‘El País’: Mudanças em Cuba não esperaram pelo retorno dos EUA
Dois homens pelas ruas de Havana. / ALEJANDRO ERNESTO (EFE)
País que hoje negocia com norte-americanos não é a ilha de 50 anos atrás
24/01/2014
El País / Jornal do Brasil
O jornal espanhol El País publicou nesta sexta-feira (23/01) um artigo de Silvia Ayuso sobre as mudanças que já vinham ocorrendo em Cuba, mesmo antes da reaproximação com os Estados Unidos, anunciada em dezembro por Raul Castro e Barack Obama. “Sentadas em uma mesa do cosmopolita Café Madrigal, jovens em um grupo conversam animadamente enquanto apreciam os coquetéis cuidadosamente preparados pelo barman. Uma olha de relance para seu smartphone, enquanto as outras duas garotas, vestidas na moda e com penteados que seguem as tendências internacionais, escolhem o que pedir num cardápio que oferece variedade bem grande de aperitivos. A cena não chamaria a atenção em quase nenhum bairro rico – ou da moda — no mundo. Mas se nota quando o bairro é o El Vedado, e a cidade, Havana”.
“A capital cubana e o resto da ilha, ainda que em menor escala, já não são a férrea Cuba comunista contra a qual os Estados Unidos impuseram um embargo 50 anos atrás, o qual agora revoga aos poucos. Não são sequer a Cuba de cinco anos atrás, quando Raul Castro ia se firmando no poder que durante tanto tempo foi ocupado por seu irmão Fidel, e suas reformas econômicas eram ainda incipientes e vistas com suspeita dentro e fora da ilha”, compara a jornalista.
A Cuba que hoje negocia com os EUA cara a cara e de forma pública para ver como retoma suas relações é uma ilha que, no entanto, não deu – e se for por seu governo, não dará — o passo rumo à transição econômica e democrática total desejada por Washington. Mas tampouco é uma ilha que teime em se fechar a qualquer concepção de economia que não esteja sob controle estatal.
Um mero passeio pelas ruas da capital – onde as mudanças estão mais concentradas — mostra que o impacto das reformas cubanas é mais profundo do que querem reconhecer os que criticam o recém-iniciado diálogo bilateral.
Entre a densa folhagem de bairros como El Vedado e Miramar, brilham casas recém-pintadas e muitas outras em plena reforma – algumas pela primeira vez em 50 anos — atrás de numerosos andaimes.
Cada vez se veem menos, e estão mais desbotados, os cartazes de propaganda da revolução junto com imagens de Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Mas abundam sinais luminosos anunciando cafés, cabeleireiros e mesmo “salões spa” que anunciam até pela Internet –outro serviço ainda escasso, mas crescente — suas ofertas de manicure, maquiagem, massagens e penteados com o nível de salões “capitalistas”.
Os antes escassos “paladares”, restaurantes privados, proliferam agora de tal maneira que até os gourmets mais empedernidos penam para acompanhar o ritmo de inaugurações de locais que atendem não apenas estrangeiros.
Mas nem tudo é glamour neste novo espírito empreendedor cubano. Também há negócios “de rua”, abertos nos alpendres e varandas de casas ou até nas salas das moradias.
Como a barbearia que Luís abriu no pátio de sua casa com sua família, ou a pizzaria – com preços módicos para o “cubano da rua”— de Maite no terraço coberto do térreo de sua casa.
Os dois aproveitaram para se lançar na iniciativa privada após a abertura gradual, a partir de 2010, da economia até então controlada com mão de ferro pelo Estado. De lá para cá, o número de pequenos empreendedores que podem manter negócios privados em 200 categorias já chega a quase meio milhão. Já há quase 13.000 estabelecimentos privados na ilha, mais de 1.600 deles serviços de reforma. Supera um milhão o número de cubanos que usam celular, segundo dados oficiais.
Por trás dos números está a realidade, e ela não é tão promissora. Conseguir os insumos para exercer a profissão – produtos de cabeleireiro no caso de Luís, ingredientes para suas pizzas para Maite— é muitas vezes uma tarefa difícil e cara para esses empreendedores que não contam, como fazem muitos outros, com a ajuda de um familiar no exterior.
Isso é algo que poderá ser aliviado pela flexibilização das restrições comerciais que acompanha a mudança de rumo ditada por Barack Obama e Raúl Castro em meados de dezembro. Mas o passo fundamental, que permitiu as mudanças, afirma Maite, vem de antes. “Isso não começou em 17 de dezembro, as mudanças em Cuba têm alguns anos e vão bem”, diz de forma desafiadora.
>> Los cambios en Cuba que no esperaron a EE UU
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“Sabor de rendição”, diz Yoani Sánchez sobre relação EUA-Cuba
Blogueira, de 39 anos, publicou também uma mensagem citando o colapso econômico que seu país enfrenta
Foto: Reproducción
“Quero ver ao que vão atribuir a culpa agora sobre o colapso econômico e a falta de liberdades que vivemos em Cuba”, tuitou
17 de dezembro de 2014
Terra Brasil
Após o pronunciamento simultâneo do presidente de Cuba, Raúl Castro, e do presidente americano, Barack Obama, que anunciaram um “restabelecimento de relações diplomáticas” entre os dois países, a blogueira cubana Yoani Sánchez se manifestou nas redes sociais.
Embora o presidente cubano tenha lamentado a manutenção de bloqueio econômico dos EUA, Yoani disse, em seu Twitter, que discorda do líder de seu país. “Ainda que Raúl Castro diga o contrário, esse passo dado hoje tem sabor amargo de #rendição”, afirmou,
#Cuba Aunque Raúl Castro diga todo lo contrario… este paso de hoy tiene el amargo sabor de la #capitulaciónhttp://t.co/W4djZNcplt
— Yoani Sánchez (@yoanisanchez) 17 dezembro 2014
Em seu perfil na rede social, Yoani publicou diversas mensagens e, entre elas, disse que “uma era termina” e que ela espera que “está nova (era) que começa tenha a sociedade civil como protagonista”.
A blogueira, de 39 anos, publicou também uma mensagem citando o colapso econômico que seu país enfrenta. “Quero ver ao que vão atribuir a culpa agora sobre o colapso econômico e a falta de liberdades que vivemos em Cuba”, tuitou.
Além disso, ressaltou que “chama atenção que nenhum pronunciamento de Fidel Castro tenha sido feito, a respeito do reestabelecimento de relações”. Tal mensagem foi publicada por volta das 16h desta quarta-feira.
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EUA e Cuba iniciam diálogos para restabelecer relações
O governo de Havana costumava chamar todos os opositores de “mercenários” a serviço dos Estados Unidos e acusava Sánchez de ser a ponta de lança de uma “guerra cibernética” lançada contra a ilha a partir de Washington.
¿Quiero ver a qué le echarán la culpa ahora del colapso económico y la falta de liberta
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