A escolha do Indio

29/10/2010 at 12:22 (Hermano de Melo)

Hermano de Melo*


Quando em 30 de junho passado foi anunciado o nome do ex-baterista de rock, deputado federal e relator do projeto Ficha Limpa, Antonio Pedro de Siqueira Indio da Costa, 39 anos (agora 40), como candidato a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB/DEM), para a disputa das eleições presidenciais deste ano, muitos se perguntaram: Quem é esse cara? Segundo a cúpula dos dois partidos aliados, porém, os critérios para a escolha do parlamentar carioca, foram: o fato de ser jovem, ter uma boa presença no Congresso Nacional, ter sido um dos relatores do projeto Ficha Limpa, e por ser do Rio do Janeiro, terceiro colégio eleitoral do País. Na ocasião,ele foi saudado com entusiasmo por ACM neto (DEM/BA),que declarou: “Indio representa a lógica de renovação do partido”. Mas será que isso é suficiente para alguém se candidatar a vice-presidente da República Federativa do Brasil e, numa eventualidade, substituir o presidente?

O que se sabe é que a escolha de Indio da Costa para compor a chapa PSDB/DEM como vice-presidente, não foi lá tão pacífica assim. Na verdade, ele desbancou nomes de peso como o do senador paranaense Álvaro Dias, indicado pelo PSDB/PR (após troca de farpas e boicote do nome do senador);da ex-vice-governadora do Pará, Valéria Pires (PSDB/PA);do deputado federal José Carlos Aleluia (PSDB/BA) e do deputado federal e ex-ministro dos esportes no governo FHC,Carlos Melles (DEM/MG). É bom lembrar ainda que, antes da escolha recair sobre Indio da Costa,foram ventilados os nomes do não reeleito senador Mão Santa (PSC-PI), e do governador de Brasília-DF José Roberto Arruda (DEM-DF), preferido de José Serra (PSDB/SP), mas descartado posteriormente por causa do escândalo que abalou o DF – o denominado “mensalão do DEM”. (Portal Terra/e outras fontes,30/06/2010).

Charge do Alpino - Índio da Costa é o vice de Serra

O fato é que Indio da Costa, embora jovem, tem um bom currículo. Ele é filho de Luiz Eduardo Indio da Costa, um dos arquitetos mais reconhecidos do Brasil, e antes de se eleger deputado federal foi vereador por três vezes na cidade do Rio de Janeiro. É bacharel em direito pela Universidade Cândido Mendes, e especialista em Políticas Públicas pela UFRJ. É ligado politicamente ao ex-prefeito carioca Cesar Maia e ao filho dele, presidente do DEM, Rodrigo Maia, e ocupou o cargo de secretário de administração do Rio, entre 2001 e 2002. Em 2004, novamente como secretário municipal de administração do Rio de Janeiro,ele foi responsável por processo de licitação de merenda escolar considerado fraudulento e que resultou na abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara do Rio. O processo foi arquivado em 2008. No âmbito pessoal, Índio da Costa foi namorado de Rafaela Cacciola, filha do banqueiro Salvatore Cacciola (ex-dono do banco Marka, preso em Bangu 8, desde julho de 2008, por crime contra o sistema financeiro) e tem uma filha de seis anos, fruto de relacionamento com a espanhola Olivia Alvarado. (Último Segundo, 30/06/2010).

Mas o forte mesmo do vice de José Serra parece ser o mercado financeiro. Em 2006, quando concorreu a uma vaga na Câmara Federal, quase metade dos R$ 838,6 mil arrecadados por ele veio de fontes ligadas ao mercado. Do banco presidido pelo seu tio Luis Felippe Indio da Costa (Cruzeiro do Sul), ele recebeu a maior doação individual da campanha:R$ 100 mil. E na lista dos doadores figuram os bancos Itaú e Prosper, a Bolsa de Mercadorias e Futuros, além de acionistas. Também entre os que contribuíram com a campanha do deputado Indio está Richard Klein, sócio de Daniel Dantas na Santos Brasil, maior operadora de terminal de conteineres do Brasil. Em sua declaração de bens, entregue à Justiça Eleitoral em 2006, o deputado federal Indio da Costa disse ter um patrimônio avaliado em R$ 315 mil, entre ações, automóvel, imóvel e linhas telefônicas. (Blog do Saraiva, 01/07/2010).

Charge do Nani - Serra e o vice Índio da Costa

E talvez tenha sido essa relação íntima com o mercado financeiro que garantiu a indicação de Indio da Costa para vice de Serra. É provável que muitos ainda se recordem que, em fevereiro passado, quando ainda era governador de São Paulo, José Serra recebeu a visita da pop-star Madonna no Palácio dos Bandeirantes, a fim de envolver a ONG “Success for Kids” (SFK) nas escolas paulistas, num polêmico convênio (Ver: “A visita da Madonna”, no Correio do Estado e blog “Liberdade,Liberdade”,de 13/04/2010). Naquela ocasião, o banqueiro Luís Otávio Indio da Costa, primo do atual vice de Serra e dono do banco Cruzeiro do Sul, atraiu Madonna a São Paulo, para um almoço em sua mansão. O prato principal do cardápio foi uma generosa doação feita pelo banqueiro de US$ 1 milhão para a ONG dela, a SFK. Após o almoço, Madonna foi ao Palácio dos Bandeirantes para um bate-papo com o então governador Serra,e é provável que tenha sido aí que se deu o acordo que culminou com a indicação do deputado Indio da Costa para vice de Serra. Será que a cantora pop se deu conta disso? (planalto.blog.br., 27/07/2010).

Agora é esperar pra ver o que acontece no próximo domingo, 31 de outubro, quando das eleições gerais para a escolha do presidente e do vice-presidente do Brasil. No que se refere aos vices, de um lado está o deputado federal Michel Temer (PMDB/SP),70 anos, Doutor em Direito pela PUC de São Paulo e Presidente da Câmara dos Deputados pela terceira vez; de outro, o deputado federal Indio da Costa (DEM/RJ), 40 anos, advogado, especialista em políticas públicas pela UFRJ e um dos relatores do projeto Ficha Limpa. Em quem você confiaria mais para ocupar a presidência da República, caso ocorra vacância no cargo: Temer ou Indio? E por quem será que Madonna estará torcendo nesse domingo: Serra ou Dilma?

*Professor, escritor e aprendiz de jornalista.

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Marina e a onda verde

15/10/2010 at 19:48 (Hermano de Melo)

Hermano de Melo*

 

Marina Silva: Onda Verde ou Marolinha? (Charge do Diogo, disponível no Portal Eletrônico do Jornal da Tarde - 01/10/2010).

 

A exemplo do que ocorreu na maioria dos estados brasileiros, o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais de 03 de outubro passado em Mato Grosso do Sul, mostrou um crescimento significativo da candidatura Marina Silva na reta final.Aqui, José Serra (PSDB/DEM) venceu com 551.296 votos (42,35%), seguido de Dilma Roussef (PT/PMDB), com 518.877 (39,86%), e Marina Silva (PV), com 219.812 (16,88%). Este percentual representa quase 7% a mais do que se esperava da votação de Marina no início do processo eleitoral. Em função dessa imensa onda verde que percorreu o país de ponta a ponta, e que levou Marina Silva a alcançar quase 20 milhões de votos (o dobro do esperado), as perguntas que se faz, são: O que levou Marina Silva a alçar vôo tão alto no primeiro turno das eleições presidenciais? E no segundo turno, em quem o eleitorado do PV vai votar, Dilma ou Serra?

Nesse sentido, é bom lembrar que a posição oficial do Partido Verde para o segundo turno das eleições presidenciais, deverá ser conhecida a partir da convenção que se realizará em São Paulo no próximo dia 17 de outubro. Participarão do evento cerca de 90 pessoas, entre as quais, cinco representantes do Movimento Marina da Silva, cinco colaboradores do plano de governo, cinco delegados religiosos – integrantes de entidades cristãs – candidatos de legenda que disputaram os pleitos estaduais, a executiva nacional da sigla e a coordenação da campanha da senadora Marina Silva (PV-AC), além de deputados eleitos da agremiação. É possível que se pregue o voto nulo,ou dê Serra na cabeça nessa convenção. Mas qualquer que seja o resultado, é bem provável que grande parte dos filiados e admiradores do PV deverá votar no segundo turno conforme as suas próprias preferências (pra não dizer conveniências locais e regionais!).

Em recente artigo, intitulado “Marina em verde e rosa”, na revista “Carta Capital” (08/10/2010), o sociólogo Marcos Coimbra diz que, no primeiro turno das eleições presidenciais, Marina Silva obteve dois tipos de votos: o voto “antigo” ou “verde”, logo no início da campanha; e outro, o “novo”, na reta final. O primeiro é os 8% a 10% que ela alcançou em maio, na sua maioria de eleitores sensíveis aos temas ambientais e outros elementos de cunho regional (candidata do Norte) e religioso (comunidade evangélica). O segundo, originou-se em outros segmentos da sociedade e foi movido por valores diferentes. Essa segunda onda de votos pró-Marina foi “basicamente metropolitana, feminina e de classe média, típica de mulheres jovens, com média e alta escolaridade, muitas evangélicas”,diz Coimbra. E acrescenta:“Se tivemos uma primeira “onda verde”,com fundamentos racionais, a segunda foi uma “onda rosa, assentada nas emoções”. E pergunta: “E agora no segundo turno? Terão Dilma ou Serra como atrair os “verdes”, que não gostavam de nenhum dos dois? E como falar com os integrantes da segunda onda, que pouca atenção dão às questões programáticas?”

 

Marina Silva em reunião com representantes do PV (Foto: ABr, disponível no Portal EcoDebate)

 

Embora a análise feita por Coimbra seja em grande parte correta e esclarecedora, existem outros fatores que certamente contribuíram para essa melhor performance de Marina no primeiro turno das eleições presidenciais. Que tal considerar, por exemplo, o fator vice? A presença de um vice-presidente bilionário na campanha de Marina, no estilo Guilherme Peirão Leal, um dos donos da Natura (com 25% das ações da empresa), e com patrimônio estimado em quase 1,2 bilhão de reais, que é 72 vezes superior à soma declarada pelos demais 17 candidatos à presidência e vice-presidência da República, não fez diferença? Só pelo fato de ter à disposição para se deslocar de um lado para outro do país um avião Legacy (daquele mesmo modelo que derrubou um avião da Gol nos céus do Mato Grosso tempos atrás, matando todos os passageiros a bordo), pertencente ao empresário, além de várias horas de vôos fretadas e pagas pelo mesmo empresário,não seriam suficientes para dar uma guinada para cima na campanha de Marina? É bem provável que sim.

 

O jatinho de Marina Silva (Foto extraída do blog do Luís Nassif, publicada originalmente no "Seja dita a verdade", blog que desmente supostos boatos relacionados à candidata do PT, Dilma Roussef)

 

Como diz Maurício Abdalla no artigo, “Marina,…você se pintou?” do blog “O girassol”, em 08/10/2010: (…) “Mas os filhos das trevas sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja. Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul tucano. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve,que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. (…) E a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno e a mídia não se cansa de propagar a vitória da Marina. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige. Marina, você faça tudo, mas faça o favor: não deixem que a pintem de azul tucano”.

Tá certo, Marina,que Dilma não tem o carisma, nem o “cheiro de povo” de Lula, mas Serra também não! No embate que se avizinha em 31 de outubro próximo, entre Dilma e Serra, o que está em jogo são dois tipos distintos de projetos políticos para o Brasil. O primeiro, encabeçado por José Serra (PSDB/DEM), tem como objetivo voltar ao passado e privilegiar as mesmas elites rural e urbana que sempre foram melhor aquinhoadas em governos tucanos. O segundo, liderado por Dilma Roussef (PT/PMDB), pretende dar continuidade ao programa do governo Lula, com desenvolvimento econômico e melhor distribuição da renda nacional. Isso faz com que mais brasileiros saiam do linha de pobreza e tenham acesso à saúde, educação e a uma vida digna e de melhor qualidade. E não é isso em última análise o que você quer, Marina?

* Professor, escritor e acadêmico de jornalismo.

Artigo publicado no sábado, dia 16 de outubro, no Jornal Correio do Estado.

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Daquilo de saber quem se é

04/10/2010 at 22:09 (Flávio Marques)

Eu teria ido se soubesse o que dizer. Não fui embora porque era mais fácil ficar e botar a culpa nela.

Acordava todos os dias e pensava onde seria o melhor lugar. O que me deixava ali não  era a covardia, mas a culpa que  me consumiria se estivesse só comigo, em qualquer parte. Eu teria de encarar o fato de que não haveria mais ninguém a quem culpar. A culpa foi toda minha.

Quando a conheci, já sabia quem eu era. Passei pela Rua das Palmeiras e a vi. Que sorte a minha, ficava ali o cartório do seu Antônio Bento  e ficava ali a casa dela. Desde o primeiro dia me mostrei e vi que ela reparou. Eu me mostrava, ela olhava e sorria.

Ela saiu da janela de madeira da casa dos pais, para a prisão que eu criei para nós, à Rua João de Almeida Campos. 17, no bairro do Laranjal. Eu me apaixonei por ela, eu a amei desde o segundo instante, porque no primeiro tudo ficou confuso com a sua beleza.

Foi no dia 23 de março de 1958. Entramos pela porta da frente da nossa casa, eu a carreguei no colo, como tinha que ser – tanto que fizemos isso duas vezes. A minha vontade era levá-la no colo pelo resto da vida. Tê-la era garantia de felicidade, eu a queria sempre perto e só pra mim. Com ela tinha toda a certeza, mas medo de tudo.

Eu fui capaz de enfrentar o mundo para que pudéssemos viver o nosso o amor. Só não fui capaz de me libertar do ciúme. Não consegui perceber que aquela mulher extraordinária era do mundo, quem nasce como ela, com alma de artista nunca é de uma pessoa só. Gente assim tem que espelhar arte por aí. Infelizmente, não fui capaz de entender que se a deixasse dançar para todo mundo, ela seria cada vez mais minha.

Desde o começo eu sabia quem eu era. Hoje, sete anos depois de sua morte, sei mais ainda quem eu sou. Eu sou Maria Antonieta de Andrade que amou por toda a vida Margarida Peçanha da Costa. Perdão por ter te amarrado com o meu ciúme. É por isso que hoje escrevo, para contar ao mundo da nossa história. Para que todos saibam… Para que todos saibam quem são, para que todos ajudem a propagar a voz de toda forma de Amor. Em memória do dia em que nos carregamos no colo para entrar na nossa casa.

Antonieta Andrade Peçanha da Costa

de 11 de julho de 2005 para todo o sempre de

um amor verdadeiro.

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O gato Billy e a reforma agrária

02/10/2010 at 08:25 (Hermano de Melo)

*Hermano Melo


É provável que muitos ainda se lembrem do episódio que aconteceu no município de Antônio João (MS), em janeiro de 2009. Naquela ocasião, descobriu-se, após três meses de investigação, que o coordenador do programa Bolsa Família na região e servidor efetivo da prefeitura local, Eurico Siqueira da Rosa, incluiu o seu gato de estimação de nome Billy entre os beneficiários, e deixou dezenas de famílias carentes fora do Fome Zero. Embora o cadastro apontasse 1.184 benefícios pagos pelo governo federal, apenas 900 estariam recebendo regularmente. Além do gato da família, cadastrado com o nome de Billy Flores da Rosa, retificado depois para Brendo Flores da Silva, o coordenador cadastrou também a mulher, filhos e sobrinhos. Billy ou Brendo recebeu o benefício durante cinco meses. Para cadastrar seu gato, o coordenador municipal providenciou documento de inscrição, grafou o nome Billy Flores da Rosa, com data de nascimento em fevereiro de 2008. O gato ganhou até número de identificação social!

Assista ao vídeo e relembre "o caso Billy".

Mas,como diz o ditado, mentira tem perna curta (nem sempre, é claro!). Tudo corria muito bem até que o agente de saúde Almiro Adão dos Reis pediu que a mãe levasse Billy para exames biométricos no posto de saúde local, para comprovar peso e resultados de programa de nutrição. “Falei para ele vir pra cá, já que ela estava inscrita no Bolsa Família, trazer o Billy para pesar, e ela respondeu: o Billy é o meu gatinho”, contou o agente. O caso foi comunicado à Secretaria de Assistência Social do Município que abriu sindicância. No processo, Eurico confirmou a fraude, mas inocentou a esposa. “Ele alegou problemas financeiros e confirmou que inscreveu o gato”, disse a advogada da Prefeitura. Na ocasião, a secretária de assistência social de Antonio João, Neuza Carillo lamentou as consequências da fraude para as famílias que realmente precisam do benefício, e declarou: “A fraude colocou em suspeita todo o processo de inscrição do programa na cidade, por isso vamos fazer uma convocação e chamar um técnico do Estado para conferir se todos estão dentro dos critérios e exigências do Bolsa Família”. (Edmir Conceição/Elizângela Marques,TV Morena, 23/01/2009).

Veja mais um vídeo sobre a fraude no Programa Bolsa Família.

Guardadas as devidas proporções, o incidente com o gato Billy se assemelha muito às recentes denúncias feitas pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre irregularidades envolvendo o Incra/MS, assentados e empresários, que ocorreram no processo de reforma agrária em alguns assentamentos rurais de Itaquiraí (MS). Embora o fato seja realmente grave e exija apuração e punição dos envolvidos na falcatrua, ele ocorreu há cerca de dois anos quando o superintendente do Incra/MS era outro e diz respeito à parte dos assentamentos da Fazenda Santo Antonio, que foi desapropriada para fins de reforma agrária. Denúncias de irregularidades como essas (assim como as que foram feitas recentemente de superfaturamento na compra de fazenda para fins de reforma agrária em Corumbá,MS), terminam por comprometer todo o processo de assentamento de famílias e da reforma agrária no Estado, pelo menos até que tudo seja devidamente esclarecido.

Neste caso, da mesma forma que no episódio Billy,os prejudicados não são apenas aqueles diretamente envolvidos no processo instaurado pelo Ministério Público Federal (MPF) e que corre sob segredo de justiça, mas sim todos aqueles (a grande maioria) que estão dentro da lei, quer seja como acampado ou assentado, e que lutam por um pedaço de terra para trabalhar e produzir alimentos. E os prejuízos advindos da paralisação nos trabalhos de assentamento, por conta de uma investigação como essa, são incalculáveis. É que os recursos destinados à infraestrutura nos assentamentos rurais e que são repassados pelo Incra/MS, tais como, liberação de crédito para melhoria de estradas, construção de casas, instalações de luz e água, cestas básicas, Pronaf, etc., que normalmente são demorados, se prolongam ainda mais, repercutindo sobretudo na produção e ânimo dos 177 assentamentos rurais e na Reforma Agrária no Estado.

Mato Grosso do Sul e Mato Grosso lideram o ranking nacional em concentração de terras. Eles ocupam o primeiro e segundo lugares entre todos os estados do país, com, respectivamente,75% e 69% das propriedades rurais acima do limite compreendido como justo, ou seja, 35 módulos fiscais, ou mais de 3.500 hectares, segundo cartilha lançada pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo. O módulo fiscal é uma referência estabelecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que define a área mínima suficiente para prover o sustento e a vida digna de uma família de trabalhadores rurais. Isto significa que existem cerca de 65 milhões de hectares para Reforma Agrária só em Mato Grosso do Sul! E esse quadro de disparidade no uso da terra levou Gilberto Portes, secretário executivo do Fórum a declarar: “Os dois Matos são a simbologia do latifúndio no país (Keka Werneck,22/07/2010).

Mas o novo superintendente regional do Incra/MS, Manuel Furtado Neves está otimista. Em 22 de setembro último, em audiência com as lideranças da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), na sede do órgão em Campo Grande, ele comunicou que até o dia seguinte (23/09), R$ 631 mil estariam disponíveis para sete assentamentos em cinco municípios do Estado. Afirmou ainda que os créditos serão liberados para projetos de assentamento que os técnicos do Incra comprovarem estarem regulares. Explicou também que os laudos e vistorias foram retomados e que os trabalhos de obtenção de novas áreas destinadas à reforma agrária estão em ritmo normal. E concluiu: “Dentro do panorama favorável, a meta de assentamentos no Estado permanece em 3,5 mil famílias para 2010”. O que se espera, além disso,é que os gatos Billy daqui sejam exemplarmente punidos e que não se encontre mais bichanos desse tipo soltos por aí.

* Médico Veterinário, Escritor e Acadêmico de Jornalismo da UFMS

Artigo publicado no jornal Correio do Estado em 01 de setembro de 2010.

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