O lugar de cada coisa*

23/10/2009 at 00:32 (Flávio Marques)

Mais uma vez eu não consegui dormir! Isso não é novidade, mas os motivos, dessa vez, não foram as matérias que eu não faço, as transcrições de entrevista e nem o ensaio que, finalmente, acabou. Foi um único motivo e me fez querer – sei lá, acho que é muito mais que isso –, precisar escrever! É isso, eu preciso!  Eu tenho dessas coisas de ter a necessidade de fazer perguntas, de querer que as pessoas saibam, que as pessoas leiam, que elas escutem… E tal e etc. e coisa!

Pois é, a pergunta da vez é, ‘de onde vem?’.  Durante muito tempo eu estive as voltas com um clássico das perguntas,  ‘por quê?’. Teve também, o ‘quando?’, passando pelo ‘onde?’. Se eu fosse fazer uma lista de todas as perguntas que eu já fiz, esse seria o texto com o maior número de pontos de interrogação já escrito.

Agora, vocês é que devem estar se perguntando: “Esse sujeito pergunta tudo isso pra quem, afinal?”. Eu, maluco e estranho, pergunto a mim mesmo, para Deus e até para o Universo. Sim! Eu falo sozinho, mas já avisei que sou doido. Em algum lugar na TV tem alguém dizendo que “não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”. Deixando de lado qualquer clichê ou frase de efeito, comigo deve mesmo ser assim.

Há tantas e muitas coisas que todo mundo deveria saber de onde vem, principalmente as ruins. Assim  poderíamos pegar, por exemplo, a violência, a descriminação, o preconceito, a corrupção, a falta de dinheiro, a dor de barriga e outro monte de porcarias e levar de volta para o lugar de onde saíram e, antes de irmos embora, trancar a porta e jogar a chave fora!

Eu não quero começar nenhuma grande reflexão sobre os males do mundo e nem quero que ninguém saia por ai filosofando sobre nada. A vontade de escrever surgiu pelas coisas simples e, de certo ou talvez, porque eu não tenho nada pra fazer, sei lá. Mas de onde vem a inspiração?

É, é isso mesmo! De onde vem a inspiração da bailarina que ouviu a música, criou a coreografia e foi fazer arte usando o corpo? E a curiosidade do poeta da lágrima solitária que quis saber o que perdemos enquanto os olhos piscam, de onde vem? E o desejo do moço e/ou velho que canta desafinado para saber de onde vem a calma de um alguém? E de onde vem o traço do cara que derreteu os relógios para quem sabe, assim, parar o tempo? E de onde vem? E de onde? Onde?

Será que tem alguém aí que também gostaria de descobrir e saber onde fica o tal lugar? O que vocês gostariam de saber de onde vem? Será que todos fazem perguntas? Será que todo mundo precisa de respostas? Eu acho mesmo que não. Acho que nem todo mundo é assim. Mas eu sou, eu preciso! Se alguém encontrar o mapa que indica o caminho, me avisa porque eu estou à caça das minhas respostas.

*Eu dedico esse texto à Thaysa. A moça que vê o sol beijando o mar, toda vez que ele vai repousar. Shimbalaiê! Porque eu vou estar na platéia, sempre, assistindo ela dançar…

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O aquário gigante

17/10/2009 at 21:28 (Hermano de Melo)

Aquário do Pantanal

Aquário do Pantanal (Fonte: Fórum SkyscraperCity)

 Hermano de Melo*

Das 1.500 obras anunciadas recentemente (02/10/09) pelo governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), como parte do programa “MS Forte – Ações para o Desenvolvimento”, e com investimentos previstos da ordem de 3 bilhões de reais (espécie de PAC estadual), uma delas foi considerada “emblemática”. Trata-se da construção do “Aquário do Pantanal” no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, que deverá ser concluído entre dezembro de 2010 e início de 2011. Dessa forma, a Cidade Morena vai entrar para um seleto rol de cidades do Brasil e do Mundo, inclusive Cuiabá-MT (em reparos), a possuir um aquário gigante aberto à visitação pública.

O projeto Campo-grandense, assinado pelo renomado arquiteto paulista Ruy Ohtake (Parque Ecológico do Tietê, Projeto de adequação do Morumbi para a Copa do Mundo de 2014, etc.), em formato de um cilindro disposto horizontalmente e extremidades ogivais, terá mais de 10 mil metros quadrados de área construída e custará cerca de 60 milhões de reais aos cofres públicos estaduais. O “Aquário do Pantanal” abrigará mais de 350 espécies de animais, entre répteis, peixes, crustáceos e moluscos, com toda a rica biodiversidade dos rios do Estado e grande variedade de animais e plantas típicas. Prevê ainda bares, cafés, lojas e restaurantes que vão compor os espaços de convivência e descanso, integrados às atrações do Aquário.

O Governo do Estado justifica a execução do projeto porque “se trata de um importante espaço público que vai incrementar o turismo, gerar emprego e renda e garantir mais qualidade de vida à população. Será mais uma opção de lazer e entretenimento e promoverá a educação ambiental e a conservação do patrimônio natural do Pantanal”. Ao visitar o Estado, em dezembro do ano passado, Ohtake afirmou: “O Aquário de Campo Grande não será apenas um local de visitação para conhecer a fauna aquática do Estado. Será possível ter contato com bichos do Pantanal, almoçar em um restaurante suspenso com vista para toda cidade, entre outras atrações. O Aquário atuará como um instrumento de educação ambiental aliada ao lazer”. (Midiamaxnews, 02/10/09).

Após o anúncio do pacotaço de obras, os políticos presentes apoiaram em uníssono a iniciativa governamental. A prefeita de Três Lagoas, Simone Tebet (PMDB) disse: “As obras irão beneficiar Mato Grosso do Sul pelos próximos 40 anos”. O presidente da Câmara dos Vereadores, Paulo Siufi, não deixou por menos: “A Capital ainda é a menina dos olhos do governador. Vai receber o ‘Aquário do Pantanal’ no Parque das Nações Indígenas!” E quando perguntado se não seria importante a construção da unidade da UEMS, ao invés do Aquário, foi taxativo: “Houve uma pesquisa com a população (sic) e optamos pelo Aquário”.Para o atual prefeito Nelsinho Trad (PMDB), o Aquário vai auxiliar nos projetos de educação ambiental: “Imagino a curiosidade que vai provocar. Um lugar com tantas espécies juntas. É muito bom”. (Campograndenews, 02/10/09).

Em princípio, não se pode condenar a atitude do governador ao lançar em noite festiva tantas importantes obras para Mato Grosso do Sul, inclusive o megaprojeto “Aquário do Pantanal”. Afinal, ele deve pensar, prefeitos e governadores (inclusive ele mesmo e o atual prefeito Nelsinho Trad) já fizeram isso no passado e se deram bem – foram reeleitos! (Obramania, Correio do Estado, 25/06/07). Ademais, quem pode ser contra a construção de um belíssimo “Aquário” de 60 milhões de reais, onde a criançada e o público em geral irão apreciar os peixes nativos do pantanal sul-mato-grossense e, ao mesmo tempo, saborear um ‘pintado no espeto’ no restaurante local?

Por outro lado,é preciso fazer algumas ressalvas. Em primeiro lugar, será que é legal e ético por parte de um governo qualquer (quer seja municipal, estadual ou federal), anunciar um extenso pacote de obras às vésperas de um ano eleitoral? Segundo, numa escala de 0 a 5, qual será o nível de prioridade de uma obra da magnitude do “Aquário do Pantanal” em Campo Grande, no lugar, por exemplo, de uma creche em Selvíria ou de uma escola em Anastácio, ou mesmo da revitalização do centro de Campo Grande? Finalmente, por que os governantes, em geral, ao invés de perseguirem metas sociais, insistem em medir o desenvolvimento local pelo número de avenidas duplicadas, viadutos construídos, ruas asfaltadas, obras faraônicas anunciadas?

Na praia de Iracema, Fortaleza,Ceará, onde se implanta projeto semelhante ao daqui e que custará aos cofres públicos de lá cerca de 250 milhões de reais, o Fórum de Defesa da Criança e do Adolescente e o Instituto de Desenvolvimento Social e Cidadania impetraram uma ação civil pública para barrar a construção do “Aquário do Ceará”. As entidades alegam que “o poder público, antes de iniciar obras gigantescas como essa deveria olhar mais para o sistema sócio-educativo”. Mas a julgar pela febre de “Superaquários” que deverá assolar as diversas cidades do País nos próximos anos, é provável que em breve “esta terra ainda vai se tornar um imenso Aquarial”.

Fotos disponíveis no Fórum SkyscraperCity, postadas em 3/10/2009.

Interior do Aquário Gigante (Fonte: Fórum SkyscraperCity)

* Escritor e acadêmico de jornalismo

Artigo publicado no jornal Correio do Estado no dia 19 de outubro de 2009.

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Perfil de um “modinha”

10/10/2009 at 22:52 (Autores Convidados)

Rafael Shiroma

Ando de bota, calça jeans socada no rêgo (de preferência apertando as bolas também), uso camiseta apertada para paga uma de “garoto malhado”, a camiseta de preferência tem que ser do curso de veterinária, ou qualquer coisa relacionada a boi, boné pra mim tem que ser da Nelore (pra mim isso é marca de boné, não é raça de boi).

Nas horas vagas gosto de sair com meus amigos na S-10 cabine dupla do meu pai tocando aquele sertanejo ou funk, nós vamos lá no Miça e depois agente fuma uns “arguile” até dar a hora do show do João Carrero e Capataz ou alguma violada que tiver por ai. Levo a minha canequinha personalizada para encher a cara de cerveja. Pra mim, o limite é o coma alcoólico (as mina se amarra num bêbado).

Time do coração: qualquer um que estiver ganhando, até porque é o que tem mais torcida, né!!

Pior compra que já fez: Dreamcast, ia ser a modinha do ano, pena que faliu…

Livro de cabeceira: A Modinha e o Lundu no Século XVIII

Programa favorito: Esquadrão da moda

Filme Inesquecível: Brüno

Filosofia de vida: “Na vida nada se cria, tudo se copia e por tempo limitado”

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O que você tem a dizer sobre o protesto do diploma? NADA?

01/10/2009 at 00:39 (Raphaela Potter)

Foi assim mesmo, de uma hora para outra que eu decidi: “tenho que tacar um sapato nele”! Depois do e-mail que recebemos avisando da vinda do Ministro Gilmar Mendes à Campo Grande, para discutir a questão agrária (?????) no I Encontro do Fórum Nacional para Monitoramento e Resolução dos Conflitos Fundiários Rurais e Urbanos, eu não tive dúvidas; tenho que acabar com o cara que disse para eu ser cozinheira!

As minhas – nossas – lendas do Jornalismo da UFMS me acompanharam. Afinal, Keyciane e Flávio não perderiam isso por nada! E disseram que iam me visitar na prisão caso minha mãe, que estava avisada, não pagasse minha fiança. Fomos ao Palácio (Im)Popular da Cultura ontem, para que eu pudesse realizar a minha façanha.

Mas, nos deparamos com o primeiro problema; quem irá nos levar da UFMS até lá? Apelei para a classe burguesa e pelo meu poder de veterana na Universidade: “Rafaaaael, leva a gente, por favor?”. E ele, super gente boa, nos levou. Valeu mesmo Rafa!

Enfim, chegamos com um nariz de palhaço, um Flávio pintado e uma Keyciane de faixa. Encontramos vários acadêmicos em frente ao local do evento e nos juntamos a eles. “Gilmar é marajá, não precisa estudar!”. Corremos atrás de um carro que “supostamente” trazia o Ministro, e paramos nos quatro ou cinco policiais que impediram a nossa passagem. Se o Gilmar entrou pelos fundos eu não posso afirmar com certeza, porque aprendi na faculdade (que ele diz não precisarmos), que é dever do Jornalista noticiar apenas aquilo que é verdadeiro, que foi apurado diversas vezes. Mas tomara que ele tenha entrado pelos fundos mesmo!

Voltamos, gritamos com a ajuda do saudoso Professor Mario Marcio Cabreira e do casal Evelin e Lyvio, que deram ideias de gritos mais originais (Gritos Censurados!). Quando tudo estava muito bem, obrigada, escutei uma voz que dizia “Vamos embora”. Olhei para Keyci com cara de “o quê?”, e a voz confirmou o que eu havia ouvido. Era o Presidente do Sindicato dos Jornalistas de MS, Cleiton Salles que falava: “vamos embora, já chamamos mais a atenção para a gente do que para o evento, está ótimo”. E os protestantes obedeceram menos eu, Keyci, Flávio e Rafa. Não iríamos embora de jeito nenhum, precisávamos arranjar uma maneira de sermos ouvidos, cara a cara. Não era hora, lugar nem momento de levantarmos uma bandeira branca.

Claro que concordo com o “panelaço”, mas é preciso ter mais coragem e ir além do “bater de panelas”. A Keyciane disse: “vamos entrar? O que estamos fazendo aqui fora?”. Obviamente estávamos com medo, os seguranças haviam nos visto no protesto e podiam impedir a nossa entrada. Flávio e Rafa ficaram lá fora enquanto Keyci e eu… Entramos! Mas faltava entrar no lugar onde estava o Ministro. Um segurança meio desconfiadinho ficou nos encarando, então, me separei da Keyci e ela tentou primeiro. Tentou e… Entrou! “Sim, sim, eu vou conseguir entrar também”, pensei. Dei uma volta e, adivinhem?! Entrei!

O evento estava no fim, ouvi a voz do Gilmar Mendes desejando uma boa noite a todos os presentes. Mas não encontrava a Keyciane. O pessoal bateu palmas (????) e foi se dirigindo a saída enquanto eu, perdida, não sabia se gritava “SAFADO! CACHORRO! DEVOLVA O MEU DIPLOMA!”, ou se procurava a Keyci. Fui indo mais perto, mais perto, mais perto e, quando me dei conta estava lá, no meio dos Jornalistas que buscavam desesperadamente uma palavra do Ministro. Eu só queria o meu diploma!

Sem Rafa, sem Flávio e sem Keyci eu peguei minha câmera, que não é lá um IPhone mas serviu. “Ministro, o que você achou do protesto do diploma?” (…). O nada se repetiu três vezes, até que ele me respondeu, ou não respondeu, pelo o que me pareceu. Queria perguntar mais, mas minha colega de profissão “voltou à questão agrária”. Eu não me importei. Não joguei um sapato nele, mas fiz algo que eu não imaginava que poderia fazer. Fiz por vocês que lêem agora este texto, que buscam uma razão para continuar neste curso. Por mais que pareça clichê de filme infantil, quando queremos algo, e fazemos de tudo para alcançar o que almejamos, conseguimos. Pode não ser na primeira, na segunda ou na terceira, como no meu caso, mas uma hora conseguimos. E ainda no clichê de filmes bonitos, com ou sem diploma eu acredito: podemos mudar o mundo com o Jornalismo.

Raphaela Potter

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