Fadiga eleitoral
Hermano Melo*
A exemplo de outras 16 capitais do País, no próximo dia 28/10 Campo Grande (MS) terá um segundo turno nas eleições municipais, envolvendo os dois candidatos mais votados no primeiro: o advogado e radialista Alcides Bernal (PP), que ficou com 40,18% dos votos válidos, e o engenheiro civil e ex-secretário de obras do município, Edson Giroto (PMDB), com 27,99%. Com o anúncio imediato de apoio do PT (Vander Loubet, 4,87%), e principalmente após adesão do candidato do PSDB/PPS, deputado federal Reinaldo Azambuja (25,9%) e do PV, Marcelo Bluma (0,75%) à candidatura Bernal, as coisas ficaram ainda mais difíceis para o candidato da situação.
Embora sejam duas candidaturas de perfil conservador, a candidatura Bernal, ao que parece, atraiu a atenção de amplos setores da sociedade campo-grandense, particularmente os mais populares, situados na periferia da Capital. E o principal argumento chamativo dessa candidatura foi exatamente a busca do novo – de uma nova proposta para a administração da Cidade Morena: “de ouvir o povo”. Por outro lado, a candidatura Giroto parece imposta de cima para baixo, engessada, desconectada, e insiste na idéia de continuidade da atual administração de Nelsinho Trad, e a realização de mais e mais obras para Campo Grande, esquecendo-se, no entanto, do personagem principal – o ser humano que aqui vive e paga os seus impostos em dia!
No entanto, o diagnóstico mais preciso talvez sobre o que aconteceu para que o resultado das urnas fosse amplamente favorável ao candidato Alcides Bernal (PP) e desfavorável ao candidato oficial, Edson Giroto (PMDB), no 1º turno, foi o que disse o próprio governador do Estado, André Puccinelli, em entrevista concedida ao Correio do Estado em 09/10 após ser anunciado o resultado do pleito: (Com fisionomia abatida) “Houve uma multiplicidade de fatores que não detectaram o resultado final. Estão cansados do André? (…) Estão cansados do Nelsinho? (…) Estão cansados do Giroto por ele ter sido secretário meu e do Nelsinho todo esse tempo? Pode ser que sim. Quais são os fatores? Ninguém sabe”. Mas na verdade é provável que muitos tenham a resposta que interessa ao governador do Estado.
É possível que o fator-chave para a derrota parcial do candidato do governador no primeiro turno das eleições municipais de Campo Grande, embora não o único, talvez seja realmente fadiga eleitoral causada pela contínua permanência tanto dele quanto do prefeito Nelsinho Trad, ambos do PMDB, no poder. Como acontece na construção civil – e Giroto sabe disso – até vergalhões de aço se “cansam” com o passar do tempo! Daí porque a alternância de poder é salutar e o candidato do PP, Alcides Bernal, em última análise, encarna isso. É sempre bom lembrar, porém, que “eleição só termina quando acaba” e ainda há chance para o candidato do PMDB, Edson Giroto, dar a volta por cima no segundo turno das eleições municipais, embora a cada dia que passa essa possibilidade se torne mais e mais remota.
**Pesquisa recente do Ibope (19/10/2012) assegura que Alcides Bernal (PP) está com 68% dos votos válidos contra 32% de Edson Girotto (PMDB).
* Jornalista e escritor
Ted, ursinho deslocado
Hermano Melo*
Há duas semanas, dois cinemas de Campo Grande, MS, exibem o filme “Ted”, que trata da relação entre um ursinho de pelúcia falante e uma criança – que depois de adulta não sabe viver sem ele, e já desponta entre os filmes mais assistidos atualmente no Brasil. Calcula-se que essa comédia americana dirigida por Seth Macfarlane e estrelada por Mark Wahlberg e Mila Kunis, tenha sido vista por meio milhão de pessoas em todo o País! Além do marketing, acredita-se que um dos fatores que mais empurrou o filme para cima foi a publicidade conseguida pelo deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), ao tentar proibir a exibição da película no Brasil.
Aconteceu o seguinte: O deputado Protógenes foi assistir à “Ted” com o filho de 11 anos e o considerou impróprio até para menores de 18 anos “por fazer apologia ao uso de drogas”. Depois, no twitter, ele comentou: “‘Ted’ não é apropriado para nenhuma faixa etária. Incentivar o consumo de drogas é crime ainda mais usando ícones infantis. Não aceitamos mais esses enlatados culturais americanos no Brasil”. Em nota, porém, a Universal, distribuidora mundial da película, afirmou que o filme foi “submetido à apreciação do Ministério da Justiça e considerado inadequado para menores de 16 anos, por abordagem de drogas, conteúdo sexual e linguagem imprópria”. Mas apesar do “chiado” do deputado Protógenes, o filme foi lançado em 21/09 passado e vendeu mais de 207 mil ingressos em seu primeiro dia de exibição.
Embora Protógenes esteja correto ao execrar “Ted”, o filme apresenta alguns lampejos de criatividade – particularmente em relação aos efeitos de computação gráfica – e ao provocar risos na platéia por causa das diabruras do ursinho de pelúcia. Na verdade, trata-se de um filme tipo clichê, culturalmente pobre, que vulgariza o sexo e, por extensão, o ser humano, de linguajar chulo e descabido. Destinado em princípio ao público jovem, o filme conta a história de um homem adulto que tem como único amigo um urso de pelúcia que fuma maconha, ingere bebidas alcoólicas, faz sexo e fala palavrões o tempo inteiro. Nesse sentido, o deputado Protógenes tem razão ao se referir a “Ted” como impróprio para consumo de menores de 18 anos e um tipo de “pacote cultural americano” inaceitável.
É bom que se diga, porém, que foi acertada a decisão do Ministério da Justiça de não proibir a exibição de “Ted”, como queria o deputado Protógenes. Afinal, no campo das artes – e o cinema é a sétima delas – vale a máxima de que “é proibido proibir”, a não ser em casos excepcionais de grave preconceito racial, religioso, etc., ou ao denegrir a imagem de líder importante de uma nação. Afora isso, a notícia mais preocupante é saber que o diretor de “Ted”, Seth Macfarlane, foi escolhido como apresentador oficial do Oscar em fevereiro do ano que vem nos EUA. Será que isso é indicativo de que o filme do ursinho de pelúcia venha abiscoitar o Oscar 2013? Tomara que não.
* Jornalista e escritor
**Artigo publicado no jornal Correio do Estado,em 10/10/2012.