Minhoca no anzol

08/03/2012 at 22:18 (Hermano de Melo)

Hermano de Melo*

Repercutiu em todo Brasil a frase dita pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) em entrevista concedida à Rádio Eldorado/ESPN, um dia antes de assumir o comando do Ministério da Pesca e Aqüicultura (MPA) no lugar de Luiz Sérgio de Oliveira (PT-RJ): “Vou lhes dizer, com humildade. Eu nem sei colocar uma minhoca no anzol”.

 

No dia seguinte (02/03/2012), no discurso de posse, Crivella voltou a brincar com a afirmativa do dia anterior: “Não quero que a presidente fique triste por ter um ministro que não sabe colocar minhoca no anzol. Isso a gente aprende rápido. Pensar nos outros que é um pouco mais difícil.” E Dilma respondeu ao neoministro: “A gente aprende a colocar linha no anzol, o que é difícil é aprender a governar, de fato, para todos os brasileiros e brasileiras”.

Mas qual o significado político da ascensão de um senador de um partido ultraconservador – o PRB – no ministério do governo Dilma, dito de esquerda? “A explicação pode estar na coluna de Giba Um, de 02/03/2011, sob o título, “Nada de novo”: “Marcelo Crivella, novo ministro da Pesca, é engenheiro civil, além de bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (e sobrinho de Edir Macedo). Até aí, nada de novo: seu antecessor, Luiz Sérgio, era metalúrgico e, antes deles, Ideli Salvatti era física. No governo Lula, José Fritsch era cientista político e Altemir Gregolin, veterinário. Quanto a Luiz Sérgio, um blog de humor na internet revela a verdadeira razão de seu afastamento. Garante que Dilma não agüentava mais a concorrência dos cabelos (e topete) dele”.

Descontada a maldade da frase acima, a explicação para a presença de Marcelo Crivella no governo Dilma é simples: Primeiro, era preciso homenagear o ex-Vice de Lula, José Alencar (PRB), e trazer alguém do partido dele para a base política do governo Dilma; depois, corrigir o excesso verbal do chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, que, dias atrás, se referiu à batalha que o PT iria travar com a bancada evangélica no Congresso Nacional em torno de temas polêmicos, como o aborto e o kit anti-homofobia, este idéia do então Ministro da Educação, Fernando Haddad (PT-SP), candidato à Prefeitura de São Paulo.

Crivella jura que não houve nenhuma troca no convite que Dilma lhe fez: “A presidente não está fazendo investimento futuro, está pagando uma dívida conosco”. Para o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também evangélico, porém, “Crivella representa o partido dele e achar que os evangélicos vão ficar satisfeitos só porque um deles comanda o inexpressivo Ministério da Pesca é de provocar riso”. Já o bispo Edir Macedo não entende tanta polêmica em torno da nomeação de seu sobrinho para o Ministério da Pesca, só porque não tem experiência no setor. Ele garante que “Crivella sempre foi um pescador de almas”. (Giba Um, 05/03/2012).

Enfim, a melhor explicação para a presença do senador Marcelo Crivella no MPA, talvez esteja no discurso emocionado que a Presidente Dilma fez na despedida do ex-ministro Luiz Sérgio, quando chorou. É como se perguntasse a si mesma: Não é política “a arte de engolir sapos”?

* Jornalista e Escritor.

Artigo publicado no jornal Correio do Estado, em 08/03/2011.

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