Fim de ano nebuloso no Brasil

12/12/2014 at 11:50 (*Liberdade e Diversidade) (, , , , , , , , , , , , )

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Hermano Melo*

12 de Dezembro de 2014

Três episódios recentes de cunho econômico e político indicam um final de ano tenso e de certa forma nebuloso no Brasil. O primeiro diz respeito à aparição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot na abertura da Conferência Internacional de Combate à Corrupção (9/12), em Brasília-DF, para fazer duras críticas à gestão da Petrobras e sugerir substituição de toda a diretoria daquela importante estatal brasileira.

Disse ele: “Diante de um cenário tão desastroso na gestão da companhia, o que a sociedade brasileira espera é a mais completa e profunda apuração dos ilícitos perpetrados, com a punição de todos os envolvidos”. E completou: “o Brasil vive um momento de turbulência e está “convulsionado por escândalo em sua maior empresa”. Na mesma ocasião, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, confirmou: “há fortes indícios de corrupção na Petrobras”.

O segundo foi o entrevero que aconteceu na Câmara dos Deputados (9/12), em Brasília, entre os deputados federais Jair Bolsonaro (PP/RJ) e Maria do Rosário (PT/RS). Na ocasião, ele revidou à suposta agressão da deputada e ex-ministra de Direitos Humanos, que o teria chamado de “estuprador”, com a frase: “só não lhe estupro porque você não merece”. Agora circula na Câmara petição pedindo a cassação do mandato de Bolsonaro que conta com mais de 28 mil assinaturas (a meta é 30 mil) e que será entregue à Comissão de Ética da Câmara.

O terceiro aconteceu quando a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou à Presidente Dilma Rousseff, em 10/12, o relatório final de suas atividades. Ao receber o relatório que por 31 meses fez resgate histórico das violações de direitos humanos cometidos durante a ditadura militar, a presidente Dilma Rousseff se emocionou ao falar daqueles que ainda sofrem com a perda de parentes e amigos, agradeceu aos familiares daqueles que morreram, mas ao mesmo tempo disse que “a verdade não significa revanchismo, não deve ser motivo para ódio ou acerto de contas, a verdade liberta todos nós do que ficou por dizer”.

Mas, perguntarão alguns: O que o escândalo da Petrobras e a denúncia do procurador da República têm a ver com a agressão de Bolsonaro à deputada Maria do Rosário na Câmara Federal e a entrega do relatório final da Comissão da Verdade à presidente Dilma? É bem provável que tudo!

Primeiro, porque o escândalo da Petrobras, na medida em que se aprofundam as investigações, vem de longa data e provavelmente tem a ver com sucessivas más gestões e o enorme crescimento daquela empresa estatal tanto no sentido econômico quanto estratégico para o Brasil ao longo dos últimos anos.

Depois, é fato notório que os partidos situados à direita do espectro político nacional – e o deputado Bolsonaro talvez seja o representante-mor desse grupo – veem no episódio da Petrobras chance para desestabilizar, ou mesmo, quem sabe, articular o impeachment da presidente Dilma no próximo ano.

Nesse sentido, é bom lembrar que o golpe militar de 64 aconteceu em virtude de dois argumentos utilizados pelas forças reacionárias do País: a ameaça comunista – hoje inexistente – e a “praga da corrupção”, que, devido à propaganda diuturna, se enraizou na mente de parcela significativa da população brasileira que aceitou a mudança pra direita no espectro político tupiniquim.

Isto não significa, porém, ser favorável à impunidade de bandidos. Como disse o procurador-geral da República Rodrigo Janot: “Corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e devolver os ganhos espúrios que engordaram suas contas, à custa da esqualidez do tesouro nacional e do bem-estar do povo”. É isso aí.

*Jornalista e escritor

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