O malathion e a dengue

20/09/2010 at 21:40 (Hermano de Melo)

Hermano de Melo*


Em dois de agosto último, a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande,MS (Sesau),anunciou as ações que serão realizadas pelo município no combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue: visita de agentes de saúde às residências,estabelecimentos comerciais,prédios abandonados e terrenos baldios, e a utilização de um novo inseticida nos carros fumacês e bombas costais,o malathion. De acordo com o coordenador de controle de vetores do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Alcides Ferreira, que participará da campanha em conjunto com a Sesau, “o novo inseticida é mais potente e não traz riscos a saúde das pessoas”. E completou: “Ele é mais eficaz, porque é diluído em óleo de soja e se torna mais resistente no ar, atingindo grande área”. E a Secretária-Adjunta de Saúde, Ana Lúcia Lírio,enfatizou:“O novo inseticida tem 100% de eficácia contra o mosquito da dengue”.(Álvaro Barbosa,Campo Grande Notícias/MS,02/08/10).

Conforme a assessoria da Sesau, Campo Grande já deveria estar usando o malathion desde o final de 2009, mas o Ministério da Saúde não enviou a tempo o novo inseticida que vai substituir o “Aqua K-Othrine, que é diluído em água e por isso menos potente”. Alcides Ferreira alertou ainda que “os moradores dos bairros onde houver a passagem dos veículos fumacês, devem abrir as janelas, permitindo que a casa fique protegida”. Ele lembra que o novo inseticida “é inofensivo para os seres humanos e animais domésticos, mas que é preciso proteger alimentos e água potável usada para consumo”. Nas aplicações manuais, ou seja, dentro de casa, os moradores devem obrigatoriamente cobrir gaiolas de pássaros e aquários, além de esperar cerca de 30 minutos para voltar para dentro da residência. Dados da Sesau revelam que Campo Grande registrou nos seis primeiros meses deste ano, 38.822 casos de dengue, com 22 mortes. (Assessoria de Comunicação da Sesau e do CCZ,02/08/2010).


Para o infectologista Edmilson Migowiski, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, porém, “em termos de saúde pública, sair pulverizando a comunidade é inócuo para controle da epidemia e muito deletério para o meio ambiente. Não vai funcionar”, sentenciou. Para Migowiski, “além de não ter efeito residual, esse inseticida não funciona no combate ao Aedes aegipty. Ao contrário da pulverização na agricultura, em que o inseto está no meio da plantação ao ar livre, o mosquito transmissor da dengue está dentro de casa, na maioria das vezes. E dentro de casa, a pulverização não pega debaixo da cama, debaixo dos armários, debaixo da pia”, explicou. O infectologista enfatizou ainda que “o segredo de combate à dengue está no combate ao criadouro, no combate à água parada. Se eliminar a água parada, não tem onde o mosquito proliferar”. (Alana Gandra/Agência Abril, 26/04/2008).

Em matéria recente no estadao.com.br (02/09/2010), Lígia Formenti informa que 80% dos brasileiros vivem em Estados onde há risco alto ou muito alto de epidemia de dengue neste ano. Das 27 unidades federadas, 19 apresentam essa classificação, e Mato Grosso do Sul aparece como de risco moderado nesse ranking. “É preciso redobrar a prevenção”, diz o ministro José Gomes Temporão. O ministro reforçou que só o combate ao mosquito pode reduzir o número de casos. E admitiu que, enquanto não houver uma vacina eficaz contra todos os quatro tipos de vírus que provocam a doença, o problema não irá se resolver. “Não há solução mágica”, disse ele. Outra recomendação é de que os municípios iniciem o combate dos focos nas áreas consideradas de risco para a doença. Até julho deste ano, foram registrados 942.153 casos suspeitos de dengue no País. Do total, 51% dos casos no Sudeste.

Mas o que preocupa mesmo é saber se o malathion, um potente veneno organofosforado, é de fato eficaz no combate ao mosquito da dengue e se é inofensivo aos humanos, demais seres vivos e ao meio ambiente, quando aplicado na bomba costal ou nos carros fumacês. Quanto à eficácia, é provável que quando aplicado sob a forma de bomba costal no interior das residências, ela se aproxime de 100%, como disse a Secretária-Adjunta de Saúde, Ana Lírio. Entretanto, quando lançado ao ar sob a forma de spray pelos carros-fumacês, é muito provável que o inseticida atinja o alvo (no caso,o mosquito da dengue) em dosagem baixa ou mínima, comprometendo toda campanha antidengue. Em relação à segurança, o malathion está longe de ser um produto inócuo. Nesse sentido, é bom lembrar que o Ministério Público Federal entrou com ação pública por improbidade administrativa contra os membros da comissão criada em 2004 para prestar atendimento médico às vítimas intoxicadas pelo malathion no município de Serra, no Espírito Santo, em 1996. Naquela ocasião,11 pessoas morreram e cerca de 150 foram intoxicadas pelo produto. No organismo humano, o malathion afeta o sistema nervoso central,causa problemas no cérebro e outros órgãos vitais, contribui para o desenvolvimento do câncer, além de atrapalhar a formação do feto.(Gazeta on-line, 14/08/2010).

E para saber mais sobre a toxicidade dos organofosforados, em cujo grupo o malathion se inclui,basta ler o trabalho da jornalista recém-formada pela UFMS, Marcelle Souza, uma das vencedoras da 1º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, sob a tutoria do jornalista José Hamilton Ribeiro, e publicado no caderno “Mercado” da Folha de São Paulo em 17 de julho deste ano. Em pesquisa realizada no município de Fátima do Sul (MS),ela constatou alto grau de intoxicação dos moradores com produtos organosfosforados utilizados nas lavouras de algodão. Marcelle inicia o texto assim:“A tristeza aparente aponta que é dia de velório. O cheiro que atravessa os cômodos, faz parentes e curiosos saírem para o quintal. O odor expõe o motivo daquela morte: Mauro de Souza Lucas cometeu suicídio com veneno da lavoura de algodão”.


*Médico-Veterinário, Escritor e Acadêmico de Jornalismo

Publicado no jornal Correio do Estado em 20 de setembro de 2010.

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Guerra ao Xixi

11/09/2010 at 10:25 (Hermano de Melo)

Hermano de Melo*


Conforme amplamente divulgado pela mídia nacional,em 12 de agosto último,no intuito de coibir os “mijões” de rua, a prefeitura de Salvador,BA, determinou que 22 câmeras usadas no monitoramento do trânsito, em diferentes pontos da cidade, sirvam também para flagrar pessoas que insistem em fazer das ruas da capital baiana um banheiro público.O anúncio foi feito pelo prefeito João Henrique (PMDB) no lançamento da campanha “Xixi na Rua, Não”, para alunos do 6º ao 9º ano da Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes,em São Cristovão. De acordo com o prefeito, mais 24 câmeras serão instaladas até o final de outubro, para fechar o cerco aos “mijões”. A medida do executivo municipal, além de polêmica, foi denominada por alguns de “Big Brother Xixi” (Anderson Sotero/Correio/Bahia,13/08/2010).

No lançamento da campanha anti-xixi, o prefeito ressaltou que os próprios usuários são responsáveis pela degradação dos banheiros públicos existentes, pois o pátio da Limpurb já acumula mais de 400 banheiros químicos depredados. Ele garantiu, no entanto, que nas regiões consideradas foco dos “mijões”, como o Centro Histórico, a Barra e o Comércio, já foram instalados 30 dos 50 banheiros previstos.“A Polícia Militar me pediu para que colocasse os banheiros antes que as ações de repressão fossem iniciadas”, explicou. Ele se reuniu também com cerca de 30 entidades da sociedade civil para reforçar a necessidade do choque de ordem promovido pela prefeitura contra o xixi nas ruas de Salvador.

E o “Big Brother do xixi” em Salvador funciona assim: a cada turno, três guardas municipais ficam na Central de Vídeo e Monitoramento da prefeitura e, quando alguém é flagrado pelas câmeras mijando na rua, o guarda municipal aciona uma patrulha da Polícia Militar (PM) ou da Guarda que estiver mais próxima ao local. E para facilitar a identificação dos mijões, o presidente da Companhia de governança de Eletrônica (Cogel), Nailton Lantyer Filho, diz que as câmeras possuem um ângulo de 360º que facilita a visão, além de um zoom que permite aproximar objetos em até 1 km. “Elas são os olhos da cidade”, destaca ele. (Anderson Sotero,idem acima).

Toda essa campanha começou, na verdade,no início de agosto deste ano (02/08/2010) quando, inspirado em ação semelhante da prefeitura do Rio de Janeiro de reprimir o xixi nas ruas, o prefeito de Salvador decidiu fazer o mesmo na capital baiana, baseado na lei que pune o atentado ao pudor. No Rio, segundo consta, a medida levou 400 mijões para as delegacias! Como resultado disso, a prefeitura de Salvador firmou parceria com a Polícia Militar para prender aqueles que urinam nas vias públicas, por se tratar de um ato obsceno passível de punição. Reprimir mijões, portanto, faz parte da estratégia da prefeitura local de colocar ordem em Salvador (Blog do Noblat/Globo,02/08/10;Bom Dia Brasil/Rede Globo,09/08/2010).

A ação da prefeitura de Salvador contra os mijões de rua, porém, não se deve apenas a aspectos estéticos e/ou de saúde pública, mas também aos prejuízos econômicos causados pelo xixi aos cofres públicos. Só em 2009, a prefeitura local precisou restaurar dois viadutos e quinze passarelas cujos pilares foram carcomidos pelo xixi! É que a urina penetra pelos poros do concreto até atingir o aço, provocando a corrosão da estrutura metálica.(Folha Online, 16/04/2009).Os maus hábitos locais são de tal monta que no ano passado a arquidiocese de Salvador teve de substituir parte das portas da catedral primacial do país, apodrecidas depois de receber esguichos de xixi durante décadas. E o cardeal dom Geraldo Magella vive implorando à população de incontinentes para não usar a basílica do século XVII como banheiro público.(Luciano Coutinho/Blog de Paulo Mascarenhas/Revista Veja,06/07/2010).

Mas nem todos concordam com a lei anti-xixi baixada pelo prefeito João Alberto. A jornalista Nadja Pereira, do Sindicato dos Bancários, por exemplo, diz que se trata “de mais um factóide” (05/09/2010). “Claro que fazer xixi nas ruas eleva os gastos na conservação de bens públicos, mas definitivamente ele não é um dos nossos maiores (e mais urgentes problemas). A falta de mobilidade é sim motivo de grande preocupação que não deixaria nenhum administrador público ter tempo de inventar nenhuma nota sensacionalista”. E para a vereadora e candidata a deputada estadual Aladilce Souza (PCdoB/BA), “a prefeitura deveria se preocupar com questões mais sérias, como o risco iminente de desabamentos de encostas no período de chuvas, com a queda do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no município, com os buracos nas ruas e as péssimas condições do trânsito”. (Portal Vermelho Brasil,03/08/2010).

Apesar da mania de urinar nas ruas ser de fato muito mais séria em Salvador, que em quaisquer outras cidades brasileiras (quiçá até do mundo!),em Porto Alegre, o Ministério Público exigiu que a prefeitura restaurasse o Monumento aos Açorianos, que ameaçava desabar por causa da quantidade de urina despejada nele. E no Rio de Janeiro, o xixi esburacou os Arcos da Lapa, cujo conserto vai custar 1,2 milhões de reais (Luciano Coutinho/ idem acima). E pasmem: até um município norueguês (blog da Cilene,13/julho/2007) colocou a polícia para multar os mijões de rua. É que mesmo sendo ilegal fazer xixi na rua, os noruegueses fazem xixi em qualquer lugar (deve ser a cerveja!).

Em Campo Grande, embora não seja hábito da população fazer xixi nas ruas, dois problemas são visíveis: a situação do banheiro público da Praça Ary Coelho (que, aliás, necessita de uma reforma já!), e a ausência de banheiros químicos ao lado das barracas de lanche que funcionam durante toda noite/madrugada no canteiro central da Avenida Afonso Pena. E é justo ali, em frente ao Colégio Joaquim Murtinho e imediações, geralmente após um final de semana prolongado, que é possível sentir o cheiro característico de amônia no ar. Sinal de que tem gente esvaziando a bexiga! Que tal colocar banheiro químico ao lado de cada barraca,hein?

*Médico-Veterinário, Escritor e Acadêmico de Jornalismo da UFMS.

Artigo publicado no jornal Correio do Estado, em 13 de setembro de 2010, com o título “Xixi em Salvador”.

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Da luz, do amor e do Sol

07/09/2010 at 23:57 (Flávio Marques)

da clarividência dos anjos

Seu maior talento é fazer nascerem os raios de Sol.

Seu moço encheu a Terra de Luz.

Clareou o meu mundo, o dele e de outro tanto de gente.

Daqui a pouco seu moço tentará fazer com que a luz das pessoas não se apague.

De iluminar o Universo de quem espera por um dos seus voltar pra casa.

Seu moço está apredendo a fazer isso acontecer.

Eu peço a Deus que o ilumine para que ele sempre volte pra casa

Para a claridade dos Seus Raios-de-Sol.

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