a mudança pra direita no espectro político tupiniquim.

Isto não significa, porém, ser favorável à impunidade de bandidos. Como disse o procurador-geral da República Rodrigo Janot: “Corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e devolver os ganhos espúrios que engordaram suas contas, à custa da esqualidez do tesouro nacional e do bem-estar do povo”. É isso aí.

*Jornalista e escritor

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A Constituição de 88: 25 anos

05/10/2013 at 16:51 (*Liberdade e Diversidade) (, , , )

25 anos da Constituição de 1988

04/10/2013

Semy Ferraz 1

Semy Alves Ferraz (*)

 

Quando, em 5 de outubro de 1988, a Assembleia Nacional Constituinte promulgava a Constituição Federal em vigor, a mídia conservadora torcia o nariz a dizer que ela, a Constituição Cidadã, tornara o Brasil ingovernável. Como sempre, as elites, ciosas de seus privilégios, prontas para deslegitimar e repudiar as transformações políticas e sociais clamadas por amplas camadas de nossa população. E tudo isso por conta dos milimétricos avanços conquistados pelos movimentos sociais que, depois de vinte anos de repressão, tortura, prisões arbitrárias e execuções dos gendarmes da ditadura, haviam protagonizado, desde fevereiro de 1987, por meio de mobilizações e debates para definir a agenda política do país, como nunca antes visto na história da República.

Constituição FederalEra o Movimento da Reforma Urbana com a vanguarda dos engenheiros e arquitetos a consignar na carta constitucional as inovações que mais tarde se consolidaram no Estatuto da Cidade. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a CPT (Comissão Pastoral da Terra) na questão agrária e nos ainda tímidos direitos dos trabalhadores rurais e pequenos agricultores. O movimento indigenista com o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e as lideranças indígenas no resgate dos direitos elementares dos povos originários e a ainda tênue demarcação das terras indígenas.

O Movimento da Reforma Sanitária com a agenda transformadora que introduziu o incompreendido SUS (Sistema Único de Saúde), patrimônio do povo brasileiro e exemplo para a humanidade. O Movimento da vanguarda do Serviço Social pela implantação da LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social), que trouxe, entre outras conquistas, o SUAS (Sistema Único de Assistência Social), o Estatuto do Idoso, a política dos mínimos sociais e renda mínima, das políticas de inclusão de pessoas com deficiências físicas e mentais e a política antimanicomial. O Movimento Criança Constituinte Prioridade Absoluta com a liderança de advogados, psicólogos, educadores e humanistas a defender o revolucionário, mas execrado ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

O Movimento pela Reforma da Educação, que, a despeito de tanta luta, teve, no governo de FHC, a controvertida LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). O movimento ambiental na conquista de normas para disciplinar o desenvolvimento sustentável, marco emblemático da Rio 92 com a Agenda 21. O movimento cultural com as inovadoras leis de financiamento e fomento para a cultura e a produção artística nacional. Os direitos humanos como questão inerente à nossa ainda jovem democracia. A adoção da participação pública, por meio do controle social, como mecanismo efetivo de se exercer a democracia participativa, já não meramente representativa, instituindo em todas as esferas administrativas os conselhos deliberativos paritários, com seus respectivos fundos e planos (anuais, quinquenais ou decenais) operacionais e estratégicos.

Fernando Collor

É bem verdade que inúmeras tentativas de retrocesso dessas conquistas ocorreram nos governos dos dois Fernandos (Collor e FHC). Então, não apenas direitos trabalhistas e sociais foram revistos (entre os quais os de aposentadoria), como foi ameaçado o patrimônio nacional com seus bizarros programas de privatização a atentar, inclusive, contra a soberania nacional. Collor e FHC, depois de desproteger a indústria nacional, chegaram ao extremo de querer privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, os Correios e a Caixa. Não por acaso, em 2002 a maioria do povo brasileiro fez clara opção pela mudança que vem se processando desde então, graças à emblemática eleição do Presidente Lula e depois à Presidenta Dilma.

Foi, aliás, essa explícita manifestação do povo brasileiro que permitiu que, além do fortalecimento da indústria estratégica nacional (naval, aeronáutica e de infraestrutura), muitas dessas conquistas constitucionais saíssem do papel e viessem a ser implementadas, entre as quais a elevação do status da alimentação e nutrição a direito humano fundamental e a promulgação da Lei da Acessibilidade, uma verdadeira revolução que ainda se encontra incipiente pela amplitude de seu alcance.

Acessibilidade nota 10

Obviamente, a Constituição de 1988 não foi a dos sonhos das gerações que lutaram pela democracia plena no País. Mas foi a possível, fruto de muitos embates, mobilizações a até raros consensos. E ela deve ser creditada aos milhares de brasileiros que, anônimos ou célebres, ofereceram suas vidas para torná-la realidade, entre os quais, os operários Santo Dias e Manoel Fiel Filho, o jornalista Vladimir Herzog e os deputados Rubem Paiva, Ulysses Guimarães, Florestan Fernandes e Luiz Gushiken.

(*) Semy Ferraz é engenheiro civil e secretário de Infraestrutura, Transporte e Habitação de Campo Grande.  Artigo publicado no Midiamax News em 04/10/2013.

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Artigo de Gerson Martins: O “El País” digital.

01/08/2013 at 13:28 (*Liberdade e Diversidade, Hermano de Melo) (, , , , , )

El País

A revolução digital do El País e as experiências locais

Gerson Luiz Martins*

O jornal espanhol El País é, de acordo com os institutos de pesquisa, comunidade científica e mercado da mídia, um dos jornais de referência no mundo. Como a maioria dos jornais europeus, tem formato tablóide, diferente do padrão brasileiro que é maior e tem formato standard. Para se comparar, o formato tablóide é o mesmo usado pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre ou Diário Catarinense de Florianópolis.

Em Campo Grande, os maiores jornais usam o formato standard. O jornal El País, como a maioria dos jornais no mundo, sofre, a cada ano, uma queda de tiragem, do número de exemplares impressos por causa da diminuição da demanda entre os leitores. A concorrência com a internet provoca em todo mundo este fenômeno. No geral, as empresas jornalísticas precisam, urgentemente, se adequar ao novo padrão de consumo de informações, de notícias e aliar a mídia impressa com a mídia eletrônica.

O desafio é grande. Ninguém, nenhuma empresa jornalística, por enquanto, tem a receita para equacionar essa questão. Investe-se forte na mídia eletrônica, os resultados não são imediatos, a inversão publicitária é lenta, embora, se houver um bom produto, a audiência seja alta. Investe-se na mídia impressa, os custos são altos, pois papel e sistema de impressão estão cada vez mais caros. E, de outro lado, pesa a tradição do jornal impresso que precisa estar disponível nas principais salas de visitas do universo político, comercial e de serviços.

No caso de Campo Grande, em especial, as edições, ou melhor, as páginas de internet dos principais jornais são precárias, nos estudos de ciberjornalismo se pode afirmar que estão na primeira fase, na pré-história, muito tem que ser melhorado. O jornal El País promoveu essa revolução e obteve sucesso. O trabalho foi realizado sob a coordenação do jornalista especializado em tecnologia e expert na administração dos recursos digitais, Gumersindo Lafuente, um dos conferencistas do 4º Simpósio de Ciberjornalismo, que acontece na UFMS entre os dias 28 e 30 de agosto de 2013. A experiência de Lafuente é rica e pode indicar os caminhos para que as empresas jornalísticas locais e regionais tenham informações sobre as possibilidades para sair da angústia sobre o futuro do jornal impresso em Campo Grande e no Estado.

Não se pode afirmar que o El País de hoje seja um exemplo do sucesso, mas, sem qualquer dúvida, não fosse o trabalho realizado por Lafuente o jornal estaria entre aqueles que agonizam, com uma dívida impagável e com um staff administrativo, técnico e jornalístico minimamente alocado. A reforma tecnológica, gráfica, de procedimentos, administrativa, realizada no El País confirma o caminho mais adequado para o enfrentamento dos desafios de fazer jornalismo no século 21. O jornal continua a ser respeitado como um dos mais influentes periódicos no mundo.

É preciso que as empresas jornalísticas considerem prioridade a inserção no mundo digital, que saibam aliar as versões impressas e eletrônicas para que se consolidem como empresas, como produtoras de conteúdo e como difusores de informação, vital para a sociedade que se comunica, a cada instante, pelas redes sociais. Enquanto os maiores empresários do jornalismo discutem e buscam opções para manter suas atividades e obter sucesso, aqui o debate é meramente político e baixíssimo investimento na qualidade técnica e tecnológica.

É! Há muito que aprender no Simpósio de Ciberjornalismo. Expectativa é a de que profissionais, estudantes, pesquisadores e empresários se sensibilizem para isso.

* Professor-Doutor do curso de Ciberjornalismo da UFMS.

**Artigo publicado no jornal “O Estado” em 01/08/2013.

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Crise do capitalismo e efeito borboleta

12/07/2013 at 11:01 (*Liberdade e Diversidade, Hermano de Melo) (, , , , , )

 

Efeito borboleta

A CRISE DO CAPITALISMO E O EFEITO BORBOLETA
Por: Immanuel Wallerstein
Blog: Outras Palavras
Data de Publicação: 01/02/2013

Wallerstein aposta: agonia do sistema durará poucas décadas. Duas alternativas opostas emergirão. Desfecho será definido numa infinidade de nano-atos

Tradução: Antonio Martins

Fazer previsões de curto prazo (o próximo ano ou o seguinte) é um jogo de tolos. Há muitas mudanças imprevisíveis e sobressaltos no mundo real político, econômico e cultural. Mas podemos tentar fazer afirmações para o médio prazo (uma década ou mais), baseadas numa estrutura teórica adequada, combinada com uma sólida análise empírica das tendências e obstáculos.

Que sabemos sobre o sistema-mundo em que vivemos? Primeiro, que é uma economia-mundo capitalista, cujo princípio básico é a acumulação incessante de capital. Além disso, sabemos que é um sistema histórico, que, como todos, (do Universo como um todo aos mais minúsculos nano-sistemas) tem uma vida. Nasce, vive sua existência “normal” de acordo com regras e estruturas que cria, e então, em certo ponto, move-se muito além do equilíbrio e entra em uma crise estrutural. Em terceiro lugar, sabemos que nosso sistema-mundo atual é polarizante, produzindo um abismo crescente entre os Estados e o interior dos mesmos.

Estamos nesta crise estrutural exatamente agora, e há cerca de quarenta anos. Vamos continuar nela por mais vinte a quarenta anos. É a duração média das crises estruturais dos sistemas históricos. O que acontece nestes momentos é que o sistema bifurca-se. Significa, essencialmente, que emergem duas formas alternativas de encerrar a crise estrutural – por meio da “escolha” coletiva de uma das saídas.

Capitalismo sem capitalistas

A principal característica de uma crise estrutural é uma série de flutuações caóticas e selvagens de tudo – os mercados, as alianças geopolíticas, a estabilidade das fronteiras estatais, do emprego, dívidas, impostos. A incerteza, mesmo no curto prazo, torna-se crônica. E as incertezas tendem a congelar a tomada de decisões econômicas – o que, é claro, torna as coisas piores…

Eis algumas das coisas que podemos esperar no médio prazo. A maior parte dos Estados enfrenta, e continuará a enfrentar uma pressão provocada por arrecadação em queda e gastos em alta. A maioria deles tem tentado reduzir os gastos de duas maneiras. Primeiro, cortar (ou mesmo eliminar) boa parte das redes de segurança que foram construídas no passado, para ajudar as pessoas comuns a enfrentar as contingências com que se deparam. Mas há uma segunda maneira. A maior parte dos Estados está cortando as transferências de recursos para entidades estatais subordinadas – unidades federadas (se o país é uma federação) e governos locais. Isso apenas transfere, para estas unidades federadas, a necessidade de elevar impostos. Se não são capazes, podem quebrar, o que elimina outras partes das redes de segurança (em especial, aposentadorias).

Crise do capitalismo - queremos trabalho

Isso provoca um impacto imediato sobre os Estados. De um lado, enfraquece-os, já que cada vez mais unidades federadas procuram separar-se, quando veem este passo como economicamente vantajoso. Mas por outro lado, os Estados são mais importantes que nunca, já que as populações buscam refúgio em políticas estatais protecionistas (“garanta meu emprego, não os deles”). As fronteiras estatais sempre mudaram. Mas é provável que mudem ainda mais frequentemente agora. Ao mesmo tempo, novas estruturas regionais, ligando Estados existentes (ou suas subunidades) – como a União Europeia (UE) e a União de Nações da América do Sul (Unasul) –, continuarão a florescer e jogar um papel geopolítico crescente.

Os malabarismos entre os múltiplos espaços [loci] de poder geopolítico irão tornar-se ainda mais instáveis, numa situação em que nenhum destes espaços estará em posição de ditar as regras inter-estatais. Os Estados Unidos são um poder geopolítico de outrora, com pés de barro, mas ainda suficientemente poderosos para se vingar de danos sofridos. A China parece ter o economia emergente mais poderosa, porém é menos forte que ela própria (e outros) pensam. O grau em que a Europa Ocidental e a Rússia irão se aproximar é ainda uma questão aberta, muito presente na agenda de ambas as partes. Como a Índia usará suas cartas é algo sobre o que ela está muito indecisa. O que isso significa, no momento, para guerras civis como a da Síria, é que as intervenções externas anulam-se umas às outras e os conflitos internos tornam-se ainda mais organizados em torno de grupos identitários fratricidas.

Guerra na Síria

Reitero uma posição que mantenho há muito. Ao final de uma década, veremos grandes realinhamentos. Um é a criação de uma estrutura confederada, ligando o Japão, a China reunificada e a Coreia reunificada. O segundo é uma aliança geopolítica entre esta estrutura confederada e os Estados Unidos. Um terceiro é uma aliança de facto entre a União Europeia e a Rússia. Um quarto é a proliferação nuclear em escala significativa. Um quinto é o protecionismo generalizado. O sexto é uma deflação mundial, que pode assumir duas formas – ou uma redução nominal dos preços, ou inflações descontroladas -, que teriam a mesma consequência.

Obviamente, não são perspectivas felizes para a maior parte das pessoas. O desemprego global vai crescer, em vez de cair. E as pessoas comuns sentirão muito severamente o aperto. Elas já demonstraram que estão prontas para lutar de diferentes maneiras – e esta resistência popular crescerá. Vamos caminhar para o meio de uma vasta batalha política para determinar o futuro do planeta.

Os que detêm riqueza e privilégio não ficarão de braços cruzados. No entanto, ficará cada vez mais claro para eles que não podem garantir seu futuro por meio do sistema capitalista existente. Tentarão implementar um sistema baseado não mais no papel central do mercado – mas numa combinação de força bruta e dissuasão. Seu objetivo central será assegurar que o futuro sistema garanta a preservação de três aspectos centrais do atual – hierarquia, exploração e polarização.

Pós-Capitalismo - Tunísia

Do outro lado, haverá forças populares que buscarão, em todo o mundo, criar uma nova forma de sistema histórico – que nunca existiu ainda. Uma forma baseada em relativa democracia e relativa igualdade. É quase impossível prever o que isso significa em termos das instituições que poderão ser criadas. Compreenderemos durante a construção deste sistema, nas próximas décadas.

Quem vencerá esta batalha? Ninguém pode prever. O resultado será determinado por uma infinidade de nano-ações, adotadas por uma infinidade de nano-atores, em uma infinidade de nano-momentos. Em algum ponto, a tensão entre as duas soluções alternativas vai pender definitivamente em favor de uma ou outra. É o que nos dá esperança. O que cada um de nós fizer a cada momento, sobre cada assunto imediato, importa. Algumas pessoas chamam a isso “efeito borboleta”. O bater de asas de uma borboleta afeta o clima do outro lado do mundo. Neste sentido, somos todos borboletas, hoje.

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Direita,volver!

15/06/2013 at 13:27 (*Liberdade e Diversidade, Hermano de Melo) (, , , , )

Manifestação das esposas dos militares brasileirosDIREITA,VOLVER!

Hermano de Melo* – 15/06/2013

Não deixa de ser preocupante a publicação de algumas matérias na imprensa nacional e local nos últimos dias. Por exemplo, na coluna do “Giba Um” (10/06): “A UNIÃO Nacional das Esposas dos Militares das Forças Armadas e Associação Nacional dos Militares do Brasil deverão promover, nesta terça-feira (11/06), a Vigília da Família Militar, em Brasília. A convocação não deixa por menos e fala de “governo revanchista, comissão de meias verdades, sucateamento bélico e terrorismo salarial”.

Editorial da Boca do Povo

No editorial de domingo passado (09/06) da “Boca do Povo”, intitulado “Clima de 64”, saiu o seguinte: “Em 1963, um clima denso como o de agora pairava no País. O feijão tomava sumiço e o dólar se perdia de vista. A inflação galopante corroia os salários. Culpavam os comunistas pela situação. Não havia trabalho. Hordas de desempregados viviam de ‘bicos’ ou subemprego”.

E mais: “O Brasil está parado. Nosso PIB vergonhoso. Nos campos os produtores estão desestimulados com as invasões indígenas e as demarcações não correspondem à realidade. Estamos no mesmo clima que desaguou em 1964. Quando os produtores e o povo começam pedir que o Exército os defenda é sinal de irritação, desesperança e descrédito nos sistema reinante. Só está faltando alguém inventar a tal “Marcha da Família com Deus pela liberdade” e teremos a mesma fórmula explosiva que fez o regaço de 64. Ninguém é a favor de ditaduras, mas do jeito que as coisas estão se encaminhando algo precisa ser feito. E, urgente!”.

Há também o artigo do advogado Gilson Cavalcante Ricci, intitulado “A guerrilha ataca!” publicado no jornal “A Crítica” de domingo (9/6) e aqui no Correio (11/06): “É a guerrilha. O ambiente de hostilidades perpetradas por índios e sem-terra sob o patrocínio do MST e da CUT assusta o povo pacífico de Mato Grosso do Sul. É exatamente o mesmo cenário de 1964, quando a guerrilha comunista internacional se infiltrou na Amazônia, com a conivência do presidente da República, o comunista Jango Goulart, o que levou o povo a sair em grandes passeatas no rio e São Paulo, pedindo a imediata intervenção do Exército Brasileiro. O resto todos nós sabemos”.Artigo de Gilson Ricci

Mas é preciso dizer, inicialmente, que nenhuma dessas notícias e artigos mencionados acima seriam veiculados na época da ditadura militar tão endeusada pelos autores supracitados. No máximo, haveria uma faixa preta censurando os pontos mais polêmicos delas, como era de praxe se fazer naquela fase negra da história recente do País.

Depois, há um equívoco primordial, tanto no editorial da “Boca” quanto no artigo do advogado Ricci, uma vez que não há base de comparação para dizer que o clima político de hoje é semelhante ao de pré-64, de lúgubre memória: temos uma Presidenta eleita pelo voto direto, o Congresso funcionando, o judiciário ativo, as instituições democráticas prontas para defender o Estado de Direito, e o Exército cumprindo o seu papel constitucional de defensor da soberania nacional! O que mais eles querem?

Ditadura nunca mais!

É verdade que há certa turbulência na esfera econômica – que, inclusive, está sendo superada – e um conflito entre índios e produtores rurais no MS que precisa ser melhor equacionado e resolvido, além de questionamentos sobre a construção de hidrelétricas no norte do País, como a de Belo Monte, no Pará. Mas tudo isso faz parte do jogo democrático e é assim que devem ser vistos e não insinuando o uso da força como no golpe de 64. Quanto à vigília das senhoras dos militares em Brasília, tomara que uma de suas preces realmente surta efeito – a melhoria no salário de seus maridos!

 

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 *Jornalista e escritor

**Artigo publicado em 15/06/2013 no jornal Correio do Estado.

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