Um pouco mais que palavras

30/12/2009 at 23:24 (Matheus Cabral)

Quanto tempo que eu não dava minha “cara” por aqui. Um pouco por desleixo, um pouco por preguiça, mas eu acredito que minha ausência (prolongada, sim) foi de não ter algo realmente importante ou que valesse mesmo a pena comentar. Estamos no último dia do ano (ou à alguns 65 minutos dele) e com toda aquela gama de postagem das pessoas no twitter, falando de suas experiências ao longo do ano, eu me peguei em um momento nostálgico e sentimental (talvez seja redundância, não sei dizer) e resolvi falar algumas palavras, mas espero que serão mais que palavras, talvez lembranças, sentimentos, sei lá.

Esse ano foi um pouco conturbado para mim, acho que a maioria dos meus colegas de classe notaram. Eu não me sentia bem com um milhão de coisas que aconteciam ao meu redor, e isso não é de agora, vem de antes. Não me sentia bem, e acho que esse ano foi decisivo pra mim em inúmeras possibilidades.

2009 foi o ano de eu tomar uma decisão que pode ter sido a mais burra, ou a mais genial, que eu tenha tomado em minha vida. Abandonar o curso de Jornalismo. O primeiro momento que eu encarei essa ideia, tomei uma decisão de imediato, impensada, sim, mas não quis revelar nada a ninguém; pensei comigo “deve ser mais uma fase daquelas em que eu desejo ter um tênis novo e procuro conseguir isso até me esgotar e encontrar um novo modelo para me sentir atraído”. Não foi bem assim. A ideia amadureceu, tomou corpo e jogou sobre mim incontáveis argumentos que a fortalecia e fazia eu ainda mais a querer por perto.

Meu primeiro medo foi contar para os meus pais, tinha receio de eles discordarem da minha decisão e não me permitir seguir com meu plano. Eles discordaram, como todo pai sensato, que ralou anos para conseguir pagar uma escola decente para o filho, faria. Meu medo era a reação do meu pai, mas a dele foi a mais surpreendente “Faça o que você achar ser o certo”. Minha mãe bateu o pé, exigiu, ameaçou, mas diante da minha postura firme de continuar com aquilo, ela cedeu sem querer ceder. Normal.

Tomada a decisão, eu segui meu rumo, com dúvidas, mas segui. Eu tá infeliz, não queria mais continuar, e tomar essa decisão me deu um ânimo que nem mesmo eu vi algum dia em mim. Peguei nos livros, estudei (apesar de não ter sido daquele jeito “devorar os livros” eu estudei) e prestei meus vestibulares. Agora tô aguardando o veredicto se passei ou não.

O real motivo de eu ter passado aqui não foi pra relatar minha loucura de abandonar o curso, mas sim para deixar aqui minha marca e desejar a todos um feliz 2010. Posso não ter histórias incríveis compartilhadas com todos os colegas, posso não ter entrado em discussões calorosas, posso não ter rido com todos, mas quero lembrar a todos que não esqueço das aulas em que todos (ou quase) estavam presentes ali, voltados para um mesmo ponto, apreendendo a mesma ideia. Posso dizer que vou levar essa experiência para toda minha vida. Aprendi muitas coisas, até fiquei analisando o filme “Avatar” segundo a Escola de Frankfurt (depois parei e fui curtir o filme, claro). Muitas coisas foram vividas, muitas ainda serão e espero que todos aproveitem. E em breve (tomara) sei colega, mas de Universidade.

Espero que não foram somente palavras jogadas fora, e que signifiquem mais que isso. Obrigado, por tudo.

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daqueles que vem com o fim de um ano

27/12/2009 at 12:59 (Flávio Marques)

Eu ouvi o cara pedindo pra brincar, pra pintar o nariz. A brincadeira era a tal felicidade, mas até agora, aqui escrevendo, acho que ela não é muito fácil. Só que hoje passou por aqui um anjo, que veio à Terra há pouco tempo. Eu me lembro bem do dia. Foi um novembro de manhã e o anúncio veio pelo grito de seu moço que não se agüentava de alegria, era tanta que o moço-menino, que guardava um sorriso bem grande, desenhou o anjinho e veio correndo mostrar. Daí em diante todo mundo recebe toda a luz que vem dela, é ela sim! E é luz que vem da cabeça aos pés e ilumina a gente.

O mais engraçado é o jeito como ela faz isso, de deixar a vida tão boa e simples. E é um jeito que sai sem jeito e sem esforço. É como se ela não precisasse fazer nada e tudo ao mesmo tempo. Ela chega perto e fala ou não fala, já faz tudo ficar melhor. É um gesto, um sorriso que ela dá e isso já chega pra todos estarem rindo juntos. Os anjos têm guardado com eles a felicidade. Aquela que eu tinha falado antes e que desejo pra tanta gente. Felicidade que é muito mais que alegria e que vem sem motivo nenhum e com todos os motivos do mundo.

O meu anjo brinca de ser feliz dentro do jogo da vida, que é bem difícil e cheio de regras. É assim com as outras pessoas também. Mas essas regras não fazem diferença pra ela. Parece que quanto menos tempo se está sobre o tabuleiro, mais fácil ele fica. A menina do cabelo de sol não precisa de muita coisa pra jogar e se dar bem. Principalmente se ela estiver junto com o anjo mais velho. O moço tem sorte, recebeu dois de presente lá do céu. O anjo-menino já tá aqui há mais tempo, chegou a cinco outubros atrás. Ele agora brinca de um jeito diferente, com a mesma pureza dos pequenos, mas também sem tanta facilidade. Ai, eu fiquei pensando, enquanto olhava os dois brincando, o que é que muda? O que fica diferente? Parece que vamos desaprendendo enquanto o tempo passa.

No rádio escutei alguém dizendo “Será que é tempo que lhe falta pra perceber, será que temos esse tempo pra perder? E quem quer saber, vida é tão rara”. E a gente esquece-se disso, falta paciência e sobra pressa de chegar, de ganhar o jogo. Os meus anjinhos e todos os outros não se preocupam com isso, ainda. Mas será que essa preocupação precisar vir? E a raridade que é estar vivo, a gente esquece quando? Quem cantava a música que eu ouvi reconhece que “mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma […] a vida não pára”. E que ninguém ouse mexer no ritmo vida, no seu ciclo. Mas para estar nesse jogo, nessa grande roda não precisamos correr a ponto de precisarmos atropelar uns aos outros. Eu vou ficar aqui tentando aprender com os meus anjinhos como brincar de jogar a vida, mesmo sem saber acho que toda criança é mestre nisso. Ah, mas tem uma coisa! Quem tiver a oportunidade de entrar na roda e subir no tabuleiro não pode correr muito, para não correr sozinho. Mas também não pode, de jeito nenhum, ficar parado.

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Copenhague e o pré-sal

19/12/2009 at 12:34 (Hermano de Melo)

Vídeo produzido pelo greenpeace.org.br

Hermano de Melo*

O Brasil, a exemplo da China e da Índia, apresentou à 15ª Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, Dinamarca, a proposta de reduzir em cerca de 40% a emissão de gases-estufa até o ano 2020. Para atingir essa meta, o governo brasileiro se compromete, dentre outras medidas, a diminuir em 80% e 40%, respectivamente, o desmatamento da Amazônia e do Cerrado brasileiros. Mas para o principal negociador da União Européia (UE) para o clima, Artur Runge-Metzger, isso não basta. E cobrou uma posição sobre o uso do pré-sal: “Sabemos que muito petróleo foi encontrado em frente à costa brasileira. Ele será usado em grande escala?” perguntou. “Até hoje a matriz energética brasileira é limpa, majoritariamente de hidrelétricas e o País tem a vantagem de usar muito biocombustível. Mas isso pode mudar radicalmente se essa grande quantidade de petróleo for utilizada” (Agencia Estado, 11/12/2009).

E Runge-Metzger tem razão ao levantar tal querela. Ora, se o Brasil está efetivamente preocupado com o futuro do Planeta e a mitigação dos efeitos maléficos dos gases efeito-estufa, a fim de evitar o aquecimento global – e a sua proposta perante o Fórum do Clima em Copenhague revela isso – o que o País pretende efetivamente fazer com os cerca de 300 bilhões de barris de petróleo que se estima serão retirados da camada do pré-sal brasileiro a partir dos próximos dez anos?

Em relação à utilização do petróleo da camada de pré-sal no Brasil, há pelo menos duas correntes que defendem posições antagônicas. A primeira, amplamente divulgada pela mídia e encabeçada pelo próprio governo brasileiro, tendo como timoneiros o presidente Lula e a ministra Dilma Roussef, assegura que o óleo negro do pré-sal fará do Brasil um País muito melhor e que o povo brasileiro será o grande beneficiário desse imenso manancial de petróleo descoberto no litoral brasileiro. Como disse recentemente o presidente Lula: “O petróleo pertence ao Estado, ou seja, a todo o povo brasileiro.Com o modelo de partilha, poderemos aproveitar a riqueza que Deus nos deu. Não vamos deslumbrar e sair por aí como novos ricos torrando o dinheiro com bobagem. O pré-sal é um passaporte para o futuro”.

E o advogado Castagna Maia (Carta Capital, 27/09/2009), vai ainda mais longe e diz que com apenas 14% do que vai ser arrecadado com as reservas de petróleo do pré-sal (total estimado em 730 bilhões de dólares), “o Brasil pode fazer um novo fundo igual à soma do FAT e do FGTS, mais 20 trens-bala, uma Harvard tropical e corrigir e manter aposentadorias do INSS”. De certa forma, essa proposta reedita em muito a campanha ufanista “O petróleo é nosso”, desencadeada na década de quarenta do século passado e que culminou com a criação da Petrobrás, em 1953 (Kaosbrasil, 02/09/2009).

A segunda corrente, apesar de reconhecer a importância política e econômica do pré-sal para o País, não embarca nesse ufanismo todo. Ela alerta para o fato de que além de custos altíssimos relacionados à extração, pagamento de royalties, refino e comercialização do óleo extraído do pré-sal, os bilhões de barris de petróleo (estimativa) que serão retirados do fundo do mar brasileiro nos próximos 10-20 anos vão, de fato, na contramão da história! É o que diz, por exemplo, o jornalista e ambientalista Fernando Marcelo Tavares (EcoDebate, 28/11/2009): “Não há política e projeto no Brasil em andamento que possa garantir a conquista das metas anunciadas (em Copenhague). Enquanto para a sustentabilidade ambiental não existem projetos consistentes, nem recursos relevantes, o setor de petróleo e gás vai abocanhar mais de 60% dos recursos destinados à Indústria, cerca de 28 bilhões de dólares até 2012. E para 2015 estão previstas mais seis termelétricas movidas a carvão mineral, engrossando a lista de usinas poluentes do governo Lula. Para as reservas gigantes do pré-sal e todo o CO2 correspondente são estimados investimentos próximos aos 170 bilhões de reais”. E pergunta: “Como reduzir nossas emissões quando os investimentos e perspectivas estão voltados para a exploração de combustíveis fósseis?”.

De volta, portanto, ao argumento levantado em Copenhague pelo cientista do clima Runge-Metzger quanto à destinação do petróleo proveniente do pré-sal, sua preocupação é a mesma de milhões de brasileiros que pretendem deixar um País/Planeta melhores para seus filhos e netos. Neste caso, a pergunta é inevitável: como conciliar metas de 40% na redução de emissão de gases-estufa numa economia voltada essencialmente para o desenvolvimento de energias sujas, quer sejam suas fontes oriundas do petróleo, de termelétricas ou de cana-de-açúcar? E mais: quanto o Brasil vai investir nos próximos anos em projetos de energia limpa?

Por fim, ao afirmar que “a matriz energética brasileira é limpa porque se baseia essencialmente em hidrelétricas e biocombustíveis”, Metzger não percebeu que isso pode não ser mais verdadeiro nos dias de hoje! Uma hidrelétrica como a de Belo Monte, no Pará, provocará danos ambientais e humanos tão sérios quanto parte do petróleo retirado do pré-sal ou pelas termelétricas que se pretende construir até 2015. Quanto aos biocombustíveis, é só dar uma passadinha pelo interior de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, para constatar os danos provocados ao meio ambiente pela cultura desenfreada da cana-de-açúcar em áreas do Cerrado brasileiro. Que o diga a praga da mosca-do-estábulo, né?

Artigo publicado em 19/12/2009 no jornal Correio do Estado.

* Médico-veterinário, escritor, pesquisador e estudante de jornalismo.

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Quem é que manda aqui afinal?

13/12/2009 at 13:37 (Keyciane Pedrosa)

Vídeo disponível no vimeo.com

Ouvi, certa vez, a Profª Drª Fabiany Tavares, do Departamento de Educação da UFMS, num Simpósio sobre Educação no Colégio Militar de Campo Grande, falar sobre a ideologia do “educação para todos” e sobre os caminhos para uma educação verdadeiramente inclusiva. O evento era sobre a metodologia de ensino dos colégios militares e sua paranóica obsessão por resultados. Enfim, nem o mais puro e ingênuo dos seres é capaz de negar as repercussões da doutrina militar na educação desses colégios. Basta dizer que o auditório onde assisti a palestra da Profª  Fabiany é emoldurado por dois pilares onde estão cravados, em letras grandes e douradas, as palavras “hierarquia” e “disciplina”. Mas não é sóbre isso que quero falar agora. Em algum momento da apresentação da Profª Fabiany, ela proferiu uma frase que me marcou profundamente. Ela declarou que vivemos, no Brasil, ao longo de nossa história, idéias sobre democracia, mas, nunca, práticas verdadeiramente democráticas.

Prova disso é esse vídeo que postei aí em cima. Ele mostra que o que sustenta o “ordem e progresso” nesse país é a violência. Ele mostra só uma das muitas barbaridades cometidas pela Polícia Militar (PM) do Distrito Federal na repressão às manifestações populares da última quarta-feira (9). Detalhe: eram manifestações motivadas pelo Dia Internacional contra a Corrupção. Contra os verdadeiros bandidos.

Igualmente chocante como essa agressão sofrida por José Ricardo Padilha, que depois de detido foi espancado e ameaçado de morte, é esse segundo vídeo (veja aqui) que mostra o militante João Batista Filho sendo pisoteado pela cavalaria da PM com as mãos na cabeça, tentando se proteger. O jovem foi salvo pelos colegas, cuja reação foi entregar flores aos policiais, enquanto entoavam o Hino Nacional.

E depois de tudo isso, o coronel Silva Filho, comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, e que aparece no primeiro vídeo, declara ao blog do Ricardo Noblat: “Estou tranquilo, sei que a Justiça vai me absolver”!

Quem é que manda aqui afinal? Quem é que manda numa verdadeira democracia? Até quando vamos  continuar cultivando idéias sobre democracia sem construir práticas verdadeiramente democráticas? Até quando esses f@#$%& vão agir como se fossem os donos do país? Até quando vamos deixar que eles façam isso em vez de ocupar os espaços que realmente são nossos por dever e por direito?  Quando é que vamos aprender e praticar o princípio constitucional de que “todo poder emana do povo”?

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