Sul do Amazonas: a nova fronteira da devastação

15/01/2014 at 21:34 (*Liberdade e Diversidade)

14 de janeiro de 2014

Por Alceu Luís Castilho, na  Publica

Sul do Amazonas

Há quarenta anos, índios Tenharim foram dizimados pela construção da Amazônia. Agora, eles tentam resistir aos garimpeiros, ruralistas e grileiros

[Segunda parte de reportagem sobre o ataque aos Tenharim, em Humaitá (AM). Leia o início aqui]

A história do conflito em Humaitá é também a história da BR-230, a Rodovia Transamazônica. A rodovia rasgou a cidade – e também o território ocupado pelos indígenas. Com 4.223 quilômetros, ela foi inaugurada em 1972 pelo ditador Emílio Garrastazu Médici. Agora os Tenharim querem contar com detalhes essa história, como disseram à reportagem da Pública, recebida por eles no dia 3 de janeiro.

Em Humaitá, os brancos também conhecem o enredo, mas preferem falar em off sobre a violência cometida naquele tempo. “Quem veio para cá foram homens”, conta um dos entrevistados. “Aí quem queria pegar uma mulher tinha de matar um índio e pegar uma índia”.

Em sua língua, Augustinho Tenharim conta mais do que isso, traduzido pelos irmãos Zelito e Aurélio Tenharim: “Houve matança. De 10 mil Tenharim sobraram pouco mais de 200. Alguns trabalharam como escravos, para ajudar a construir a estrada. O pagamento era em alimentos. Os servidores levavam as índias e devolviam após 15 dias, 20 dias, um mês. Para mim é a segunda vez que está acontecendo algo desse tipo”, diz, referindo-se à hostilidade enfrentada por eles desde o desaparecimento dos três brancos na região no dia 16 de dezembro. “Um momento muito crítico. Temo pelos netos, pelos parentes. Achei que nunca mais ia acontecer”, lamenta o ancião.

O histórico é importante para justificar a cobrança de compensação, decidida por eles em assembleia, e definida pelos brancos como pedágio. “A vida nunca vai ser paga, foi quase uma extinção”, diz o cacique Aurélio Tenharim. Outro ponto destacado por eles é o fato de que, ao longo da Transamazônica, a floresta amazônica só está totalmente preservada – o que é visível – na Terra Indígena. “O governo nunca teve política pública para o desenvolvimento dos povos indígenas. Nós somos os protetores da Amazônia”, sublinha Aurélio.

O antropólogo Edmundo Peggion, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara, estudou os Tenharim no mestrado e doutorado. Não há exagero no relato dos Tenharim, ele diz, ao se referir ao massacre na abertura da Transamazônica. Esse massacre foi também lembrado publicamente por Aurélio Tenharim em  debate no dia 7 de janeiro com o comandante militar da Amazônia, general Eduardo Villas Bôas. O antropólogo confirma que a população original, de 10 mil pessoas, foi dizimada. Chegou a pouco mais de cem pessoas na época da abertura da Transamazônica – onde, de fato, os Tenharim trabalharam. Nos anos 80 eram 180 membros da etnia. Quando ele fez mestrado, de 1993 a 1996, eram 300.

Foi Peggion o responsável pela delimitação do atual território indígena, em 2002, quando houve um esforço para demarcação contínua. Ele agora é uma das poucas vozes, além dos indígenas, que os defendem dos boatos e das acusações precipitadas. Para o professor, não foram os Tenharim os responsáveis pelo desaparecimento dos três homens. “Eles diriam”, afirma. “Somos guerreiros, assumimos o que fazemos e não temos nada a ver com esse desaparecimento”, escrevia Angelisson Tenharim no dia 27 de dezembro, por mensagem, do quartel onde estava confinado, em Humaitá.
O antropólogo também rebate o argumento dos que afirmam que os Tenharim seriam “aculturados”. “Eles têm uma auto-estima muito elevada”, explica. “Eles têm ritual tradicional e são quase 100% bilíngues. Conversam em português, viram e falam com os parentes na língua deles. Dado tudo o que eles sofreram, para hoje, estão numa situação estável, do ponto de vista populacional e cultural”.

Tomado de surpresa pelos acontecimentos, Peggion está apreensivo. Ele vê na reação de desdém e hostilidade das pessoas da região o velho paradoxo que marca a relação entre indígenas e brancos: “ou são selvagens, quando são acusados de vingança, ou são aculturados, nem índios são”. Neste último caso, diz o professor, fica implícita a pressão para que sejam liberadas as terras indígenas.

EM HUMAITÁ, A ORIGEM INDÍGENA SE APAGA

O Censo 2010 apontou 44.227 pessoas em Humaitá – 883 na Terra Indígena Tenharim Marmelos e apenas 22 pessoas na Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto. A maioria da população se define como parda: 30.340 (68,6%), embora seja evidente a origem indígena. Apenas 1.588 pessoas se definem como indígenas. Nenhuma delas mora em domicílio com renda superior a dez salários mínimos.

O município nasceu e cresceu em torno do Rio Madeira, um dos mais imponentes afluentes do Amazonas. Com 3.240 quilômetros, o rio tem esse nome por ser muito rápido – levando árvores e troncos em sua passagem. A igreja matriz, ladeada pela Câmara e pela Prefeitura, está de frente para o Rio Madeira, bem como a imagem da padroeira, a Imaculada Conceição. A própria Transamazônica, que vai no sentido de Apuí, só é acessível de balsa, atravessando o rio.

A orla da cidade foi reformada e parcialmente entregue em junho de 2012. Ao lado da imagem da santa há um marco, com os nomes da presidente Dilma Rousseff e do governador Omar Aziz. A cidade funciona, em parte, em função dos pescadores e garimpeiros, em parte do funcionalismo público e de micro-empreendimentos. É impressionante a quantidade de pequenos bares e mercearias. Sem indústrias, são poucas as opções de emprego. O principal meio de transporte urbano é a moto. Diante das blitze constantes da polícia, desde o fim do ano, o movimento de carros e motos diminuiu.

Não há bairro de ricos em Humaitá. Segundo o IBGE, 616 famílias ganham até meio salário mínimo; outras 2.136, até um salário mínimo e 2.599, até dois salários mínimos. Os mais endinheirados – 283 domicílios têm renda superior a dez salários mínimos – convivem com os mais pobres, em uma cidade sem rede de esgoto. Eles gastam dinheiro em Porto Velho, a 205 quilômetros dali, e Manaus, a 675 quilômetros – ou nos sítios e fazendas. E não têm medo de andar com pulseiras ou colares de ouro pelas ruas, embora a coisa mude de figura em Porto Velho. No caminho para lá a Pública ouviu da mulher de um militar que queria vender 100 gramas de ouro, reconhecendo que se tratava de atividade clandestina. “Os guardas da Vila Militar são muito chatos”, reclamou.

A presença dos militares é importante e foi decisiva na batalha dos moradores contra os indígenas, ao protegerem os Tenharim da violência. A rodovia para Porto Velho, por exemplo, para onde se vai por ônibus ou táxi-lotação, tem o asfalto mantido pelos próprios militares. Há quem diga que, sem o 54º Batalhão de Infantaria da Selva, o 54º BIS, conflitos como o do fim de ano já teriam ocorrido há muito tempo.

Somente em 2012 a Cooperativa de Garimpeiros da Amazônia teve legalizada a venda de ouro que vem dos Andes através dos rios que desembocam no Madeira. Os indígenas não têm permissão para praticar atividades extrativistas. Mas o atual conflito em Humaitá tem mais a ver com outras faces econômicas da cidade: os pecuaristas e os madeireiros, apoiados pelos comerciantes, muitos também fazendeiros.

Não foi a primeira vez que Humaitá assistiu a uma insurreição. A cidade já teve um quebra-quebra, em 1991, sem nenhuma relação com o ódio aos índios. Um prefeito denunciara um esquema de corrupção. Deu nome aos bois. Ficou isolado. Na sua casa, queimaram um carro, recorda-se o madeireiro Nelson Vanazzi. “As pessoas perderam a cabeça, que nem desta vez”. A prefeitura foi invadida. “Queimaram um pouco, mas acho que não foram os populares. Acho que foi para esconder papel”, ri.

POLÍTICA E NEGÓCIOS: A RECEITA DA ELITE

Os negócios e a política caminham juntos em Humaitá: é comum os mais endinheirados partirem para essa atividade complementar. O prefeito reeleito de Humaitá, Dedei Lôbo (PMDB), é pecuarista e possui gado – como sabem todos na cidade. Mas não declarou nenhum bem rural à Justiça Eleitoral. Nem em 2008, quando se apresentou como professor de ensino médio, com um total de R$ 77 mil em bens, nem em 2012, quando já reunia R$ 561 mil. Um enriquecimento de 729%. A Pública tentou insistentemente entrevistá-lo, sem sucesso.

Já o prefeito de Apuí, Adimilson Nogueira (DEM), mencionado pelos Tenharim como um dos que incitaram a violência em Humaitá, declarou quatro lotes rurais em 2012, por R$ 200 mil, e 40 cabeças de gado. Total de bens: R$ 400 mil. Em 2008 ele tinha R$ 131 mil. Já possuía os lotes e 19 reses. Os indígenas também citaram o vereador Irmão Dirlan (DEM), dono de um sítio, como um dos que lideraram a violência em Humaitá. Vários políticos foram procurados em suas casas, na virada do ano, e não estavam. Alguns estavam “no sítio”.

O advogado dos parentes dos desaparecidos, Carlos Terrinha, foi candidato à reeleição para vereador em 2012, pelo PDT. Não conseguiu. Ele também é advogado de madeireiros. Aurélio Tenharim diz que não conhece um político, na região, que defenda indígenas e conta que, desde o fim do ano, recebeu apenas dois telefonemas de deputados: o estadual Sidney Leite (Pros-AM) e o federal Padre Ton (PT-RO), coordenador da Frente Parlamentar de Apoio aos Povos Indígenas. O resto só se manifestou por assessorias.

Os indígenas são críticos do atual governo. “O mandato de Dilma é o que mais massacrou os indígenas desde a ditadura”, afirma Amarildo Tenharim. “O indígena não pode mais fazer manifestação que ela manda a Força Nacional. A PF mata índio. A autonomia na saúde foi retirada. Tudo foi no mandato dela. Ela não tem diálogo com as organizações indígenas. Os ruralistas foram recebidos com 20 dias de mandato. Nós, não”, acusa.

Na opinião do cacique, os políticos veem os indígenas como empecilho para o desenvolvimento do país. Amarildo cita a PEC 215, em debate no Congresso, que dá aos parlamentares, incluindo a famigerada bancada ruralista, a responsabilidade pela demarcação de novas terras indígenas. “A Constituição é para todos”, diz.

“Dizem que temos privilégios, mas praticamente só temos dois artigos na Constituição. E a bancada ruralista quer derrubar o artigo 232”. Esse artigo reconhece os índios, suas comunidades e organizações como partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses.

Em Humaitá, o ex-vereador Cição – aquele que deu entrevista ao lado do Seu Tonico, do hotel – tem uma propriedade rural “de 195 hectares”. Ele foi vereador entre 1997 e 2000. Desistiu.“Quem não compra votos não se elege”, diz. O sítio fica no distrito de Santo Antônio do Matupi, que pertence a Manicoré, mas ligado estreitamente a Humaitá. Ali, no km 180 da Transamazônica, ele cria gado, planta macaxeira, onde originalmente havia um assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), para lotes de até 60 hectares.

Cição defende a bancada ruralista, e diz que são os fazendeiros que alimentam o país. “O Brasil tem somente 900 mil índios. Eles estão humilhando todos os brasileiros. Não podem ficar aí, selvagens”. Os Tenharim o apontam como um dos manifestantes incendiários de Humaitá, e como um dos difusores do preconceito contra indígenas no município. Cição avisa: “Se matar um branco, vai ter revanche”.

UM TERÇO DO TERRITÓRIO GRILADO

O relatório da CPI da Ocupação das Terras Públicas na Amazônia, em 2001, conhecida como CPI da Grilagem, informou que, de 157 milhões de hectares do território do Estado, 55 milhões estavam sendo grilados. Os cartórios de Humaitá, Manicoré e Canutama foram identificados como “contumazes na prática de ilícitos registrais”. Em Manicoré foram cancelados 682 mil hectares, ou 12% da área. Em Canutama, vizinha de Porto Velho, por onde se chega de carro a Humaitá, foram cancelados 8,8 milhões de hectares, ou 368% da área do município. É que as grilagens formam um território paralelo, virtual, onde as terras se sobrepõem umas às outras.

A chefe da unidade avançada do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Humaitá, Maria Terezinha Leite, conta que o distrito de Santo Antônio do Matupi, um dos pivôs da crise em Humaitá (embora pertença a Manicoré), surgiu de um assentamento, no lado esquerdo da Transamazônica, rumo a Apuí. Essa área de 34.534 hectares está hoje totalmente irregular.

Os assentados foram deixando os imóveis. Quantos? Não se sabe exatamente. Das 527 parcelas, de até 60 hectares, ela estima que apenas 50 – menos de 10% – ainda estejam com os beneficiários originais. Ocorre que as áreas de assentamento não podem ser vendidas. “Tem lote que já passou por cinco donos”, conta ela. E o Incra precisa notificar todos os atuais “proprietários”. Mas ela notificou só 20 deles. Porque, por algum motivo, eles foram à sede do Incra e Terezinha aproveitou a deixa. E por que ela não notifica os demais? Porque não há infraestrutura.

Mais especificamente, não há segurança. As notificações em Matupi precisariam do apoio da Polícia Federal, pois os servidores têm medo. “Não dá para entregar uma notificação de que a pessoa tem de sair em 15 ou 30 dias sem a presença da polícia”, explica Terezinha. Os 20 que receberam a notificação simplesmente não se manifestaram. E ficou por isso mesmo. “Nesse caso a responsabilidade é da Divisão de Assentamentos, em Manaus”, diz ela.

Chefe da unidade há dez anos, a servidora exibiu um mapa que mostra o assentamento rodeado por terras da União. Mas o distrito cresce e pretende se tornar um município. Somente desde 2010 a área está sendo georreferenciada, diz. Ela também conta que, em 2005, houve um problema grande com invasões de terra, acima de mil hectares cada, na vizinha Canutama. A Polícia Federal conseguiu coibir. A maioria das pessoas era de Rondônia.

Em doutorado defendido na Universidade de São Paulo, em 2012, a pesquisadora Viviane Vidal da Silva concluiu que o assentamento do Incra era o principal responsável pelo desmatamento na região. Ela observou que cada lote tinha desmatado mais de 20% da floresta, o limite na região. Motivo principal, a substituição da agricultura pela pecuária. Os Tenharim dizem que o “180” tem até pista de pouso clandestina, e ninguém faz nada. O mesmo aconteceria no km 160 da Transamazônica.

Dias antes da entrevista com Terezinha, na esquina do Incra, na Avenida Transamazônica, um lobista identificara-se para o repórter como jornalista. Ele contou ter trabalhado na área durante três décadas. Hoje, mexe com regularização de terras. Contou muitas histórias, reproduziu muitos boatos. Dois dias depois, foi sincero em relação ao seu trabalho:“Vou de terno, tudo bonitinho. O cara diz que não pode resolver. Pergunto que horas ele sai e chamo para uma cervejinha, no fim do expediente. Coloco dinheiro na mão dele. Ele libera. Aqui não tem Estado!”

Ou tem: em Santo Antônio do Matupi, uma placa anuncia a melhoria das vias da comunidade, por R$ 13,7 milhões. Com a assinatura do governo do Amazonas e financiamento do Banco do Brasil.

A REVOLTA DOS MADEIREIROS

Santo Antônio do Matupi também foi cenário de uma revolta de madeireiros em 2011. A apreensão de dois tratores, duas pick-ups, uma moto e 160 metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente uma aldeia dos Tenharim, a Sepoti, motivou confronto entre os madeireiros, os fiscais do Ibama e os policiais militares do Batalhão de Policiamento Ambiental. Também foram apreendidas armas e munição.

O grupo de madeireiros cercou os agentes do Ibama e entrou em confronto com a PM para evitar que os tratores ficassem com os indígenas. Após negociação, eles foram levados para Apuí. Na Transamazônica, porém, 200 pessoas bloquearam a estrada e exigiram que os tratores ficassem em Matupi. Eles acabaram ficando na sede da Associação dos Produtores Rurais de Santo Antônio do Matupi.

Em 2009, em reunião na Câmara Municipal de Humaitá, Nelson Vanazzi falou em nome dos madeireiros impedidos de extrair madeira por bloqueio eletrônico do Documento de Origem Florestal. Os políticos debateram alternativas. Entre elas, o bloqueio de rodovias e hidrovias, como forma de “chamar a atenção”.

Nelson Vanazzi diz que ele mesmo nunca extraiu madeira de terra indígena. Isso começou a acontecer, conta o madeireiro, “após o 180”, o distrito de Santo Antônio do Matupi, em Manicoré. Ivanildo Tenharim confirma que antes não havia esse problema. O motivo: “Fora da reserva não tem mais madeira, por isso começam a roubar”.

Sul do Amazonas: a bola da vez?

O conflito na região se dá também com garimpeiros. Em junho de 2012, vinte pessoas foram presas no “180”, por fiscais (Ibama) e policiais militares do Batalhão de Policiamento Ambiental. A Operação Soberania flagrou-as tentando extrair ouro do local, conhecido como Garimpo de Ouro do 180.

Dois meses antes, em Boca do Acre (AM), também na nova fronteira agropecuária, 40 policiais e 40 jagunços expulsaram 105 famílias do Seringal Macapá, reivindicando uma posse de terra. Total da área: 5.202 hectares. A denúncia foi feita pela deputada Janete Capiberibe (PSB-AP). O presidente da associação de extrativistas contou que as famílias saíram de lá só com a roupa do corpo: “Durante sete meses, as crianças choravam de fome e dormíamos no chão, com os cachorros”.

Somente em Lábrea (AM), desde 2007, sete pessoas foram mortas por denunciarem os crimes ambientais e de propriedade da terra. Segundo a deputada, houve crimes idênticos em Manicoré e Humaitá, onde servidores da Secretaria de Patrimônio da União foram ameaçados e impedidos de cadastrar lotes de lavradores e ribeirinhos. “Uma demonstração de quanto o Estado precisa ser fortalecido na região”, concluiu ela.

Um ano e meio antes dos recentes episódios em Humaitá, ela tentou convocar uma audiência para discutir os conflitos no sul do Amazonas. Seriam chamados os seguintes ministros: Gilberto Carvalho, Maria do Rosário e José Eduardo Cardozo. Mais o presidente do Incra, o presidente do Ibama, o secretário de Segurança Pública do Estado do Amazonas. A tensão, porém, persiste na região – e não só em Humaitá.

No dia 2 de janeiro, a sede do Ibama estava aberta, após o feriado. Mas por ali só estava o segurança. Onde estava o gerente-executivo? De férias. E o substituto? Em Porto Velho. Não somente ele: todos tinham viajado para Porto Velho.

No pátio, um trator e madeiras apreendidos.

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Para eleger a FIFA pior empresa do mundo

15/01/2014 at 20:56 (*Liberdade e Diversidade)

15 de janeiro de 2014

Por Katia Marko – Blog da Redação

Fifa - a pior corporação do mundo

Campanha denuncia entidade que reduz futebol à mercadoria, elitiza estádios e impõe obrigações exorbitantes a sociedades e países. Um clic basta, para votar.

A Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP), rede que reúne 12 comitês em todas as cidades que terão jogos, lançou nesta semana a campanha “FIFA, aqui você não apita!”. O objetivo é eleger a FIFA como a pior corporação do ano de 2013, através do Public Eye Awards, conhecido como o “Nobel” da vergonha corporativa mundial.

Nos materiais da campanha são apresentados motivos para votar na FIFA: como a entidade põe governos e parlamentares de joelhos, viola direitos, explora nossa força de trabalho, desrespeita nossa cultura. Depois vai embora, com lucros bilionários para si e seus patrocinadores, ignorando todos os prejuízos deixados para a população dos países-sede. Mas no Brasil, algo novo aconteceu: durante a Copa das Confederações, a população se levantou contra uma série de absurdos, e um dos motivos foi justamente a atuação da FIFA em conchavo com governos e empresas. Ainda assim, a federação continua tentando vender uma imagem de melhorias para os países-sede.
Para votar, leva só um minuto: Acesse http://publiceye.ch/pt-pt/case/fifa/

Veja o TUMBLR da campanha para eleger a FIFA como PIOR corporação do mundo!  http://votefifa.tumblr.com/

A campanha também está na página da ANCOP. CURTA E COMPARTILHE:  https://www.facebook.com/pages/Articula%C3%A7%C3%A3o-Nacional-dos-Comit%C3%AAs-Populares-da-Copa/219757011452914?ref=hl

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Representantes de ministérios tentam acordo entre índios tenharim e moradores de Humaitá

15/01/2014 at 15:36 (*Liberdade e Diversidade)

15 janeiro 2014

Agência Brasil

Índios Tenharim2

Representantes dos ministérios do Meio Ambiente, da Justiça, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social seguem nesta manhã para a Terra Indígena Tenharim Marmelos, a cerca de 150 quilômetros do município de Humaitá, no sul do estado do Amazonas.

A equipe desembarcou na região do conflito entre os índios tenharim e a população de Humaitá, na última segunda-feira (13) para tentar uma solução para os conflitos e, principalmente, para que os índios não voltem a cobrar pedágio na BR-230 (Transamazônica), que corta a reserva.

Há quase um mês, os índios tenharim estão isolados nas aldeias. Impedidos de cobrar o pedágio e impossibilitados de se deslocar até a cidade, estão dependentes da assistência do governo federal. A Fundação Nacional do Índio (Funai) tem distribuído cestas básicas e medicamentos.

Moradores da cidade acusam os índios de terem sequestrado três homens, em 16 de dezembro, em represália à morte do cacique Ivan Tenharim, no início do mês passado. Uma nota do então coordenador da regional da Funai, Ivã Bocchini, levantou a suspeita de que o líder tenharim teria sido assassinado. A polícia apontou a causa da morte como acidente de moto. Na sexta-feira (10), Bocchini foi exonerado do cargo.

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Sociólogo analisa “Rolezinho”

15/01/2014 at 15:01 (*Liberdade e Diversidade)

Sociólogo analisa “rolezinho”, explica preconceitos e cita apartheid social e racial

15/01/2014

Pedro Heiderich / Midiamax News

Paulo Cabral2

Em busca de uma análise mais profunda sobre o movimento do “rolezinho”, que pode chegar a Campo Grande (evento no Facebook combina rolezinho no Shopping Campo Grande para o fim deste mês), o Midiamax conversou com o sociólogo, professor e cientista político Paulo Cabral, 54.

Cabral avaliou o rolezinho como um movimento contestatório e inteligente. “Esses jovens da periferia contestam a ordem estabelecida pela elite e lhe causa desconforto, já que ocupam um espaço (shopping) que sempre foi exclusivo da classe média alta”, explica.

O sociólogo discorreu sobre o motivo que leva as pessoas que frequentam os shoppings discriminarem, temerem e rejeitarem o rolezinho. “A classe média alta, principalmente a recém-chegada, é obrigada a se lembrar de sua origem próxima com a presença dos jovens da periferia. E ela não quer se lembrar da pobreza. Por isso este ranço, este medo”.

Cabral vê que o incômodo causado não é só pela questão da segurança. “A ordem é ameaçada com a presença deles. Jovens com a aparência muito distinta de quem frequenta os shoppings, indo ao espaço que é o templo do consumo da burguesia”.

O sociólogo diz acreditar que os jovens só têm a intenção de mostrarem a “indesejável presença” e que não farão nada. “A ameaça existe, real ou imaginária. Na cabeça dos comerciantes, por exemplo, há risco de arrastão. E para os consumidores, o desconforto de ver os pobres disputando um espaço que sempre foi só deles incomoda muito”.

Recado dos jovens

Paulo alerta para o recado que os jovens do rolezinho querem dar. “Eles querem dizer que, embora invisíveis, escondidos na periferia, nós existimos, estamos aqui. Ó nóis aqui”. O sociólogo ainda segue a linha de que é necessário refletir a razão do fenômeno.

“O que é destinado para esta juventude? O que propomos aos jovens pobres, da periferia? O que o governo e a sociedade podem fazer? Falhamos em algum momento lá atrás, senão eles estariam fazendo algo mais interessante, não precisariam fazer o rolezinho”, destaca, citando políticas públicas como uma das soluções.

Apartheid social e racial

O coronel Davi declarou nesta quarta-feira (15) que os jovens vão “quebrar a cara” se quiserem fazer o rolezinho em Campo Grande. Para Cabral, impedir que determinado segmento de pessoas entre em um espaço público e é uma medida de segregação. “É apartheid social e racial, já que a maioria desses jovens é negra”, aponta.

O sociólogo ainda cita a questão jurídica. “Juridicamente é proibido barrar qualquer pessoa de entrar em qualquer local público. Está na Constituição, o direito de ir e vir, uma das grandes conquistas da humanidade. Mas parece que este direito só vale para a burguesia, para o proletariado não”, analisa.

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Imagem: relógio inútil em Campo Grande,MS

15/01/2014 at 10:38 (*Liberdade e Diversidade)

Relógio Inútil - Diário digital

*Relógio implantado pela antiga administração de Campo Grande,MS, e que não funciona. (Custo: R$ 45 mil!). É mole? Nada como viver num país,estado,cidade, sem problemas,né? (Fonte: Diário Digital).

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Rolezinhos: qual deles combina com você?

15/01/2014 at 10:14 (*Liberdade e Diversidade)

14 de janeiro de 2014

Gabriela Leite / Blog da Redação

Rolezinho - escadaria do shopping (SP)

Além dos adolescentes da periferia, também jovens politizados de forma mais tradicional programam ações. Mas há diferenças nítidas entre elas

Como aconteceu com os protestos de junho de 2013, a repressão aos encontros de adolescentes em shoppings de São Paulo pode sair pela culatra. Dias depois da decisão judicial que proibiu um rolezinho no aristocrático Itaim, e da violência contra os garotos em Itaquera, novas convocatórias multiplicam-se nas redes sociais. A principal novidade é o surgimento de um rolê político, que assume explicitamente o protesto contra a discriminação social. Até o momento, há dois convocados, ambos para o próximo sábado (19/1): em São Paulo e Rio. Mas as ações inspiradas pelo funk de ostentação continuam crescendo. São mais de quinze, espalhadas por diversos shoppings de São Paulo, além do Parque Ibirapuera e SESC Itaquera. Uma rápida análise, a partir das atividades agendadas no Facebook, pode revelar muito sobre a diferença entre estas as modalidades — e entre a juventude que as organiza.

Uma primeira distinção, muito clara, está em como cada grupo de jovens vê a violência. Nos rolês politizados, a crítica dirige-se, evidentemente, contra a polícia e o apartheid social. O jargão é sociológico. “Criminalizado como um dia foram a capoeira, o futebol, o samba, a MPB e o RAP, o funk moderno é tão contraditório em seu conteúdo quanto o é resistência em sua forma e estética”, diz a convocatória do Rolé contra o Racismo JK Iguatemi — marcado para o mesmo shopping que proibiu a entrada de pobres. Já os garotos discriminados parecem mais preocupados em não serem vistos como violentos ou praticantes de furtos. Num evento que convocava para ir no próximo sábado ao Shopping Tatuapé [e que foi deletado nesta terça-feira], um dos organizadores escreve, com as gírias comum a todos, que se alguém for para arrumar confusão, é melhor que não vá (ou “se for pra arrasta nessa porra nem cola”). Muitos comentam apoiando, e reclamam dos chamados “ratos de tênis” — jovens que assaltam para tomar tênis de marca para si. A maioria afirma que só vai para “curtir” e “beijar na boca”.

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E por que vão aos rolezinhos estes garotos, senão para, segundo a classe média, “fazer baderna”? Observando muitos dos eventos no Facebook, é possível construir um pequeno perfil sobre quem são e o que querem. Adolescentes, geralmente menores de idade, que encontram-se nos shoppings para se conhecer — principalmente para relações afetivas casuais, também muito comuns em festas de adolescentes de classes mais favorecidas. Muitas meninas e meninos criam, na própria página do evento, algumas brincadeiras sugestivas. Postam fotos de si mesmas e pedem para os interessados “curtirem”, o que indicará intenção de conhecerem no dia do encontro. Perguntam de que quebrada vêm os outros e também fazem enquetes para saber a idade, número e operadora de celular e outras informações pessoais. Entre os posts, algumas pessoas “de fora” aparecem para fazer críticas — “onde estão os pais dessas crianças?”, “vai estudar que você ganha mais” e até comentários mais violentos, chamando-os de bandidos. Quase sempre, são solenemente ignoradas.

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Os temidos adolescentes da periferia que ocupam às centenas os shoppings paulistanos não tencionam nada muito diferente do que é feito normalmente em boates, bailes, festas e reuniões de outras pessoas da sua idade. A diferença é que a rede permite que muitos se conheçam e marquem encontros em massa. Gostam, como muitos outros adolescentes de diferentes classes sociais, de “causar” — chamar a atenção, fazer bagunça. Praticar isso em um shopping apenas reflete o que a vida lhes ensinou desde sempre: o consumo define a pessoa que você é, e para estar dentro desta sociedade é muito recomendável mostrar para todos o que você tem. Fazer baile de funk ostentação na rua não pode, mas marcar encontros no shopping também não?

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Enquanto os adolescentes trocam fotos e promessas de beijos, e bem distante deles, a discussão sobre a segregação cresce. Os “rolezinhos politizados” espalharam-se por várias cidades do Brasil, em apoio a São Paulo e contra o preconceito contra os pobres e negros nos shoppings. Organizam-se como um protesto, planejam ações de contestação e trazem um discurso de luta contra a desigualdade social. Apesar de um deles ter sido organizado por movimentos negros e de periferia, a polêmica (também dentro da página do evento) é bem menos pacífica. Como tem sido comum em tantas discussões da internet, os “coxinhas” (gíria para chamar pessoas da classe média e alta com atitudes e opiniões conservadoras) atacam os “petralhas” (palavra ofensiva para se referir não apenas a petistas, mas a todos os que criticam o capitalismo) e vice versa. Debates sobre a legitimidade da classe média fazer protestos em favor dos mais pobres também enchem a página.

“Autênticos” ou politizados, os rolezinhos viraram pauta importante no debate sobre a falta de espaços públicos para os jovens da periferia. Põem em cheque também a suposta segurança asséptica que os shoppings centers prometem para certa classe consumidora — até quando acreditava-se que as grades e seguranças conseguiriam separar as classes sociais? A segregação racial e de classes, antes velada, agora expõe-se cada vez mais. Outra questão: os centros de consumo são local de encontro de adolescentes em São Paulo já há algum tempo, também entre os mais ricos. Se não eles, então qual o local apropriado para os jovens começarem sua vida social — e também amorosa-sexual? A questão da construção das cidades, exposta em uma tão grande quanto complexa, mostra-se cada vez mais de extrema importância para a compreensão de nossos dias.

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Rolezinho em shopping de Campo Grande,MS

15/01/2014 at 09:32 (*Liberdade e Diversidade)

14/01/2014

Pedro Heiderich / Midiamax News

Rolezinho no shopping Campo Grande jpg

“Rolezinho” em shopping da Capital é combinado no Facebook; veja o que pensa a população

O “rolezinho” feito por jovens da periferia de São Paulo em Shoppings da capital paulista causou polêmica em todo o Brasil. Organizado pelo Facebook, o encontro dos jovens, que vão em centenas, tem virado onda nas capitais brasileiras e pode chegar a Campo Grande. Evento no Facebook marca rolezinho no Shopping Campo Grande no dia 26 de janeiro.

Até agora, o evento já tem 200 confirmados. Com a descrição “Demorô CG! Um salve pra quem curte dar um rolê firmeza e ainda expor as contradições hipócritas da elite brasileira racista! (…)CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA! RACISMO NÃO! É nóis que luta!”, o evento pretende apoiar o ocorrido em São Paulo, onde houve repressão policial e shoppings chegaram a proibir a entrada de jovens da periferia.

Polêmico e revelador sobre como pensa a sociedade, o rolezinho virou assunto nacional. A reportagem foi às ruas ouvir as opiniões dos campo-grandenses.

Direito de ir e vir

O músico Matheus Martins, 19, é a favor. “Nada justifica a forma que esses jovens, sendo da favela ou não, foram tratados nos casos que já aconteceram”, diz. Matheus ainda ressaltou que não viu nada sobre furtos ou quebra de lojas. “Vi jovens que foram para a delegacia e depois foram liberados por não ter nada que os mantivessem lá”, declarou.

O acadêmico de letras Wagner Alves, 31, também pensa de forma semelhante. “Existe um direito básico de ir e vir. Quem foi que disse que tenho que me vestir ou parecer com certa classe social para ir ao shopping?”, questionou. “O shopping é o mundo de fantasia da classe média alta e estão querendo proibir certos grupos sociais de coabitar o mesmo espaço”, criticou.

Ana Paula Werri, 32, é professora e considera o rolezinho “extremamente légitimo”. Para a professora, os shoppings foram construídos para a classe média alta “se proteger” da pobreza. “O pobre não tem acesso à educação, cultura ou lazer. Os shoppings tornam-se centro de realização de todos os desejos. Aí você impede parte da população de adentrar estes espaços. Para mim isto revela o “apartheid social” em que vivemos”, destaca.

Totalmente contra

O soldado da Polícia Militar Wilson Costa postou em seu Facebook: “se tiver isso (rolezinho) em Campo Grande, vai levar borrachada, cambada de vagabundos… como digo sempre, inferninho pra eles”. Na postagem Wilson mostra vídeo em que jovens do rolezinho brigam com a guarda municipal.

“Não gosto quando falam mal da polícia quando ela está certa nas ações”, explica, sobre a postagem. Perguntado sobre o que deveria ser feito se houver rolezinho em Campo Grande, Wilson descartar barrar os jovens. “Barrar não, mas tem que monitorar as turmas que entrarem e se o segurança suspeitar, ele tem que ficar na cola”.

Na saída dos shoppings da Capital a rejeição ao movimento é quase que unânime. Estela Ribeiro, 32, disse torcer para que não aconteça o rolezinho em Campo Grande. “Tomara que não tenha, vou abrir loja aqui no shopping”. A funcionária pública Maria do Carmo, 53, também é contra. “Se reúnem para fazer bagunça”. Maria declarou que iria embora caso estivesse no shopping na hora do rolezinho. “Teria medo de ser assaltada”.

Juliano Trivellato, 33, publicitário, segue a mesma linha. “Sou contra, é só baderna. E ainda corre o risco de aproveitarem o tumulto para roubar. Eu ficaria com vontade de ir embora”, afirmou. A universitária Carla Araujo, 27, é contra, mas acredita que não é preciso ter medo. “Eles só querem chamar a atenção”.

Shoppings

A reportagem entrou em contato com os shoppings de Campo Grande perguntando do posicionamento deles caso aconteça o rolezinho. O Shopping Campo Grande limitou-se a dizer que “toma todas as medidas preventivas para garantir a segurança e bem estar dos clientes, lojistas e colaboradores do Centro Comercial”.

O Norte Sul Plaza também declarou apenas que “recebe muito bem os seus clientes e busca valorizar a cultura e o bem-estar de cada um, proporcionando ao público lazer e entretenimento com o máximo de conforto e segurança para todos os seus clientes.”

O Shopping Bosque dos Ipês não respondeu ao contato da reportagem.

(Colaborou Nealla Machado)

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