Pela moral e os bons costumes (mas só no jornalismo)

31/12/2008 at 01:38 (Keyciane Pedrosa)

Engraçado como tudo serve de reflexão sobre o jornalismo. E de quebra serve para outras reflexões, tão importantes quanto.

No mesmo dia em que sugeri um texto sobre (pseudo) roqueiros que adoram aparecer peladões por aí, assistindo ao “Conexão Roberto D’Avila” (TV Brasil), vi a reprise de uma entrevista cedida pelo ator Pedro Cardoso, que representa o Agostinho em “A Grande Família” (TV Globo). A entrevista falava, basicamente, da polêmica que o ator criou na estréia do filme “Todo mundo tem problemas sexuais” (que apesar do tema e do nome, não apresenta cenas de nudez), no cinema Odeon, no Rio de Janeiro , no dia 08 de outubro desse ano que está prestes a terminar.

Para quem já sabe, não custa lembrar. Para quem costuma ser o último a saber, como eu, vou tentar explicar. Mas me limitarei ao essencial. Se mais quiseres saber, acesse o blog onde o ator publicou uma série de textos embasando sua revolta: http://todomundotemproblemassexuais.zip.net/.

Pedro Cardoso apresentou, na noite de estréia, um texto em que expõe suas idéias sobre o que ele denomina como “pornografia disfarçada”. No blog, desenvolveu melhor sua tese. Suas principais críticas recaem sobre as cenas de nudez na TV e no cinema, mas ele, também, critica programas de auditório com suas dançarinas semi-nuas, programas de humor que, por exemplo, colocam uma mulher nua atrás de uma cerca e a publicidade.

Para Cardoso, essa “pornografia disfarçada” avilta a profissão de ator (uma leitura apaixonada enxergaria a veia revolucionária de Lélia Abramo) e empobrece a arte dramática. O ator denuncia a mercantilização do corpo e o fato de que os atores, mais, ainda, as atrizes, quase não encontram papéis onde não sejam obrigados a ficar nus.

Aproveitando a repercussão do “texto do Odeon”, ele deu belas entrevistas, como a que motivou esse texto (quem não viu, é só procurar no youtube), onde critica, ainda, os realities shows. Muita dessa repercussão se deve ao ataque que Cardoso fez, de forma genérica, a diretores e roteiristas (que trabalham, sempre, vestidos) e a um suposto relacionamento do ator com uma atriz que teria sido, também, supostamente, constrangida em cenas de nudez. Quem gosta de fofoca, procure as revistas especializadas.

Como sempre, o não-dito importa – e é mais interessante – que o que de fato foi dito. Em outras palavras, não importa o fato, mas a versão do fato. Falaremos disso mais adiante.

Cardoso defende posições polêmicas como a de que, na cena de nudez, quem está nu é o ator, e não o personagem. Defende, ainda, que a nudez impede a comédia e, a que eu considero mais delicada, que a arte deve provocar pensamentos e não sensações. A pornografia, na definição do ator, estimula o desejo sexual. A verdadeira arte, para ele, não deveria estimular o desejo, mas a reflexão sobre o ato sexual e os tabus nele implicados, assim como os dramas da vida íntima. Nada entendo da arte de interpretar e a discussão da pertinência ou não desses argumentos deixo aos leitores-artistas deste blog.

Outras questões parecem, ainda, mais pertinentes. E merecem ampla discussão. São questões menos conceituais e mais éticas, para não dizer políticas. Questões como a precária qualidade da TV aberta, que enquanto concessão pública (ah, não sabia ou quer ler mais? Acesse o site http://www.direitoacomunicacao.org.br/novo) deveria atender ao interesse público (agora, defina interesse público!) e não ao privado. Questões como o machismo presente, persistente e alimentado na mídia (cadê que há programas de auditório com dançarinos sarados vestidos de go go boys?). Questões como as relativas aos direitos da infância (já repararam na redução drástica do espaço para programação infantil? Em pensar que há uns 10 anos toda “celebridade instantânea” ganhava um programa infantil, nem que fosse para falar “i” de escola!). Questões como a identidade cultural do Brasil sempre associada, ou melhor, reduzida ao tripé futebol, caipirinha e carnaval (olha a Globeleza aí, gente!). 

Por isso, apesar de discordar de Pedro Cardoso na condenação da pornografia (afinal, se dá dinheiro, é porque alguém compra! O receptor não é passivo, lembram?), concordo em gênero, número e grau na percepção de que ela é ubíqua e exagerada. Qual é a finalidade daquelas dançarinas de shortinho no programa Silvio Santos, por exemplo?

Entendo a argumentação do ator, mas acredito que a nudez pode ser arte sim. Como na performance do artista plástico Maurício Ianês que ficou 12 dias, em novembro, nu no prédio da bienal de São Paulo. Além de nu, o artista ficou sem água e comida, sobrevivendo do que lhe foi dado pelos visitantes. É, no mínimo, curioso. A arte está justamente nos cantinhos escondidos da alma, que, através dos artistas são escancarados. Por isso que é, simultaneamente, genial e complicada. Além disso, não gosto muito do moralismo murcho à moda dos apocalípticos que prega que a mídia leva a um rebaixamento cultural. Muita coisa elevada (tem gente que chama de Cult) sai do lodo, da lama, dos bares (principalmente), dos prostíbulos e outros becos escuros da nenhum-pouco-comportada sociedade brasileira. Sai muita coisa ruim, obviamente, também. Mas se há espaço para a o conteúdo pornográfico, que haja também espaço para outros conteúdos. E que, como defende Cardoso, não haja disfarces nem dissimulações. Para quê aquele monte de b… em propagandas de cerveja? Para mim é falta, pura e simplesmente, de criatividade. Duvideodó que o consumo diminua se tirar a mulherada… Ao contrário, outras estratégias são muito bem recebidas, como aqueles caranguejos (até hoje não entendi a piada, mas tudo bem!). Quanto aos constrangimentos a que os atores podem ser submetidos, merecem todo repúdio. Afinal, a integridade da pessoa humana está acima de todo dinheiro do mundo e de todo contrato de trabalho.

Essas questões são muito complexas e interessantes (e espero que vocês as comentem quando terminarem de ler o texto), mas, é outra questão, essa no âmbito do jornalismo, que realmente me preocupa: a questão da cobertura jornalística dos assuntos relacionados à própria mídia.  

Como disse anteriormente, nessa e noutras polêmicas, as coisas mais interessantes são as que não foram ditas. Do texto original, lido na noite de estréia, Pedro Cardoso omitiu alguns parágrafos temendo estender-se demais. O último deles era um recado aos jornalistas. Segundo o ator, os profissionais da imprensa, especialmente os que cobrem fatos culturais, vivem reféns da mesma “pornografia dissimulada”. São, também, constrangidos a fazer coisas que, pessoalmente, consideram ofensivas ou desnecessárias só para cumprir as ordens daqueles que só se preocupam em ganhar dinheiro. A imprensa de celebridades que o diga, mas Edgar Morin pode falar melhor dos “olimpianos” e o que os cerca do que eu. O fato é que o ator não acusou ninguém diretamente nem disse quem é a atriz que namora. Quem enxergou nomes no discurso do ator foram jornalistas. Foram eles também que acusaram o ator de moralista e de dar respaldo à censura. Foram eles que escreveram que o público desaprovou as palavras do ator quando o seu blog está abarrotado de comentários de apoio. Foram eles que distorceram as declarações de entrevistas. E falaram muito mais coisas, sem argumentar ou, mesmo, usar a “regra da atribuição” na tentativa de desautorizar a opinião de Cardoso.

Francamente! Só quem tem liberdade de expressão nesse país são os jornalistas? Todo mundo que fale coisas que desagrade aos chefões deve calar-se? Ninguém pode questionar o “pequeno poder” do Quarto Poder? A mídia tem a liberdade de mostrar todo tipo de porcaria e ninguém tem a liberdade de questionar? Tenha dó! Temo que alguns de vós, como eu, não tenham, sequer, tomado conhecimento das idéias desse ator que está toda quinta-feira diante dos brasileiros. Quem são os censores afinal? Para que servem os jornalistas, afinal? E quem precisa deles? O povo ou os seus patrões? Como escrevera (em outro contexto, evidentemente) o poeta Roberto Piva, só acredito na geléia genital! Brincadeira… Sabemos todos a importância da profissão de jornalista. E é por ela que eu clamo pela moral e os bons costumes. E tudo o que eu quero nesse ano novo é aprender a NÃO fazer essas coisas. Quem sabe se desejarmos juntos na virada, o desejo se realize? E já que estou nas derradeiras linhas… Feliz Ano Novo para todos vocês!

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no escurinho vendo Marley…

28/12/2008 at 16:53 (Thaysa Freitas)

Não sei porque insisto nessas coisas… Eu sabia que ia chorar que nem uma criança quando assistisse ao ‘adorável’ Marley nas telonas. Mas fui. E chorei, e chorei, e chorei… Como fiz quando li o último capítulo do livro dentro do ônibus.

O filme é maravilhoso! Um pouco longo, é verdade, mas é porque David Frankel resolveu intercalar as trapalhadas do cãozinho (não tão inho assim) com problemas cotidianos do casal Grogan. Problemas esses, aliás, que me deixaram cheia de medo.  Sempre fui do tipo louca pra casar e encher a casa de filhos, mas, meu deus, crianças chorando e cachorro me estressando, será que agüento? Você discutindo com seu amor, o sexo diminuindo no casamento… credo! Sinceramente, vi nessas cenas do filme bastante terror! Outra coisa que me preocupa: tudo bem que só fiz um ano da faculdade, mas parece-me que o que mais gosto de escrever é o que estaria perto daquilo que as pessoas chamam de coluna, crônica, e coisas do gênero. Por que não quero ser repórter, nem fazer coisas chatas de investigação. Mais legal é escrever sobre coisas bobas. Mas se alguém me pede pra escrever alguma coisa sem muito de mim, aí a coisa complica. Espero vencer isso em breve. E quando o John assume uma coluna diária? Escrever todos os dias deve ser assustador. E se a inspiração não vier? Como faz? Ainda me lembro da aflição que senti quando a Keyciane mandou o email com novo calendário de postagem e disse que cada um iria postar duas vezes em janeiro aqui no blog. E se eu não conseguir encontrar duas coisas interessantes sobre as quais falar? Mas tudo bem, qualquer coisa eu dou uma de John Grogan e escrevo sobre a Jolie, minha neném, que também não é desse mundo…. praga!

No mais, queria aconselhar a quem vai ver o filme, e gosta desses bichanos, que levem uma caixa de lenços, mas levem mesmo! Eu encontrei a Bruna Morales na sala do filme, mas não me atrevi a dar ‘oi’, pois seria incapaz de deixá-la me ver naquele estado: a cara toda inchada, os olhos vermelhos e o nariz mais do que entupido. O roteiro foi muito bem adaptado, a trilha sonora ajuda bastante e o cãozinho que você tem em casa vai receber um abraço mais apertado quando você voltar do cinema.

Puxa! Vai estender um pouco mais o post, mas não posso deixar de comentar o que me desagradou no filme. Quando o público vai ao cinema, ele paga pra ter suas expectativas atendidas, certo? Quem diabos escolheu o idiota do Owen Wilson pra interpretar o John Grogan? Eu queria ver um casal lindinho e gracioso em cena. E não me venham com aquela coisa da beleza relativa, pois é impossível que mesmo a mãe do Wilson o ache bonito. Com aquele nariz torto, aquele cabelo de palha e aquela boca que mais parece um c* de galinha, a imagem dele incomoda bastante, principalmente quando contrasta com a bonequice da Jennifer Aniston! Falei! Fui contrariada! Mas minha imaginação é forte! Fingi que o Grogan era interpretado pelo desenhado Eric Dane (o amigo Sebastian de John) e inverti os papéis. Foi melhor assim…

E o fim dessa aventura, já no banheiro do cinema, termina com uma senhora ao meu lado, se olhando no espelho e chupando o catarro do nariz. Eu olhei pra ela (pelo espelho) e comecei a rir. Ela me sorriu de volta e disse apenas: “eu estava no Marley! “

 

 

o neném invadindo um jogo de beisebol

o neném invadindo um jogo de beisebol

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What´s my age again?

28/12/2008 at 16:08 (Keyciane Pedrosa)

Um homem do século XVI e XVII ficaria espantado com as exigências de identidade civil a que nós nos submetemos com naturalidade. Assim que nossas crianças começam a falar, ensinamo-lhes seu nome, o nome de seus pais e sua idade. Ficamos muito orgulhosos quando Paulinho, ao ser perguntado sobre sua idade, responde corretamente que tem dois anos e meio. De fato, sentimos que é importante que Paulinho não erre: o que seria dele se esquecesse sua idade? (Philippe Ariès, historiador francês da família e da infância)

 relogio_quebrado

What´s my age again” é o nome de uma música da banda californiana Blink 182. O hit, que foi considerado uma das 40 melhores músicas dos anos 90 num canal de TV neo-zelandês (oh!) uns dois anos atrás, é aquela cujo clipe apresenta o trio peladão correndo pelas ruas de Los Angeles. Por falar nisso, essa de aparecer como veio ao mundo é um hábito arraigado entre (pseudo) roqueiros, seja John Lennon na capa de Two Virgins ou a banda NX Zero na capa da Rolling Stone, que renderia um interessante texto para o blog (fica aí a sugestão).

Enfim, mas não foi para discorrer sobre o estrelato punk rock que estou escrevendo esse texto. O fato é que essa música conta as confusões de uma rapaz de 23 anos que não age “de acordo com a sua idade”. Mas o que é agir de acordo com a idade? E porque as pessoas se preocupam tanto com ela?

Espera-se muita maturidade dos jovens. Cresça. E apareça. Muitos me chamam de infantil. Desde o colega insuportável da 7ª série, até minha irmã de 12 anos. Mas para quê crescer? Para chegar aos 40 querendo ter vinte e cinco?

A relação entre o homem e o tempo nunca foi das mais harmoniosas. Está certo que aprendemos a nos adaptar a ele, a plantar de acordo com a estação do ano, a prever quando vai chover. Mas não podemos, a despeito de toda tecnologia existente, controlá-lo. O tempo segue a sua marcha, imbatível, impassível. É um fluir constante, como as (famigeradas) águas do rio de Heráclito. Um devir irreversível, um movimento perpétuo em direção ao desconhecido.

E a vida passa. Nascemos, crescemos, morremos. Não importa o quanto reclamemos ou quantas lágrimas derramemos. “Porque o tempo, o tempo não pára”, como cantara Cazuza. Mas fazemos de tudo para diminuir nossa fragilidade frente a ele. Contamos os dias, as horas, os minutos de nossa existência. Tentamos controlar tudo. Temos hora para dormir, para acordar, para sorrir e para amar. Programamos viagens, cursos, filhos. A vida milimetricamente agendada. Deixamos tudo para amanhã, não é mesmo? Dessa forma, acreditamos “ganhar tempo”. Na verdade, estamos jogando-o fora!

E as inevitáveis marcas do tempo? É para isso que existem botox e cirurgia plástica. Para os menos radicais, produtos cosméticos. 50 anos com corpinho de 49. Para enganar o tempo. Para adiar o amanhã para o qual nos programamos diariamente. Para congelar o tempo. Para não perder aquilo que conquistamos. Alguns conseguem não perder de fato. Outros nem isso. Mas todos deixam de ganhar. Deixam de viver.

E qual a minha idade mesmo? Não importa. Pois a vida não tem data para acontecer. Ela é todo tempo, toda hora. E as coisas as quais a natureza nos condiciona virão de um jeito ou de outro. Não adianta apressá-las ou adiantá-las. Não importa se você tem 10 ou 100 anos. Pare de olhar para o relógio. Não é hora de acertar os ponteiros da sua vida?

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Colarinho branco

26/12/2008 at 14:26 (Hermano de Melo)

Hermano de Melo*

 

Responda depressa, caro leitor: o chope deve ou não deve ser tomado com colarinho? Para a desembargadora Maria Lúcia Luz Leiria, da 4ª Região do Tribunal Federal (TRF), em Porto Alegre, conforme reportagem publicada em outubro passado no “Diário Catarinense”, não há dúvida: “Chope sem espuma não é chope, como é conhecido nacionalmente”. A declaração da juíza, porém, não se refere aos gostos pessoais dela – que diz veementemente não gostar da bebida – mas a uma discussão que foi parar na justiça e se desenrolou durante oito anos!

A história é mais ou menos assim: em abril do ano 2000, em Blumenau, SC, cidade da Oktoberfest e do chope (hoje parece ser mais da enchente!), um fiscal do Inmetro (Instituto Nacional de Pesos e Medidas) foi ao restaurante Gruta Azul e pediu um chope. Em seguida, derramou o conteúdo num recipiente e mediu o volume – tinha menos do que os 350ml que constava no cardápio, pois o colarinho havia sumido. Para o Inmetro, só o líquido deveria ter sido cobrado e então o estabelecimento foi multado no equivalente hoje a R$ 1.064.

O restaurante recorreu da infração por três vezes – junto ao Inmetro, ao Conmetro e à Justiça Federal de Blumenau – até que em Outubro/2008 se livrou definitivamente da multa, graças à argumentação da desembargadora Maria Lúcia Leiria, que completou: “A espuma é um componente essencial da bebida”. O advogado Sérgio Hess de Souza, da empresa de advocacia que representou o ‘Gruta Azul’, comemorou a decisão e relembrou a polêmica: “Na época, o proprietário do restaurante, já falecido, ficou indignado”. Dizia que preferia fechar as portas a vender chope sem colarinho. Mas, no fim, o bom senso prevaleceu. E acrescentou: “O verdadeiro crime do colarinho branco é o chope sem colarinho”.

Existe, no entanto, um outro crime do colarinho branco no qual o Brasil se torna a cada dia um especialista, e que foi definido assim pelo criminalista americano Edwin Sutherland, em 1939: “Um crime cometido por pessoa respeitável, de alta posição (status), no exercício de suas ocupações”. No Brasil, esse tipo de crime é definido pela Lei do Colarinho Branco, No 7.492, de 16 de junho de 1986, mais a Lei No 9.613 de 03 de março de 1998 e outros dispositivos constitucionais e possui duas características marcantes: a privilegiada posição social do autor e a estreita relação da ação criminosa com sua profissão. Incluem-se nesse seleto grupo, os senhores (reparem que não há senhoras!) Paulo Maluf, Celso Pitta, Salvatore Cacciola, Daniel Dantas, Naji Nahas, Low Kim Chong, Fernandinho Beira-Mar, Moreno Gori – do lixogate Campo-grandense, e Bernard Madoff – que acaba de dar um tombo de US$ 50 bilhões utilizando o esquema da “pirâmide mágica” em Nova Iorque, EUA.    

O caso mais emblemático, no entanto, talvez seja o do empresário Daniel Dantas, pego pela “Operação Satiagraha”, desencadeada há algum tempo pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz – o desbancado super-herói nacional. O juiz Fausto Martin De Sanctis, antes de condenar pela segunda vez o banqueiro a 10 anos de cadeia em regime fechado, e multá-lo em 12 milhões de reais, traçou o perfil psicológico do macropredador econômico (Carta Capital, 10/12/08): “Além de irrenunciável sentimento de desprezo pelas instituições públicas brasileiras, revela, outrossim, intensidade de intenção dolosa na prática de crime contra a administração pública”; “mostrou-se de uma individualidade ímpar e irracional, egocêntrico, que se desvincula dos parâmetros sociais para satisfação de seu interesse”; “suas qualidades ou habilidades mais marcantes não se lastreiam na preservação de valores de ética ou correção”; e conclui: “parafraseando Nietzsche, tornou-se aquilo que verdadeiramente é. Revela-se, pois, de personalidade desajustada”.       

Em longa entrevista dada à revista “Caros Amigos” agora em dezembro (imperdível!), o delegado Protógenes – que prendeu todo esse povo acima, exceto Madoff e Gori – fez revelações bombásticas a respeito da política brasileira, sobre outros criminosos de colarinho branco e, claro, sobre a “Operação Satiagraha”: “Não pensávamos, diz ele, que o STF fosse contrariar toda a opinião pública brasileira, todas as regras jurídicas, todas as normas processuais”. E sobre Dantas: “Para a cadeia ele vai, condenado em um primeiro momento. Agora, mantê-lo na cadeia depende de nós, depende do povo”.

Voltando, porém, ao caso do chope de Blumenau, SC, o mestre cervejeiro Ilceu Dimer, que acumula há mais de 30 anos experiência na função, diz que a afirmação da juíza não poderia estar mais correta: “Espuma faz parte, chope sem colarinho é uma indecência”. Que tal então a gente tomar um chopinho com dois dedos de colarinho, hein? Feliz Natal!

 

* Escritor e acadêmico de Jornalismo

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Então é Natal

25/12/2008 at 03:19 (Gabriela Dias)

Gabriela Dias Medrado Rogério

 

Quem nunca esperou ansiosamente a visita do velhinho ou já fez uma cartinha com os pedidos de Natal que misteriosamente foram atendidos? Acredito que a maioria viveu momentos iguais ou similares a estes, e pensando neles parei para refletir sobre a essência desta data que contagia o mundo inteiro.

Esta é a época do ano, ou melhor, o dia em que famílias se reúnem para saborear o peru (que na minha casa é substituído pelo frango), as pessoas ficam solidárias umas com as outras, enfim, só sentimentos bons. Mas não poderíamos olhar para o próximo mais vezes? Grande parte prefere idealizar todas as famílias, enquadrando-as no modelo da propaganda do Peru Perdigão, com uma ceia farta e vários presentes embaixo da gigantesca árvore de Natal.

Empresários de uma hora para outra lembram das crianças carentes e vão à periferia vestidos de Papai Noel (afinal “seja rico, ou seja, pobre o velhinho sempre vem”). Será que elas merecem atenção apenas neste mês do ano?

Este texto pode parecer um pouco exagerado, mas representa a minha indignação perante uma sociedade que só vê as injustiças, ou melhor, os injustiçados quando quer.

Então, fica o meu pedido ao Papai Noel: que todos os dias do ano possam ser “natais” em que lembremos do nosso semelhante, pois só assim diminuiremos o abismo existente entre as classes.

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Permita-se

25/12/2008 at 03:03 (Samyra Yulle)

Samyra Yulle Galvão

Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira.O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos.Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos. (Martin Luther King)

Dedico este texto ao meu, ao seu, ao nosso Natal. Que a magia permaneça…

 

 

            Comove ler jornais e suas tragédias diárias. As mazelas do mundo estão escancradas a sua frente e neste meio tempo ainda sobra tempo pra o bom e velho jeitinho brasileiro! Questiona-se: Até que ponto chegamos…não perdoaram nem as doações para Santa Catarina… O que leva alguém a cometer tal atrocidade?

            per.mi.tir v.td. 1. Dar liberdade, poder ou licença para. 2. Admitir, tolerar. Td.i. 3. Permitir (1). 4. Tornar possível. P. 5. Tomar a liberdade de. Crianças só são doces ao pedir algo como presentes. Bobagem consumista esta de encarar um crediário por um presente que cairá no esquecimento. Estão todos bobos? Estamos em plena crise mundial, a recessão bate a porta e encontra uma guirlanda?

            Não responde as horas ao senhor que está ao seu lado no dentista. Suas reflexões o levam ao êxtase. Demasiadas vezes rascunhou um livro. As pessoas precisavam saber que tal personalidade existira. Era proprietário e não massa de manobra. Flaubert, Goethe, Dostoievsky, Rimbaud. A literatura o fascinava, o embriagava, seu ópio. Tão valiosa que preferia ler para si a ler para os filhos.

            Pausa para o almoço. Não queria ser perturbado. Aquele momento era só seu, ninguém teria o direito de privá-lo de uma boa digestão. E para isso, precisava encarar sozinho aquela etapa de sua vida: ele e a comida. O garçom retira o prato, mas antes, atenciosamente o fita e pede, como um servo atendendo os caprichos de seu amo: “Permita-me…”

            Ele não respondeu. Mais uma vez estava tomado por seus questionamentos. O garçom, sem esperanças de prover dali um gesto de educação, retira a louça e os talheres, pois outros precisam dele. Mal sabe ele o quanto aquele rapaz, um prodígio, o exímio empreendedor, precisava dele, precisava entender aquele enigma digno da obra de Sófocles. O que era permitir? Gerenciar suas propriedades?

            Dou-lhe 1,2,3 horas. Fim do expediente. Não vê a senhora que mal consegue se equilibrar com o próprio corpo o que dirá das sacolas de supermecado, ao tentar, inutilmente, tomar a balsa. Nem sequer olha para o passageiro ao seu lado que tenta ser amigável. Não tem tempo para bobagens, tem uma inquietação interna que o atormenta. Fora isso tem uma fila de problemas esperando por sua atenção.

            Chega em casa e vai direto ao encontro do dicionário. Os filhos podem esperar na escola. Afinal, ele paga o necessário para aulas de francês, mandarim, ballet, judô, natação… que não custaria nada esperar pelo pobre pai consumido por uma dúvida. Sabia o que as palavras significavam e aquele dicionário não o acalmaria. Suas maiores apreensões seriam: o que permitir, como permitir?

            Permita-se amar, amar aos outros como a si mesmo. Nenhuma existência é tão insignificante ao ponto de não ter algo a ensinar ou absurdamente grande para não precisar de nenhuma dessas filosofias. Permita-se doar…”não temos mais o tempo que passou, mas temos todo o tempo do mundo”, não é Russo? Permita-se errar, ou melhor, permita-se tentar. Arrependa-se depois, ou melhor, nem se arrependa. Permita-se voltar atrás se não der certo, mas faça valer a pena, faça dar certo. Esgote suas forças na batalha diária de ajudar o outro, de estar ao seu lado, porque não importa se farão o mesmo a você, tenho certeza que isso fará bem a você. Permita-se ser o(a) tolo(a) certas vezes e rir de si mesma, de preferência não sozinha. Um sorriso solitário não é um sorriso, mas uma mera gesticulação vazia. Aliás, nada sozinho tem graça. Permita-se dividir em 10,20, 30 pedaços, que seja, vá até seus limites e ao chegar lá, supere-os, vá mais além. Só quem pode dizer “chega” é você.

            Permita a paz e não a guerra. Permita o perdão e não a injustiça. Permita a experiência e não a dúvida. Permita o voto e não a corrupção. Permita o grito e não o silêncio. Permita-se! 

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Fazer como todo mundo faz

24/12/2008 at 15:13 (Evelin Araujo)

Evelin Araujo dos Santos

 

            Entrar às seis da manhã e sair meia noite, ganhar com isso um abono no salário. Pegar ônibus lotados pela manhã, ao lado de milhares que fazem o mesmo, para ganhar o mesmo. Pegar o abono e gastar com um presente para a filha, afinal, ela quer tanto a boneca da TV… Ao menos uma vez no ano darei este presente!

            Passar o dia todo ouvindo “Feliz Navidad”, vendo outros enfeites, um clima de Natal no ar. E o trabalho não muda, a vida não muda, mas o Natal está aí. Os clientes continuam a distribuir patadas, ignorar os mendigos, chutar os cachorros que tanto sofrem com os fogos de fim de ano. Mas é Natal, e algo muda.

            Muda o pobre décimo terceiro indo para a conta dos donos das lojas, enquanto seus filhos vão gastar na Europa e eles próprios curtem o recesso em alguma praia. Muda a campanha do deputado que, faturando com sua espelunquinha natalina, fará uma campanha melhor (o que significa “doar” mais gasolina aos eleitores), muda para os donos dos transportes coletivos, que não aumentam a quantidade de ônibus e faturam ainda mais nessa época. E para a maioria?

            A maioria sonha com as vitrines enfeitadas de neve, enquanto torram do lado de fora das lojas. A maioria quer gastar no shopping com uma calça cara, mas é mal atendia pelos mesmos que fazem parte da própria maioria. Sonham com o carro que lhes jogam água nas ruas. Adoram as receitas da Ana Maria Braga para o Natal, copiam e fazem enquanto ela compra tudo, prontinho.

Cena do filme "Bonequinha de Luxo", com Audrey Hepburn

Cena do filme "Bonequinha de Luxo", com Audrey Hepburn

            Continuamos a muito gastar, pouco poupar, pouco crescer. Gastar o décimo terceiro movimenta a economia, certo. Mas qual o motivo para ninguém avisar que gastá-lo com futilidades nos estaciona? Fazer como todo mundo faz é dar crédito aos grandes e diminuir cada vez mais os pequenos. Mudança de postura é o que falta. “Sou brasileiro e não desisto nunca”, mentira. Não há esforço, não há organização, não há empenho nos estudos. Há o de sempre, o comodismo que leva o alto escalão a curtir nas nossas custas.

            Desejo a todos calças velhas, comida boa e suficiente. Peru é prato quente, do Natal das regiões frias, do hemisfério norte que está no inverno. Mesa de frios a todos nós, reflexão e empenho. E que peguem ônibus os filhinhos de papai que só sabem beber e herdar, nós temos talento suficiente para chegar mais longe, se quisermos.

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O profissional de comunicação social e sua importância na sociedade atual

23/12/2008 at 03:18 (Fernando Vilela)

Por Fernando Vilela de Melo

 

A comunicação social pode-se muito bem definir como o processo de industrialização de conteúdo cultural para ser transmitido pelos meios de comunicação de massa. Tal área engloba o trabalho de diversos profissionais como jornalistas, cineastas, publicitários, entre outros.

Na sociedade atual, os meios mostram-se cada vez mais presentes na vida da população, influindo em sua maneira de pensar, agir e interpretar o que há a seu redor. Isso lhes dá grande poder na liberdade de escolha dos temas a serem abordados em seus produtos, conquanto que não quebrem as regras que os envolvem.

Junto ao aumento de sua importância, vem a evolução da tecnologia de que eles se utilizam para difusão e produção de seu conteúdo. Tudo dá, ao profissional de comunicação social, grandes oportunidades para a realização de seus projetos, exigindo apenas que ele disponha de prestígio e confiança perante seus superiores. Assim, poderá provar sua capacidade por meio da feitura de produtos que correspondam às expectativas e necessidades do público, o que só se saberá após sua divulgação e reação causada.

Então, deve-se dizer aqui que toda a programação midiática, agrade a todos ou não, é devida a idéias que brotaram nas mentes de muitos desses profissionais. É certo que nada se faz sozinho, precisa-se de mão-de-obra com as mais variadas formações, mas a essência desses produtos vem deles. Por isso e mais é que, apesar das possíveis críticas, todos devem sentir-se gratificados por seu trabalho.

Acrescentando algo ou tirando, não se pode fugir da já inquestionável máxima de que os meios modificam a realidade, assim como o fazem os de massa. Ainda deve-se dizer, para os críticos sem fundamento, que o que o comunicador social faz é, nada mais, nada menos que, pôr uma pitada de sal ou açúcar na mesmice de suas vidas.

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Janela da alma

22/12/2008 at 19:32 (Keyciane Pedrosa)

Prisão

E Proteção

Fuga

E perseguição

Flerte

E solidão

Mais Alta Masmorra

Fortaleza

E douçura

Nuvens negras

Ou céu límpido

Abrir e fechar as cortina

Encanto

E sedução

Balanço suave

Tempestade

De lágrimas

Tome um lenço

E Vejo nascer

Belo jardim

Íris e outras flores

Feixes de luz

E Esperança radiante

Sonhos

E Liberdade

Enfim

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Só no sapatinho

21/12/2008 at 14:15 (Eduardo Lyvio)

Eduardo Henrique Lyvio Filho

 

A história da sapatada (ou tentativa) no Bush deu uma bela alavancada na criatividade das pessoas. O nosso bom e velho presidente, Lula, disse: “Por favor, ninguém tire o sapato. Neste calor, se alguém tirar o sapato nós vamos saber na hora por causa do chulé”, durante a reunião dos líderes latino-americanos na cúpula da Bahia. O presidente cubano, Raúl Castro, também não perdeu a oportunidade de dar aquela bela caçoada no Tio Bush Sam. Eu não ouvi o que ele disse, mas deve ter sido hilário  – não é sempre que podemos ouvir o “brotherzinho” do Fidel tirando uma com a cara do George Walker.

Mas isso foi pouco perto do que vem por aí. Pasme: o cantor egípcio Shaaban Abdel Rahim (dizem que é famoso, mas eu nunca ouvi falar) compôs uma canção para o jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi – o que fez a maldade contra o “santo e injustiçado” Bush. Não é engraçado? Normalmente, os compositores fazem músicas para paixões secretas, amores incompreendidos, praias, botecos, prostíbulos, seja o que for. Mas homenagear a um jornalista dessa forma?  Eu, pelo menos, nunca vi. E se a moda pega? Mudariam a obra do seu Tom e do seu Moraes para: “Olha que coisa mais linda / Mais cheia de graça / É a Fatiminha / Que vem e que passa / Num doce balanço /  A caminho do mar”. Assim não dá, não é? Ego de jornalista já é inflado por si só, imagine com canções desse tipo no rádio. A situação ficaria incontrolável…

Vamos recapitular: fulano atirou um sapato em sicrano. Então, beltrano teve a brilhante idéia de fazer uma música para fulano. Achei confuso, mas tanto faz. Pensando bem, deve ser legal quando fazem uma canção para você. Inútil, mas é uma homenagem singela. Afinal, para que ter uma credibilidade irretocável, anos de experiência profissional ou um currículo de dar inveja a qualquer um? Basta que façam uma música para você, então, tudo se resolve.  Imagine a cena: você, um jornalista, ouvindo a sua música no rádio, a caminho do trabalho. Nada mais estimulante! Não importa se você tem trezentas matérias para cobrir em um único dia. Não importa se o seu editor é uma mala de quinhentas toneladas de chatice. Não importa se o seu filho lhe  atormenta o dia todo, por causa de um videogame (que custa três vezes o seu salário).        

Quando eu “crescer”, também quero atirar meus calçados em algum político famoso. Matarei dois coelhos em uma só sapatada: uma marca na cara do chefão da vez (eu acertarei, pois sou melhor de pontaria) e ainda levo uma música de brinde! Não sendo um “pagodinho”…

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